Demissão de servidor público estável está na pauta da CCJ

Dois dos receios apresentados sustentam que a iniciativa poderia dar margem a exonerações arbitrárias e em massa e também comprometer a independência do servidor público no exercício de sua missão institucional, “sujeitando-o a caprichos e a desmandos dos agentes políticos”.

Agência Senado 
Publicada em 11 de setembro de 2017 às 13:01
Demissão de servidor público estável está na pauta da CCJ

Relator, senador Lasier Martins (PSD-RS) apresentou substitutivo estabelecendo avaliação de desempenho com periodicidade anual e feita por uma comissão específica
Marcos Oliveira/Agência Senado

A demissão de servidor público estável por insuficiência de desempenho está na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A medida é regulada em projeto de lei (PLS 116/2017 – Complementar) da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-RN). O texto tem voto favorável do relator, senador Lasier Martins (PSD-RS), na forma de um substitutivo. A CCJ tem reunião agendada para a quarta-feira (13), às 10h.

Pelo texto a ser votado, as regras para a punição máxima ao servidor concursado e estável deverão ser seguidas não somente pela administração pública federal, mas também nos âmbitos estadual, distrital e municipal. Parâmetro para a eventual demissão, o desempenho funcional dos servidores deverá ser apurado anualmente por uma comissão avaliadora, garantindo-se o direito ao contraditório e à ampla defesa.

A proposta original estabelece uma avaliação de desempenho a cada seis meses, delegando ao chefe imediato do servidor o poder de executá-la. Lasier resolveu ampliar esse prazo por julgar um semestre “lapso temporal muito curto para a avaliação”. O relator também justificou, no parecer, a decisão de transferir a responsabilidade pela avaliação de desempenho do chefe imediato para uma comissão.

“Nem sempre o chefe imediato será um servidor estável, podendo ser um servidor comissionado sem vínculo efetivo. Além disso, concordando com parte das preocupações das entidades representativas dos servidores [expostas em debate na CCJ], não consideramos adequado deixar exclusivamente a cargo da chefia imediata uma avaliação da qual poderá resultar a exoneração do servidor estável, pois isso comporta o risco de que uma decisão de tamanha gravidade seja determinada por simpatias ou antipatias no ambiente de trabalho”, ponderou Lasier.

Fatores de avaliação

De acordo com o substitutivo, a apuração do desempenho do funcionalismo deverá ser feita entre 1º de maio de um ano e 30 de abril do ano seguinte. Produtividade e qualidade serão os fatores fixos de avaliação, associados a outros cinco fatores variáveis, escolhidos em função das principais atividades exercidas pelo servidor nesse período. Inovação, responsabilidade, capacidade de iniciativa, foco no usuário/cidadão são alguns dos fatores variáveis a serem observados.

Enquanto os fatores de avaliação fixos vão contribuir com até metade da nota final apurada, os variáveis deverão corresponder, cada um, a até 10%. As notas serão dadas em uma faixa de zero a dez. E serão responsáveis pela conceituação do desempenho funcional, dentro da seguinte escala: superação (S), igual ou superior a oito pontos; atendimento (A), igual ou superior a cinco e inferior a oito pontos; atendimento parcial (P), igual ou superior a três pontos e inferior a cinco pontos; não atendimento (N), inferior a três pontos.

Processo para a demissão

A possibilidade de demissão estará configurada, segundo o substitutivo, quando o servidor público estável obtiver conceito N (não atendimento) nas duas últimas avaliações ou não alcançar o conceito P (atendimento parcial) na média tirada nas cinco últimas avaliações. Quem discordar do conceito atribuído ao seu desempenho funcional poderá pedir reconsideração ao setor de recursos humanos dentro de dez dias de sua divulgação. A resposta deverá ser dada também no prazo de dez dias.

Caberá recurso da decisão que negar, total ou parcialmente, o pedido de reconsideração. Mas essa a possibilidade só será aberta ao servidor a quem tenha sido atribuído conceito P ou N. O órgão de recursos humanos terá 15 dias, prorrogáveis por igual período, para decidir sobre o recurso.

Esgotadas todas essas etapas, o servidor estável ameaçado de demissão ainda terá prazo de 15 dias para apresentar suas alegações finais à autoridade máxima da instituição onde trabalha. O substitutivo deixa claro também que a insuficiência de desempenho relacionada a problemas de saúde e psicossociais poderá dar causa à demissão. Mas só se a falta de colaboração do servidor no cumprimento das ações de melhoria de seu desempenho não decorrer exclusivamente dessas circunstâncias.

Carreiras de Estado

No texto original, o PLS 116/2017 — Complementar estabelece um processo de avaliação de desempenho diferenciado para servidores de carreiras exclusivas de Estado, como policiais, procuradores de órgãos de representação judicial, defensores públicos e auditores tributários. A intenção, de acordo com a autora, é permitir a essas categorias recorrer à autoridade máxima de controle de seu órgão caso haja indeferimento total ou parcial de recurso contestando o resultado da avaliação. A exoneração de tais servidores por insuficiência de desempenho também dependeria, pelo texto, de processo administrativo disciplinar específico.

No substitutivo do relator, a especificação dessas carreiras foi suprimida. Lasier justificou a mudança alegando ser inconstitucional um projeto de lei de iniciativa parlamentar fazer essa definição em relação a servidores de outros Poderes. Na reformulação desse dispositivo, ficou estipulado o seguinte: a exoneração por insuficiência de desempenho de servidores vinculados a atividades exclusivas de Estado dependerá de processo específico, conduzido segundo os ritos do processo administrativo disciplinar.

Eficiência para toda vida

Ao defender as medidas contidas em sua proposta, Maria do Carmo afirma que seu objetivo não é prejudicar os "servidores públicos dedicados, que honram cotidianamente os vencimentos que percebem e são imprescindíveis para o cumprimento das atribuições estatais".

“Temos que ter em vista que, quando não há a perda do cargo de um agente público negligente, sérias consequências derivam dessa omissão. A sociedade se sente lesada, porquanto desembolsa pesados tributos para o correto funcionamento da máquina pública que, por sua vez, não lhe retorna o investimento em bens e serviços. Além disso, a mensagem passada aos servidores responsáveis e que prestam bem o seu papel é de que não vale a pena o esforço, pois aquele funcionário que não trabalha e sobrecarrega os demais jamais será punido”, argumentou a autora do PLS 116/2017 – Complementar.

Lasier concordou com Maria do Carmo sobre a necessidade “premente” de regulamentação do processo de avaliação de desempenho do servidor público. Mesmo considerando a estabilidade não somente um direito, mas também uma garantia de que a atividade estatal será exercida com maior impessoalidade e profissionalismo, o relator na CCJ observou que esse instituto “não pode ser uma franquia para a adoção de posturas negligentes ou desidiosas pelo servidor”.

“O dever de eficiência e o comprometimento com as instituições há de ser para toda a vida funcional. Por isso mesmo, a perda do cargo pelo servidor que não apresente desempenho satisfatório se justifica moral e juridicamente”, afirmou Lasier.

Receios dos servidores

A polêmica em torno do PLS 116/2017 – Complementar motivou a Comissão de Justiça a promover audiência pública sobre o assunto. Na ocasião, representantes de entidades ligadas ao funcionalismo público manifestaram-se contra a aprovação da proposta. Dois dos receios apresentados sustentam que a iniciativa poderia dar margem a exonerações arbitrárias e em massa e também comprometer a independência do servidor público no exercício de sua missão institucional, “sujeitando-o a caprichos e a desmandos dos agentes políticos”.

O relator reagiu às reservas da categoria, classificando de “infundado” o temor de que a avaliação de desempenho “tenha propósitos persecutórios ou suprima a independência do servidor”. Os ajustes feitos pelo substitutivo no texto original, diz ele, também afastam riscos como esses.

Se o PLS 116/2017- Complementar se tornar lei, seus comandos começam a valer de imediato. O primeiro período de avaliação só será iniciado, entretanto, no dia 1º de maio do ano seguinte ao começo da vigência da norma.

Depois de passar pela CCJ, a proposta seguirá para o Plenário do Senado.

Winz

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Comentários

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    Janderson 12/09/2017

    A melhor medida a ser tomada é reduzir o Congresso e o Senado, pois lá também tem vários corruptos e bandidos disfarçados.

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    Joao roberto 12/09/2017

    Quero dizer simplesmente uma coisa , vejam so nos idos de 70 eu estudei em uma escola que tinha curso tecnico de contabilidade era uma escola privada e o chique era estudar no estadual pois de la do estadual sempre saia mais alunos aprovados o vestibular e hj no publico e um fracasso , e ainda vem estes comentarios maldosos e os senhores politicos querendo acabar com resto da coisa publica cabando com a estabilidade etc.

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    eduardo 12/09/2017

    se aprovado deverá valer somente aos novos concursos, pois os que ja entraram a Lei nao pode prejudicar direito adquirido.

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    Elvira 11/09/2017

    Deveriam usar esses critérios para os mal políticos também.

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    paulo ricardo 11/09/2017

    Sr. Fernando, Existem bons e maus funcionários tanto na iniciativa privada como no serviço público, portanto vc não pode generalizar, sou servidor público e tenho o maior orgulho, pq ralei(estudei)muito para conseguir ser aprovado, este seu comentário é bem tipico de alguem recalcado, q pelo jeito não consegue passar em concurso, por falta de estudo ou por falta de competencia mesmo.

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    Professor 11/09/2017

    SR Fernando, é espantosa essa sua comparação com os baianos. Dá a impressão que o senhor ao se referir a eles assim, quer dizer que são preguiçosos, uma alusão de que funcionário público não trabalha ou é preguiçoso. Saiba que muitas vezes o trabalho de um servidor público não pode ser bem feito, como consequência do que é trabalhar num órgão público: como exemplo nas delegacias , hospitais, escolas na questão aparelhamento apropriado, porque nesse sentido o que é público sempre funciona mal, não pela ação do funcionário público, mas pelo que órgão tem para a oferecer.

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    paulo barbosa 11/09/2017

    estranho primeiro veio a terceirização do serviço publico depois a reforma trabalhista tirando direitos e agora o golpe final naqueles que realmente estudam e se esforçam para passar num concurso por sua conta e risco sem os famosos padrinhos : parabéns aos leitores dos tucanos e do democrata a antiga arena esta de volta acabando num futuro próximo com os concursos públicos e empregando somente seus cabos eleitorais

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    Christian 11/09/2017

    Fernando lamento sua frustração por não saber marcar X Y ou Z. Nem todos tem capacidade intelectual pra passar num concurso público. Comece a estudar ontem e quem sabe no dia do juízo final você consiga passar num concurso público. 

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    Fernado 11/09/2017

    Até que fim alguém se posicionará a respeito disto, funcionalismo publico no Brasil é igual a rede de baiano, é só deitar e relaxar, conhece inúmeras pessoas que foram um fracasso na vida pessoal e foram reincidentemente descartados da iniciativa privada por ser ineficientes porém foram bons no "X,Y e Z" ( prova de concurso publico) e hoje são "excelentes" funcionários públicos. Todos temos que "matar um leão por dia" para sobreviver, nada mais justo que os funcionário públicos atenderem esta regra também, vão ver como a maquina publica passará a funcionar

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    sinval Teodoro 11/09/2017

    Não sou contra punir o mal funcionário com medidas sumária, mas temos que ver como vai ser esses critérios, pois no serviço publicos tem umas manias de perseguição, as vezes as pessoas são punidas de forma injusta.

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