Conhecido como torturador do regime militar, João Lucena Leal conta detalhes da repressão, mas nega tortura

"José Genuíno entregou meio mundo. A comissão da verdade é uma balela. Chico Mendes era um escroque. Não tem preço para eu advogar para o Walter Araújo. É um escroque".

Publicada em 20 de January de 2014 às 06:34:00

 

 

 

Citado no livro ‘Brasil – Tortura Nunca Mais’, ex-delegado dá o troco: “tomada de poder em 1964 foi apoiada pela igreja e financiada pelos EUA” (Entrevista concedida a Carlos Araújo)

 

 

 

Por Carlos Araújo

 

Próximo de completar 40 anos (agora em março), o contragolpe de 1964, que derrubou o presidente João Goulart, ainda hoje dá o que falar, principalmente pelos inúmeros casos de torturas e de mortes e desaparecimentos registrados no período que perdurou de 1964 a 1985, com a posse do primeiro presidente civil em duas décadas.

 

Apesar de ter ficado conhecido como um golpe de estado orquestrado pelos militares, muitas são as versões sobre o que aconteceu realmente naquele período. Para falar um pouco sobre o assunto, a Entrevista da Semana do www.tudorondonia.com.br conversou com o advogado João Lucena Leal, um dos personagens que atuou diretamente na repressão, nos anos em que os militares estavam no poder e teve um de seus codinomes citado no livro ‘Brasil Tortura Nunca Mais’, prefaciado pelo então cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

 

Aos 74 anos, saúde debilitada e andando com apoio de uma muleta e ajuda de pessoas, João Lucena acredita que viverá por, no máximo, mais cinco anos. Como delegado da Polícia Federal que atuou na repressão à resistência, Lucena foi acusado de ter torturado até a morte uma mulher grávida, em Belém, no estado do Pará. Ele nega, mas admite que teve participação direta em várias operações militares e sustenta a tese de que não houve golpe de estado, mas uma tomada de poder apoiada pela igreja católica e financiada pelo governo dos Estados Unidos.

 

Na entrevista ao jornalista Carlos Araújo, o advogado revela que o contragolpe teve início em 1º de abril, mas historicamente foi datado em 31 de março para não coincidir com o Dia da Mentira. A exemplo dos militares brasileiros que são a favor do golpe, Lucena acredita que o que aconteceu não foi uma revolução, “Foi uma ou contrarrevolução, para contrapor-se à ditadura comunista que se queria implantar no Brasil, com apoio da União Soviética e de Cuba”, afirma Lucena, com ar de convicção.

 

Jango havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – na mesma eleição que conduziu Jânio da Silva Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN) à Presidência da República, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN).

 

O golpe estabeleceu um regime alinhado politicamente aos Estados Unidos e acarretou profundas modificações na organização política do país, assim como na vida econômica e social. Todos os cinco presidentes militares que se sucederam desde então se declararam herdeiros e continuadores da Revolução de 1964.

 

O regime militar durou até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral o primeiro presidente civil desde 1964.

 

Além de figurar como um dos supostos torturadores da época da ditadura militar, João Lucena aparece no cenário internacional como o advogado que defendeu nada mais nada menos que Darli Alves, o homem que assassinou o seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes.

 

Aos 74 anos, detestado pela esquerda e desprezado pela direita, João Lucena conta a versão de quem participou do golpe de estado que marcou a história recente do país e do estado de Rondônia.

 

Confira a seguir a entrevista:

 

Tudorondonia – Como o senhor Ingressou na Polícia Federal?

 

João Lucena – Eu era da estrutura anterior, DRPB, Departamento Regional de Polícia de Brasília, no início da cidade de Brasília. Com a posse do presidente Jânio Quadros, em 1961, foi transferido o DFSP (Departamento Federal de Segurança Pública) para Brasília. Em 1964 foi editada a lei 4.483/64, que criou o Departamento de Polícia Federal, DPF, com estrutura Nacional. Nos estados foi criado o Serviço Federal para combater o contrabando e a sonegação de imposto, ainda no governo Jânio Quadros.

 

Tudorondonia – O senhor ingressou como agente, como escrivão?

 

João Lucena – Com a criação Departamento de Polícia Federal, foi aproveitada a estrutura anterior e eu era dessa estrutura. Quando houve a revolução, em 1964. Revolução, não, tomada de poder porque não houve revolução no Brasil.

 

Tudorondonia – Pelos militares?

 

João Lucena – Não foi militar, não. Vocês estão muito enganados. Quem tomou o poder foi o governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, e o governador da Bahia, Juraci Magalhães.

 

Tudorondonia – Mas tudo com apoio dos militares?

 

João Lucena – Nada. Foi a igreja. Vocês não sabem da história. A igreja começou a andar nas avenidas com o terço na mão e teve a TFP, Tradição Família e Propriedade. Quem tomou o poder foi a igreja católica.

 

Tudorondonia – Essa é uma informação interessante

 

João Lucena – É...

 

Tudorondonia – Quando iniciou seu trabalho como agente efetivo de combate e repressão aos agentes de esquerda?

 

João Lucena – Quando os militares assumiram, e a igreja disse que a corrupção estava desenfreada e que os militares não podiam deixar o comunismo tomar conta do Brasil, com apoio dos cabeças da igreja católica, D. Helder Câmara, D. Paulo Evaristo Arns, Aloísio Losheider.

 

Tudorondonia – E quando iniciou seu trabalho?

 

João Lucena – Em 1967 eu estava lotado no Ceará, na Delegacia Regional do DFSP. Na época não havia ainda o conceito de terrorismo pela tomada de poder. Nos movimentos de rua tomaram parte Tarcisio Leitão, José Genoino, João de Paulo, Moema Correa Santiago, que era filha do dono do Cartório Moraes Correa, em Fortaleza. Foi aí que a igreja católica alertou os militares para agir e não deixar o comunismo tomar conta. Mas os padres progressistas começaram a rebelar-se contra os bispos e arcebispos católicos mais antigos. Havia um bispo no Crato (CE) que recebia dinheiro dos EUA, no programa Aliança Para o Progresso, implantado pelo presidente John Kennedy. Essa aliança mandava trigo para os pobres e dizem, vinha armamento nos fardos de farinha de trigo. Além disso, o bispo não distribuía o trigo para os pobres. Ele vendia. Começaram a surgir denúncias contra ele e de roubo dentro da igreja. Foi ai que os militares começaram a investigar e a combater os padres e bispos de esquerda, que se diziam progressistas. Pegaram D. Helder Câmara no Recife e o taxaram de comunista.

 

Tudorondonia – Vamos prosseguir?

 

João Lucena – Foi aí que Dom Helder Câmara começou a viajar pelo Nordeste. Ele foi ao Crato, Iguatu, Petrolina e começou a reunir em torno de si a intelectualidade, que na época era rasteira, não era como hoje. Então a oficialidade – capitães e tenentes – começou a fomentar nos quartéis a luta contra o comunismo. No jornal Folha de São Paulo, em uma entrevista que eu dei há um mês, eu disse: vocês diziam que havia comunismo, mas não era. Veja o exemplo de Leonel Brizola, ele não pregava o comunismo. Ele pregava a socialização do povo. Ele era deputado federal pelo Rio de Janeiro e viajava pelo Brasil pregando a socialização do povo. Então os militares começaram a persegui-lo.

 

Tudorondonia – A revolução estourou em 31 de março de 1964?

 

João Lucena – Que nada. A revolução ou tomada de poder, ocorreu em 1º de abril. Os militares adotaram o 31 de março para fugir da data do 1º de abril, que é o Dia da Mentira.

 

Tudorondonia – Como isso ocorreu?

 

João Lucena – Fizeram um assalto em Maranguape (CE), chefiado por João de Albuquerque Montes Neto.

 

Tudorondonia – O Comandante Marcos participou desse assalto?

 

João Lucena – Não. O comandante Marcos (José Sales de Oliveira) era especializado em assaltar agiotas. Ele matou o empresário José Armando Fernandes Ximenes, em um assalto na serra da Ibiapaba. Ele foi o único condenado a pena de morte. Depois foi indultado para prisão perpétua. Depois foi anistiado pelos militares.

 

Tudorondonia – O senhor ficou conhecido nacionalmente por ter atuado na repressão, nos anos em que os militares estavam no poder. Inclusive o seu nome figura no livro Brasil Tortura Nunca Mais, prefaciado por Dom Paulo Evaristo Arns. Mas eu não vi o seu nome no livro.

 

João Lucena – Está o meu codinome.

 

Tudorondonia – Como o senhor se sente? É uma fama para o senhor? O Senhor tem orgulho disso?

 

João Lucena – Eu prestei serviço à pátria. Isso não é motivo de orgulho. Quem prestou serviço naquele tempo hoje vive assombrado. É o caso do major Sebastião Curió. Mas eu não ando com um canivete. Quem vai querer me matar....? Porque os terroristas daquele tempo, assaltantes de banco, hoje estão assaltando dinheiro público. Veja o caso do Sebrae, estão assaltando dinheiro público.



Tudorondonia – Como o senhor recebe essa acusação da esquerda de que é um torturador?

 

João Lucena – Eu acho bom. Eu nunca torturei ninguém. Não aparece nenhum vagabundo que diga que foi torturado por mim. Nem como delegado de polícia aqui em Rondônia. Eu prendi, mas não torturei. E eu comandei aqui a Operação Caça Pistoleiro, em 1981.

 

Tudorondonia – E verdade que o senhor torturou até a morte uma moça grávida, em Belém?

 

João Lucena – Quando eu trabalhei em Belém, era 1962, 1963 e 1964. Não tinha havido ainda a tomada de poder.

 

Tudorondonia – Como foi sua relação com o Comandante Marcos, o José Sales de Oliveira, o último preso político a ser libertado no Brasil, que morreu aqui em Rondônia?

 

João Lucena – Eu me encontrei com ele aqui em Rondônia, inclusive, eu fui candidato a deputado federal, em 1986, e ele foi candidato a deputado estadual na minha chapa.

 

Tudorondonia – Quando o senhor o prendeu, lá no Ceará?

 

João Lucena – No dia 30 de dezembro de 1971.

 

Tudorondonia – A partir dessa prisão ele foi encarcerado, ou foi logo libertado?

 

João Lucena – Não. Ele ficou encarcerado. Só foi solto para vir para Rondônia.

 

Tudorondonia – Ele lhe procurou logo, como foi?

 

João Lucena – Eu o encontrei no gabinete do governador, coronel Jorge Teixeira.

 

Tudorondonia – Qual foi a reação dele? Ele ficou assustado quando lhe viu?

 

João Lucena – Não. Ele era muito frio.

 

Tudorondonia – O senhor participou da captura do capitão Lamarca?

 

João Lucena – Participei da operação. Quem prendeu o Lamarca foi o coronel Newton Cerqueira.

 

Tudorondonia – Nessas diligências em que o senhor tomou parte como agente federal e delegado de polícia civil, o senhor matou alguém?

 

João Lucena – Nunca matei ninguém. Tenho minha alma entregue a Deus.

 

Tudorondonia – O senhor sente algum remorso?

 

João Lucena – Não tenho remorso de nada. Foi um serviço prestado à pátria.

 

Tudorondonia – O senhor chefiou a operação Caça Pistoleiro e a operação Garimpo, nos anos 80, aqui em Rondônia. A operação Caça Pistoleiro foi uma imposição do governo federal para criar o estado de Rondônia. O senhor pode falar um pouco sobre essas operações? Primeiro sobre a operação caça pistoleiro, como se deu essa operação?

 

João Lucena – Essa operação era para prender os marginais de outros estados que vinham para Rondônia.

 

Tudorondonia – Tinha realmente muito pistoleiro?

 

João Lucena – Só de uma cacetada, eu prendi setenta pistoleiros.

 

Tudorondonia – Como delegado, o senhor desvendou o crime que resultou na morte do advogado Agenor de Carvalho? Como o senhor conseguiu desvendar e quais as conseqüências desse crime?

 

João Lucena – Esse crime ensejou a operação caça pistoleiro.  Mataram o doutor Agenor de Carvalho na Rua Julio de Castilhos, 540, esquina com a Rua Duque de Caxias, perto da 17ª. Brigada. Eu comecei a investigar os grandes daqui, eram seringalistas como José Milton Rios, Walmar Meira, que era fazendeiro na área de Ji-Paraná, e os donos da Colonizadora Calama, que tinha como advogado o doutor José de Abreu Bianco.

 

Tudorondonia – O Walmar era dono da Calama Colonizadora?

 

João Lucena – Não. Ele era dono de um seringal, de 280 mil hectares, onde hoje é o município de Urupá. Fui eu que mandei cortar em lotes e distribuir a posseiros. Fiz isso também em Nova Londrina, que atualmente é distrito de Ji-Paraná. Depois o governo fez a regularização fundiária

 

Tudorondonia – Como o senhor conheceu o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, primeiro governador do estado?

 

João Lucena – Eu participei com ele da Operação Xambioá (Guerrilha do Araguaia).

 

Tudorondonia – Quem hoje está no poder que participou a Operação Xambioá?

 

João Lucena – José Genoino (ex-deputado federal atualmente condenado pelo Supremo Tribunal Federal a seis anos de cadeia pelo seu envolvimento no mensalão, cumprindo a pena em prisão domiciliar).

 

Tudorondonia – O senhor prendeu José Genoíno em Xambioá? Ele realmente entregou os companheiros?

 

João Lucena – Ele entregou meio mundo. Entregou o Oswaldão, que era o comandante da operação. O Oswaldão era um ex-tenente R/2 do Exército, que fugiu com armamento, do mesmo jeito que fez o Lamarca.

 

Tudorondonia – O senhor poderia falar sobre a chacina do Palmeiral, aqui no rio Madeira, na época do Garimpo?

 

João Lucena – Não era do meu tempo. Eu já era advogado. Não estava mais militando como delegado.

 

Tudorondonia – O senhor teve envolvimento na morte do Assis, aquele comprador de ouro, em 1982?

 

João Lucena – Não. Eu estava em campanha para deputado federal.

 

Tudorondonia – Por que o senhor saiu da polícia?

 

João Lucena – Eu me afastei para fazer minha campanha para deputado federal.

 

Tudorondonia – Dizem que, naquela eleição, o senhor dormiu eleito e acordou derrotado. É verdade?

 

João Lucena – Eu dei entrevista como deputado federal e acordei primeiro suplente.

 

Tudorondonia – O senhor acha que houve manobra?

 

João Lucena – Sim. Dois juízes, em Ji-Paraná, elegeram o Assis
Canuto, a pedido da Eucatur.

 

Tudorondonia – Como foi sua passagem na política de Rondônia? Chegou a assumir mandato de deputado federal?

 

João Lucena – Assumi em 1985, no lugar do Chiquilito Erse, quando ele disputou a prefeitura de Porto Velho.

 

Tudorondonia – O senhor disputou outras eleições?

 

João Lucena – Em 1986 fui candidato a deputado federal constituinte. Em 1990 fui candidato a deputado estadual.

 

Tudorondonia – O senhor serviu ao governador Jorge Teixeira na área de segurança pública. Como era o combate ao crime, naquela época, e como é hoje, na sua visão de advogado? O senhor acha que a polícia trabalha com o mesmo afinco ou faz corpo mole?

 

João Lucena – A polícia hoje está tolhida de exercer sua atividade como manda a lei porque existe a deputância, cheia de deputados safados. O legislativo daqui é cheio de deputado safado, pouquíssimos escapam. O Poder Judiciário tem de cumprir o que a lei determina.

 

Tudorondonia – O senhor acha que o Ministério Público ajuda a tolher o trabalho da polícia?  

 

João Lucena – Não. O MP contribui para a aplicação da lei.

 

Tudorondonia – Dizem que de cada cem inquéritos, apenas quatro chegam a fase de denúncia e desses, apenas dois vão a julgamento. O senhor acredita que isso contribui para esse clima de insegurança?

 

João Lucena – Sim.

 

Tudorondonia – O Brasil inteiro lhe conhece.  O senhor foi convocado pela comissão da verdade, que o Governo da presidente Dilma (PT) instalou?

 

João Lucena – Me convocaram, mas eu não fui.

 

Tudorondonia – Por que o senhor não foi?  

 

João Lucena – A Comissão da Verdade é uma balela.

 

Tudorondonia – Qual era o seu codinome no livro “Brasil - Tortura Nunca Mais”?

 

João Lucena – Eu não me lembro.

 

Tudorondonia – Mas o senhor está relacionado nesse livro?  

 

João Lucena – Estou.

 

Tudorondonia – Isso lhe deixou alguma mágoa?

 

João Lucena – Não. Eu cumpri o meu dever.

 

Tudorondonia – O senhor sente medo de alguma coisa?

 

João Lucena – Não tenho medo de nada.

 

Tudorondonia – O senhor se considera, ou já se considerou um homem violento?

 

João Lucena – Não. Eu era duro. Mas não violento. Minhas ações foram em função do meu ofício. Nunca bati num homem algemado. Acho que quem bate em um homem algemado é um cachorro.

 

Tudorondonia – O senhor prendeu o comandante Marcos (José Sales de Oliveira) em 1971. E, em 1979 ele lhe encontrou em Rondônia. Temos informação de que o senhor o ajudou, inclusive financeiramente, e, no final da vida ele se tornou seu admirador. O senhor acha que ele foi acometido pela Síndrome de Estocolmo, quando o torturado se afeiçoa ao torturador?  

 

João Lucena – Eu não sei. Eu sou formado em psicologia, mas naquele tempo eu não tinha essa formação. O José Sales era um cara muito frio, de pouca conversa. Na sua morte, eu carreguei o caixão dele. Ele era um homem leal, honesto.

 

Tudorondonia – Entre os casos em que o senhor atuou como advogado, figura a defesa do Darli Alves, acusado de matar o Chico Mendes. Como foi defender um homem acusado de matar uma figura romanceada internacionalmente.  

 

João Lucena – Chico Mendes era um escroque.

 

Tudorondonia – Mas, para a opinião pública internacional, ele é endeusado. Isso tornou mais difícil a defesa do Darli Alves?

 

João Lucena – Tinha 180 repórteres do mundo inteiro em Xapuri. O Darli Alves entrou no Tribunal do Júri já condenado. Nem Jesus Cristo defendia Darli. Ele estava consciente disso. Quando ele fugiu e foi recapturado, eu disse que ele esperasse que a lei lhe daria oportunidade. Ele foi condenado a dezenove anos de prisão. Hoje ele mora em Xapuri.

 

Tudorondonia – O senhor contribuiu com a fuga dele?  

 

João Lucena – Não. Quem contribuiu foi o Hildebrando Pascoal.

 

Tudorondonia – O senhor acha que o Hildebrando Pascoal foi injustiçado ou está pagando pelo que fez?  

 

João Lucena – Não. Ele está pagando pelo que fez. Ele matou muita gente no Acre.

 

Tudorondonia – Aos setenta e quatro anos, hoje o senhor advoga só por dinheiro ou faz também o social?

 

João Lucena – Eu faço mais o social do que por dinheiro. Mas se for um grande traficante, eu cobro caro. Mas depende do caso. Por exemplo: não tem preço para eu advogar para o Walter Araújo. É um escroque.

 

Tudorondonia – O senhor pretende escrever um livro?

 

João Lucena – Já está escrito. Vou publicar e distribuir gratuitamente.

 

Tudorondonia – Eu queria duas mensagens do senhor, já que o senhor foi da segurança pública e hoje atua como advogado.

 

João Lucena – Ao meu filho, que é advogado, eu orientei para ser advogado, agir com ética.

 

Tudorondonia – E para os agentes da segurança pública, qual sua mensagem?

 

João Lucena – Cumprir o que a lei determina. Criar bem a família.

 

Tudorondonia – Agradeço pela entrevista.

 

João Lucena – Eu estou à disposição.