As carpideiras do servilismo
Valdemir Caldas (*)
Minha mais recente colaboração sobre a Assembléia Legislativa de Rondônia despertou a indignação de sectários do presidente daquela casa, como seria óbvio. Paciência, fazer o quê? Não ganho salário do governo para tecer loas ao presidente ou a quem quer seja. Deixo essa tarefa às carpideiras do servilismo.
No passado, as carpideiras eram mulheres que se vestiam de preto, contratadas para chorarem nos velórios. O livro de Jeremias fala sobre essa figura, uma espécie de profissional do luto.
Hoje, temos as carpideiras do servilismo. São pessoas patéticas, frustradas, que não lograram êxito em suas atividades e acabaram esquecidas num desses gabinetes da burocracia, a espera que lhes caiam nas mãos as migalhas dos banquetes oficiais, sem as quais jamais conseguiriam sobreviver.
Mal acostumadas a mamarem nas flácidas tetas do erário sem nada produzirem em proveito da sociedade, exceto o veneno letal da discórdia e da cizânia, as carpideiras do servilismo são capazes de quais sacrifícios, até mesmo de um gesto de honestidade, para se manterem no poder.
Ao comentar o meu artigo, houve quem se abespinhasse e saísse em defesa do mandato de seu chefe na presidência da ALE, dizendo que a permanência dele no cargo são favas contadas. E daí?
Há coisas em que a discussão sobre as causas de certo problema termina por se mostrar estéril em função de sua reconhecida ambiquidade, aliada à má vontade de se resolver à questão com a competência e a responsabilidade que ela demanda.
É o caso, por exemplo, do descrédito que ronda a Assembléia Legislativa de Rondônia, apesar de alguns insistirem na asneira de que o poder desfruta de respeito e credibilidade junto à opinião pública.
Tem-se visto, contudo, que a história não é bem assim. Não são poucos os que advogam a tese da desnecessidade da ALE, de que Rondônia estaria melhor sem ela, o que não deixa de ser algo preocupante.
Entretanto, mais preocupante ainda, é não se perceber nenhuma iniciativa mais vigorosa que se contraponha a essa idéia. O máximo que se tem ouvido são discursos inócuos e frases de efeito, mescladas com tintas de um falso moralismo oco e fofo.
A instituição que, no passado, abrigou personalidades de proa como Jacob de Freitas Atallah e Tomás Correia, por exemplo, e foi palco de debates acalorados, que prendiam a atenção da platéia, é vista hoje como um organismo amorfo, que não merece respeito por parte de parcela expressiva da sociedade, por motivos óbvios.
Um parlamento que se diz sério, transparente e comprometido com a ética, não manteria em seus quadros políticos acusados de malversarem o dinheiro público. Pelo contrário, já teria lhes mostrado a porta de saída.
Engana-se, redondamente, quem acredita que credibilidade se conquista com discursos vazios e frases de efeito. Melhor seria reconhecer que há problemas graves e que, para enfrentá-los, é preciso cortar na própria carne, mudar posturas e rejeitar acordos corporativistas.