Cerca de 70% das pessoas com epilepsia poderiam estar com crises controladas

O cenário da desinformação favorece a permanência de mitos na sociedade.

Publicada em 14/09/2012 às 15:02:00

Porto Velho, Rondônia - “Estima-se que aproximadamente três milhões de brasileiros (de 1% a 2% da população) tenham epilepsia, mas aproximadamente 70% deles poderiam estar com as crises controladas utilizando medicamentos de baixo custo”, disse o Doutor em Neurologia, médico Li Li Min, um dos palestrantes do curso Epilepsia Sob Nova Perspectiva, promovido pelo Ministério Público de Rondônia, por meio do Centro de Apoio Operacional da Saúde (CAOP-Saúde).

Durante o curso, que foi aberto na noite desta quinta-feira (13/9) e se estende até sábado (15/9), o médico falou sobre o significativo número de pessoas com a doença que não estão sendo submetidas ao tratamento adequado, situação atribuída, segundo ele, à resistência dos doentes em tomar medicação, o que em muitos casos pode ocorrer por uma negação à doença, por incorreção de diagnósticos ou por falta de conhecimento dos médicos sobre remédios disponíveis na rede pública de saúde.

O pesquisador informou que a Organização Mundial de Saúde preconiza o tratamento da epilepsia na rede básica pelo médico generalista. “Porém, o que tem sido observado é que muitas faculdades não abordam o tema já na formação do profissional. Assim, cria-se a ideia de que a doença é assunto apenas para a Neurologia, o que é um equívoco”, disse, acrescentando que no Brasil existem aproximadamente cinco mil neurologistas para três milhões de pessoas com epilepsia, número insuficiente para atender a demanda.

Professor associado da Unicamp, Li Li Min reiterou que o assunto pode ser apresentado aos acadêmicos ainda durante a faculdade em cadeiras como Medicina Primária ou Saúde Coletiva. Ele explicou que a inserção do tema epilepsia naquela universidade, por exemplo, tem apresentado bons resultados.

O cenário da desinformação favorece a permanência de mitos na sociedade, alertou o médico. Segundo ele, é comum profissionais de saúde informarem pacientes mulheres de que nunca poderão ter filhos em razão da epilepsia, entendimento que não tem respaldo científico.

Por outro lado, o pesquisador destacou que, de modo geral, a rede pública oferece medicação de baixo custo com regularidade e em número suficiente para atender a população doente. “Observamos que essa distribuição pode variar de acordo com a região. Nos lugares onde existe uma consciência sobre a doença, a distribuição é mais contínua. Porém, ainda existem cidades onde falta medicação e remédios são encontrados com prazo de validade vencido”, informou.

Abertura
O curso Epilepsia Sob Nova Perspectiva foi aberto pelo Procurador-Geral de Justiça, Héverton Alves de Aguiar, que ressaltou a preocupação do Ministério Público com o preconceito e a desinformação que têm afetado pessoas com a doença. “O Ministério Público é o guardião de todos os direitos da sociedade. É papel do MP defender os interesses dessa fatia da população, que tanto tem sofrido com o estigma da doença”, disse.

O chefe do MPRO destacou que o MP tem voltado os olhares para a causa das pessoas com epilepsia, já tendo, inclusive, institucionalizado o trabalho de conscientização da sociedade sobre a questão. “O Plano Geral de Atuação do Ministério Público prevê a execução de ações voltadas para a orientação e esclarecimento acerca da epilepsia”, disse.
A abertura da atividade também teve a presença da diretora do CAOP-Saúde, Promotora de Justiça Emília Oiye, do Procurador de Justiça Edmilson Fonseca, da Defensora Pública Rosário Novaes e da Professora Dra. Maria Carolina Doretto.

Programação
O curso tem continuidade nesta sexta-feira (14), das 8h às 12h e das 14h às 18h, com palestra para agentes comunitários de saúde. No sábado (15), das 8h às 12h, participarão da atividade bombeiros e policiais militares.