Em Linhas Gerais: Cassação de Confúcio é duro golpe na sofisticada rede que colocou Rondônia no noticiário nacional

Gessi Taborda

Publicada em 06 de March de 2015 às 13:22:00

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CASSAÇÃO CONFIRMADA
Pelo menos aquela parte da imprensa mais comprometida com os reais interesses da população deve sair nesta sexta-feira anunciando em manchetes a histórica cassação de Confúcio Moura e seu vice, Daniel Pereira, do governo rondoniense. Essa é a primeira vez que o Tribunal Regional Eleitoral rondoniense decide pela cassação de um governador do estado. A sentença anunciada ontem é decorrente do julgamento de uma ação dos tucanos, partido pelo qual concorreu Expedito Júnior. Com essa decisão, o presidente do PSDB rondoniense deverá ser chamado para ocupar o governo do estado, mesmo não tendo vencido no segundo turno.

ESPERADA

A coluna, como registrou várias vezes e especialmente nas publicadas nessa semana, sempre acreditou nessa decisão independente da Justiça rondoniense, especialmente em função das provas acostadas aos autos, colhidas pelo jornalista Gomes de Oliveira, da Folha Rondoniense.

É uma pena que nem todos jornais produzirão manchetes altissonantes nessa sexta-feira sobre a decisão judicial. Ficarão, quando mundo, com os meros registros burocráticos, desconhecendo o papel desempenhado pelos colunistas e mídia alternativa nesse desfecho trágico para Confúcio e seu grupo.

SÓ FINGIMENTO

Essa sentença judicial deve provocar um alívio no batalha em prol da recuperação de uma política mais ética e republicana no estado, ajudando especialmente na desarticulação de todas as artimanhas mafiosas que estavam colocando a gestão pública rondoniense na crônica policial em rede nacional. Quem se imaginou, até agora, fora dos tentáculos da Justiça e do imenso inquérito que roteiriza, no âmbito do STJ, a organização criminosa comandada – segundo esse mesmo inquérito – pela autoridade máxima rondoniense tem, a partir de hoje, motivos para colocar de verdade as “barbas de molho”.

Para o colunista, a cassação aprovada pelo Judiciário é motivo de decepção. Lá se foi toda aquela imagem que tive de Confúcio enquanto o mesmo foi um parlamentar respeitável na Câmara dos Deputados. Não é nada alegre ver o político respeitável de então transformado hoje num vilão, jogando sua história passada de paladino da moral e da ética no ralo das ambições de um processo fruto da indecência de quem achou que podia tudo sem medo das consequências da lei.

SEMELHANÇAS

O jovem estado rondoniense tem sofrido muito pela má qualidade de vários personagens de sua política, sequiosos por poder e riqueza a ponto de sacrificar todos os códigos éticos em nome do acúmulo de bens.

Confúcio está no mesmo caminho de outros “poderosos” do passado recente. Gente como os foragidos Natanel Silva e Mário Calixto, ou como outros vivendo no xilindró (irmão Valter) ou dele se aproximando. E agora, com essa sentença, lá vai o filósofo de Ariquemes para a mais dramática transformação, em mais um “santo do pau oco”.

EMPÁFIA

Há entre esses personagens soturnos da política local a mesma empáfia de se imaginar acima de qualquer julgamento, de qualquer obrigação legal.

Provavelmente Confúcio e seus asseclas  não imaginavam  ver a boca-livre patrocinada no dia da convenção de seu lançamento como candidato, documentada e publicada num simples site de jornalismo eletrônico. Ora, o regabofe ilegal foi promovido abertamente, com todo tipo de gente testemunhando a ilegalidade. Não havia como apagar os arquivos eletrônicos e nem tentar escamotear a verdade simplesmente com o argumento de que tais provas foram produzidas por um humilde jornalista do mundo virtual.

NINGUÉM SE ENGANE

Até o fechamento dessa coluna no dia de ontem ninguém – nem do governo e ou de seus aliados – produziu qualquer tipo de explicação sobre a cassação e seus possíveis desfechos.

Falou-se sobre o recurso a ser interposto no Tribunal Superior Eleitoral. Isso é uma consequência natural, é do direito. Mas ninguém se engane achando que esse recurso haverá de garantir a reforma da decisão do Tribunal rondoniense.
Confúcio merece a punição exemplar, principalmente por ter mantido como verdade em seu currículo por tanto tempo o enredo de paladino da ética e da seriedade, que tanto lhe serviu para ganhar dois mandatos de governador de Rondônia.

ATRATIVO MENOR

Ainda ontem advogados que defendem os interesses do PSDB e de Expedito Júnior afirmavam  estar pronto para pedir na justiça a imediata posse do ex-senador tucano para o lugar de Confúcio.

Mas nem imaginem que a decisão cobria de felicidades do clã de Expedito. Uma fonte ligada ao jovem político não escondia existir, nesse momento, um certo descontentamento no ninho tucano, como se assumir o governo nessas circunstâncias fosse “algo com um atrativo menor”.

IMAGEM

Para Expedito, a cassação de Confúcio não melhora a imagem da classe política rondoniense e muito menos a do governo. É certo que a fachada hipócrita de governo comprometido com os valores democráticos e da ética foi definitivamente por terra. Mais do que os motivos levados em consideração para a Justiça decidir pela cassação de Confúcio, é preciso que as investigações sobre a colocação de seu mandato político (na primeira gestão de governador) a serviço do crime organizado sejam concluídas.

ALERTA

Esse desfecho trágico da primeira cassação de mandato de um governador rondoniense pela Justiça deve servir de alerta para outros chefes políticos que, quando assumem cargos de proeminência, acabam procurando esconder seus próprios rabos, muitas vezes com fantasias moralistas que não se sustentam.

PARLAMENTO

Os novos deputados rondonienses não demonstraram ainda interesse em modificar a ação do legislativo estadual. Os esforços continuam pontuais. Esse assunto da cassação, por exemplo, não motivou sequer um pronunciamento de peso no plenário da casa.

Ninguém demonstrou interesse no assunto. Preferiram como sempre os temas pontuais e de menor polêmica doméstica. Em sua maioria procurando ficar do lado que a vaca deita. E assim a coluna chegou a vaticinar que não haveria instalação de CPI nenhuma na Casa, muito menos para investigar Detran e DER.

Agora é esperar para ver como será o comportamento dos deputados na próxima semana. Tudo o que os deputados demonstraram era o desejo de abafar esse episódio que só teve fôlego na mídia independente. A tarefa ficou com a Justiça que decidiu a favor do interesse do estado e das provas contidas no processo.