Em LInhas Gerais: Ultimamente, tudo parece uma farsa, tudo parece sem sentido

Gessi Taborda

Publicada em 06 de October de 2015 às 16:57:00

 

NOCAUTEADO
Acabo de chegar de mais uma consulta médica. Fui colocado em repouso pelo médico oftalmologista para tratar uma forte infecção nos olhos, que terei de tratar dois colírios e compressas de gelo. Realmente é difícil escrever com essa deficiência visual. Mesmo assim decidi fazer a coluna num intervalo forçado desse repouso que devo manter após essas mal traçadas. 
 
DESABAFO INTELECTUAL
Silvio Persivo é nome respeitado nos círculos dos intelectuais rondoniense. É mais do que economista e professor universitário. É escritor e poeta de rara sensibilidade. É mais uma personagem da intelectualidade desmotivado e decepcionado com os rumos que a cidade, agora com 101 anos de vida, tomou. Ai está a Porto Velho sofrendo mais uma paralisação no serviço de transporte, dois dias após comemorar o aniversário.
Exatamente pela importância de Persivo na construção do pensamento intelectual de Porto Velho, a coluna decide transcrever o seu desabafo, na esperança de que mais esse depoimento de desencanto com o acanalhamento da atividade política rondoniense possa levar as pessoas que pensam a discutir os rumos da capital e do estado.
 
PERSIVO CONSTATA: VIROU FARSA
Sempre gostei da vida. Gostava muito da vida em Porto Velho. E Porto Velho já foi uma cidade pacata, uma cidade onde a vida se arrastava e o trânsito fluía e, é verdade, sempre foi quente e empoeirada. Porém, era um calor diferente, um calor calorento, mas, amável. Era um calor, digamos divino. O calor atual não é de deus. Não dá para viver e aceitar. Não é um calor digno, é um calor sem humanidade. E este parece ser o tom da vida ultimamente. Tudo parece farsa, tudo parece sem sentido.
 
LABIRINTO
E o poeta continua: As coisas parecem não se encaixar por mais que nos esforcemos, por mais que busquemos saídas, parece que entramos num labirinto onde o próximo túnel parece ter um desafio maior, como se as pecinhas da vida tivessem se desenfileirado, que as engrenagens estejam rodando ao contrário. Sinto que está tudo muito estranho, que as pessoas não estão bem com a vida, que estão achando tudo tão ruim, tão esquisito e triste, que, de repente, me pego pensando no passado, voltando ao passado, a troco de nada, só para me sentir bem, lembrar que houve um tempo em que tudo era melhor. 
Claro que me sinto mais velho, e os anos contribuem para ter uma perspectiva pior, que continuo sem dinheiro (isto, porém, é a novela de uma vida inteira da maior parte dos brasileiros), engordei, perdi cabelos, perdi pessoas queridas, amei e deixei de amar, me afastei de quem não devia me afastar, fui bom com quem não devia ser ou ruim com quem devia amar, enfim, cometi as tolices que todos nós fazemos, de vez que sou, igual a todo mundo, uma besta que toma decisões sem pensar muito e depois não tem mais como chorar o leite derramado.
 
NÃO ENCAIXA MAIS
Mas, a questão, embora seja comigo também, não é só comigo. Nós estamos precisando de alguma coisa que mude a nossa perspectiva e, me parece, muito esquisito que tudo esteja tão mau. E ainda mais com tanta dor, suor e calor. E ainda é mais esquisito por ser primavera, uma época de renascer, recomeçar, das florzinhas de ipê florindo, dos passarinhos nos galhinhos no sol. Mas, não tem jeito. A vida não está se encaixando direitinho e no noticiário só sei de roubos, de políticos mafiosos, de assalto aos cofres públicos e crimes. E tenho uma saudade danada de um dia mais claro, um céu mais azul, bem azul, daqueles que cantam na marcha (Azul, nosso céu é mais azul) que virou nosso hino. E penso otimista: amanhã será outro dia. (O desabafo de Persivo se identifica com o desabafo de todos. Sua postagem no facebook, na manhã de segunda feira, recebeu centenas de apoio).
 
BRASIL BIZARRO
Dizem que o poder é melhor afrodisíaco, por isso as pessoas topam qualquer parada para não sair do bem bom dos melhores cargos e das melhores posições.
É por isso que vivemos esses fatos bizarros como os de agora. O PT ganhou a eleições, a Presidente Dilma é do partido, mas quem dá as cartas hoje no governo é o PMDB, que tomou o governo de assalto, na base do "quanto pior a crise, melhor". O PMDB vai administrar um orçamento maior que o PT. O ministério da Saúde é o segundo maior orçamento, só perde para a Previdência, e tem 1.913 cargos de confiança, só a Presidência da República, com todas as secretarias, e a Fazenda têm mais.
 
SÓ NEGÓCIOS
A preocupação dos especialistas é que o Ministério da Saúde vire um balcão de negócios políticos do PMDB e prejudique o funcionamento de programas como o Saúde da Família, uma vez que os gestores serão trocados. Aliás, deputados do PMDB já fazem listas para dividir os cargos nos estados. Aliás, alguém acredita que o PMDB vai melhorar a Saúde?
 
PRESTIDIGITAÇÃO
Quem imaginava uma possível punição a Dilma em virtude das pedaladas pode tirar o cavalo da chuva. O Brasil parece que não muda. E nossos políticos mantém firme aquele pensamento de que fora do poder não há salvação. Mesmo que o TCU decida reprovar as contas de Dilma, o Congresso logo se reunirá para apreciar a decisão do tribunal. Isso aconteceria que o julgamento das contas pelo Congresso fosse comandado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O STF já decidiu que cabe ao presidente do Congresso, Renan Calheiros, e não ao presidente da Câmara comandar o processo. O acerto entre o governo e o PMDB incluiu como contrapartida aos sete ministérios, que Renan segure ao máximo o julgamento no Congresso. A ideia é que Renan sente em cima da decisão do TCU e demore para colocar em tramitação.
 
A BRIGA É AGORA
A partir de hoje começa a briga de foices pelos cargos de confiança. Três mil cargos serão extintos e começarão as trocas, que vão tirar muitos petistas para em seus lugares entrarem indicações de deputados do PMDB. Os deputados do PMDB já brigam pelos cargos federais nos seus estados. Será uma semana de governo paralisado enquanto são feitas as trocas e a nova estrutura é implementada.
Rondônia não ficará fora dessa guerra que deverá desalojar os petistas ainda premiados com cargos muito bem pagos. Nomes até então imaginados como fora da vida pública veem nesse momento o renascer de esperanças de conseguir novas e importantes posições nessas negociações com o PMDB.
 
DEMISSÕES
Há um temor rondando o time do andar de cima da gestão Confúcio, após a vitória no STE, com a reconquista do diploma de governador eleito. Agora o todo poderoso chefe do governo rondoniense sente-se a vontade para tomar decisões contra “os infiéis do governo”. O recado veio pelo blog confuciano, focando a ojeriza de Confúcio contra “ordenadores de despesa” que, na visão do filosófico comandante, promoviam o tal fogo amigo. Ainda tem gente acreditando que Confúcio não terá coragem de colocar na rua quem tem cartas nas mangas contra o governador e sua família. Mas outros imaginam como certa as demissões, meio claro de demonstrar que daqui prá frente o titular do cargo retomou, de fato, o exercício do poder. E nessa nova onda, o vice Daniel – que já sonhava articular para chegar ao cargo de Conselheiro no TCE – deve perder o protagonismo que exercia livremente enquanto Confúcio estava acuado.