Entrevista da Semana: Amorim diz que criminalidade aumenta porque Confúcio usa a polícia para perseguir adversários

Amorim diz que apoiou Confúcio por ser de Ariquemes, mas ele abandonou a cidade

Publicada em 05 de January de 2014 às 15:12:00

Por Carlos Araújo


Amorim com a filha advogada, Elma Amorim, e o filho Ernan, prefeito de Cujubim

A Entrevista da Semana de Tudo Rondônia  traz um personagem controvertido da política rondoniense, o baiano de Itagibá, Ernandes Santos Amorim, um homem polêmico que, apesar de ser bacharel em Educação Física, sempre esteve envolvido na política, defendendo interesses de pessoas politicamente inexpressivas, como os garimpeiros.

Mesmo tendo sido prefeito do município de Ariquemes em dois mandatos não consecutivos e galgado os cargos de deputado estadual, deputado federal e senador, Ernandes Amorim, a exemplo de alguns outros políticos rondonienses, acabou tendo os direitos políticos cassados por suposto envolvimento em corrupção  

Não faz muito tempo, a 3ª Vara da Justiça Federal aceitou denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) em Rondônia contra o ex-senador e quatro ex-servidores públicos federais da Superintendência Federal de Agricultura (SFA), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A denúncia foi oferecida em razão de suposto esquema criminoso descoberto pelo MPF e Polícia Federal durante a Operação Abate.

O MPF denunciou Ernandes Amorim pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso, supressão de documentos e formação de quadrilha ou bando. Contudo, segundo ele, tudo não passou de uma grande jogada política para prejudicá-lo. O ex-senador alega que “alguns” servidores do Ministério Público agem unicamente com o propósito de incriminá-lo fazendo acusações infundadas. A denúncia sobre o caso foi feita à ministra Eliana Calmon, quando ela esteve em visita a Porto Velho, e à Corregedoria Nacional do MP.

Ernandes Amorim, não é aliado político do atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado, José Hermínio Coelho, mas tem o mesmo posicionamento que o parlamentar quando o assunto é o governador Confúcio Moura. “Ele (Confúcio Moura) é vingativo e usa ações policias como as que ocorrem corriqueiramente em Rondônia, para combater inimigos políticos, usando a Polícia Civil em investigações de interesse puramente partidário”, acentua.


Para amoirm, enquanto aumenta a criminalidade, o Governo usa a polícia para perseguir adversários políticos
Apesar de sua trajetória política ter sido sempre por Rondônia, Ernandes Santos Amorim é natural de Itagibá, na Bahia, nascido no dia 22 de outubro de 1946. Com as dificuldades inerentes a quem advém de família humilde, trabalhando de empregado doméstico, ele conseguiu concluir o segundo grau e, pela Universidade Católica de Salvador, formou-se bacharel em Educação Física.

Filho de Francisco Pereira Amorim e Lindaura Rodrigues dos Santos, ele migrou para Rondônia em 1975. Aqui submeteu-se a concurso público para subdelegado de polícia e, no ano seguinte, assumiu o cargo, tendo atuado por pouco tempo na região de Ariquemes e imediações. Optando pela vida política, filiou-se ao PMDB sendo eleito suplente de deputado estadual em 1982 e deputado estadual em 1986. Transferiu a filiação partidária para o PDT, sendo eleito prefeito de Ariquemes em 1988 e senador em 1994, o que não impediu sua mudança para o PPB anos mais tarde, partido pelo qual viria a disputar e perder as eleições para governador em 1998. Recuperou-se no ano 2000 ao retornar à prefeitura de Ariquemes sendo eleito presidente da Associação dos Municípios de Rondônia. Seu mandato, porém, foi abreviado graças à sua decisão de renunciar e disputar novamente o governo do estado pelo PRTB em 2002 quando colheu nova derrota. Em 2006 foi eleito deputado federal pelo PTB.

Nessas idas e vindas, também mudou o domicílio eleitoral para Porto Velho, onde disputou a eleição para prefeito, no ano de 1992.

Ernandes Amorim é autor do PL 2589 que pede a revisão da cassação dos políticos que perderam o mandato em conseqüência do caso do mensalão, que ainda está em andamento no Supremo Tribunal Federal.

Confira a seguir a entrevista:


Tudorondônia: Quem é Ernandes Amorim?

Amorim: Sou de família de lavradores, nasci na roça, em Itagiba/BA, trabalhei até os 12 anos na área rural, até que um patrão de meu pai me levou para ser empregado doméstico em Salvador, lá trabalhava durante o dia e estudava a noite. Um fato curioso é que uma das filhas desse meu patrão casou inclusive com o atual ministro dos Transportes Cesar Borges, que foi governador da Bahia e que, no período, eu era senador e tive o prazer de recebê-lo em meu gabinete em Brasília e contar essa história a ele. Estudei a noite e, mesmo com as dificuldades, consegui finalizar o nível médio. Ingressei na Universidade Católica de Salvador, onde me formei em educação física e, em seguida, vim para Rondônia, isso no final do ano de 1975.

Tudorondônia: Veio para trabalhar com Educação Física ou tinha outros interesses?

Amorim: Quando cheguei aqui (em Rondônia) estava havendo concurso para subdelegado de polícia, me submeti ao certame e, em junho de 1976, cheguei já aprovado. Assumi as funções aqui em Ariquemes e região, e tive a frente da delegacia, mas por pouco tempo.

Tudorondônia: O que o tirou da vida policial?

Amorim: Fui contemplado com uma parcela de terra no chamado “Projeto Burareiro”, e como não podia exercer as duas funções, por exigência do INCRA, eu optei pela agricultura, vindo a trabalhar inicialmente com plantio de cacau.

Tudorondônia: Como entrou na vida política?

Amorim: Envolvi-me bastante com a agricultura e, logo depois, dando aula no colégio Ricardo Catanhede, em Ariquemes, tive a oportunidade de debater e me envolver nas questões políticas do estado e do município.


Mesmo estando inelegível, Amorim não perde o ortimismo e acha que pode disputar as eleições desse ano
Tudorondônia: O que realmente motivou sua vinda para Rondônia?

Amorim: Espírito aventureiro. Naquela época era publicado o Almanaque Abril Cultural, que trazia notícias sobre economia, agricultura e potencialidades dos estados e eu não deixava de ler aquele livro e, na faculdade, tinha um professor que falava sobre os imperadores romanos, mas exatamente sobre César e Marco Antônio. César, com todo o poder de mando que tinha, queria se livrar de Marco Antonio, então o mandou para frente de combate, para se livrar dele, mas Marco Antonio ganhou a guerra e foi chamado de volta. César disse que achava melhor ser o primeiro na vila do que o ultimo na cidade, essa frase me marcou. Se eu tivesse ficado em Salvador não chegaria aonde cheguei.

Tudorondônia: O senhor é um dos homens que mais lutou pela liberação do garimpo manual de cassiterita, quando resolveu partir para a questão da mineração?

Amorim: Foi em 1980 e o que mais marcou foi a abertura do maior garimpo de Rondônia, o Bom Futuro, em 1988.

Tudorondônia: Mas lá a garimpagem, nessa época, não acontecia ainda, ou já?

Amorim: No início não. Ninguém sabia que ali tinha minério. Eu ouvi a conversa de dois toureiros (motoristas que transportam toras de madeira) e, ao chegar lá (no garimpo), vi que já tinha uma empresa do Pará trabalhando ali, com pistoleiros bem posicionados para que ninguém entrasse no local. Eu era deputado estadual e, então, fui ao governador Jerônimo Santana, isso em 1986, e ele (Jerônimo Santana) me colocou a disposição um delegado (o doutor Tarrafa - hoje Promotor de Justiça) e alguns policiais. Foi feita uma operação e a polícia apreendeu armas e prendeu os pistoleiros. A partir daí tomamos conta do garimpo.

Tudorondônia: Mas parece que não foi tão simples assim, houve uma briga judicial e intervenção da Polícia Federal?

Amorim: Realmente, foi uma luta árdua na Justiça, mas insistimos a tal ponto que passamos a, praticamente, dominar a área e mostramos a ilegalidade da exploração exclusiva pela empresa paraense. Anos depois, no governo Bianco, conseguimos trazer 1.500 garimpeiros a capital, cercamos o palácio do governo, em protesto, e conseguimos discutir a questão. Com aval do governador Bianco nos mantivemos lá dentro, isso já em 1991.

Tudorondônia: Que importância teve a abertura do garimpo Bom Futuro aos garimpeiros de Ariquemes?

Amorim: Ariquemes se desenvolveu economicamente. Claro, também houve problemas sérios com a malária, aumento da violência, problema de saúde, porque todos os problemas do garimpo vinham para Ariquemes. Nessa época criei em Ariquemes um hospital só para atender casos de malária e um só para crianças.

Tudorondônia: Dinheiro de garimpo realmente é maldito, não sobra nada?

Amorim: O dinheiro é maldito em todo lugar, principalmente no Brasil, mas, no caso do garimpo, quem soube empreender se deu bem. Hoje são empresários, gente que trabalhou e que ganhou dinheiro no garimpo tem empresas, filhos formados, construíram prédios. Foram “enes” pessoas que ganharam dinheiro no garimpo. Em nenhum outro lugar ganhei dinheiro trabalhando como o que ganhei trabalhando no garimpo. Ajudei as pessoas a ter o direito de trabalhar, foi do garimpo que tirei muito do dinheiro usado em minhas campanhas.

Tudorondônia: Chegaram a dizer que Ernandes Amorim era bandido, esse comentário é devido a quê?

Amorim: Houve esse boato sim, tive inclusive acesso a uma reportagem do Osmar Silva, que, numa entrevista, quando falaram de mim ele disse que eu era o maior bandido de Ariquemes, o que me deixou muito chateado. Houve um episódio que dei até uma surra nele dentro de estúdio, numa rádio, quebrei um microfone na cara dele e tudo mais, coisa que hoje eu não faria. Desafio quem venha aqui provar que eu sou bandido. Depois daquela surra, achei que ele (Osmar Silva) tinha tomado jeito de gente, mas ele voltou a me chamar de bandido, fiquei chateado, mas, enfim.


Como senador, Amorim diz que denunciou tramóias no BNDES
Tudorondônia: Vamos voltar um pouco no tempo para falar de sua iniciação na política. Você foi eleito pela primeira vez quando e a qual cargo?

Amorim: Minha carreira política, efetivamente, teve início em 1982, quando fui eleito primeiro suplente de deputado estadual pelo PMDB. Depois me reelegi pelo PMDB, em 1986, e, em 1988, fui eleito pela primeira vez prefeito de Ariquemes. Em 1992 perdi a eleição para prefeito de Porto Velho e, em 1994, fui candidato a senador. Me elegi para um mandato de oito anos, e, em 2002, saí para prefeito de Ariquemes e me elegi. Em 2004 fui eleito deputado federal, cumpri o mandato e, na eleição seguinte, pensei em ser candidato a deputado estadual (em 2008), mas fui prejudicado devido a questão da Lei da Ficha Limpa, quando o ministro Levandowski dizia que quem tivesse processo não teria os votos computados, mesmo assim fui diplomado primeiro suplente pelo PMDB.

Tudorondônia: Quando concorreu ao governo passou para um partido menor, o que houve?

Amorim: Em 2002 saí para disputar o governo. Nessa época eu tinha o PP na mão, estava em 2º lugar nas pesquisas, mas perdi o partido para o Natanael. Fiquei sem partido, mas como estava discutindo candidatura ao governo, procurei o PRTB. O partido só tinha 27 segundos de mídia na TV enquanto o Ivo Cassol tinha 12 minutos, então ele deslanchou.

Tudorondônia: Qual foi o saldo da disputa pela prefeitura de Porto Velho, considerada, à época, por muitos analistas como uma aventura?

Amorim: Sim, em 1992, tive a candidatura bem aceita, conquistei bastante voto. Aquela ‘aventura’ me preparou para disputar níveis maiores. Disputei o governo e depois o senado.

Tudorondônia: Mesmo não podendo disputar a eleição, o senhor conseguiu eleger sua filha a prefeitura de Ariquemes, como aconteceu isso?

Amorim: Na verdade, consegui eleger minha filha quando saí a prefeito, ela saiu como vice-prefeita. Em 2002, quando saí para deputado federal, ela assumiu a prefeitura e se reelegeu na eleição seguinte. Na véspera da eleição me prenderam, em 2004, para tomar a candidatura da minha filha, mas não funcionou.

Tudorondônia: Acha que foi uma operação meramente política?

Amorim: Foi uma ação preparada, armada para derrotar a mim e meu pessoal. Para forçar Daniela a perder, porque ela estava na frente nas intenções de voto. Foram denuncias plantadas, fizeram duas pessoas analfabetas assinarem documentos e ficou tudo na base do disse me disse. Eu registrei minha candidatura inclusive como vereador, mesmo sendo deputado federal, para apoiar a Daniela. No mesmo tempo que fiz esse pedido o Ministério Público entrou com 16 novas ações contra mim, o que acabou me prejudicando. Eu não devo nada e o MP junto com representante da Polícia Federal, que fez auditoria aqui (em Ariquemes), armaram essa denuncia que resultou na minha prisão.

Tudorondônia: Quer dizer que o senhor ficou preso mais de 80 dias sem nenhuma acusação formal?

Amorim: Passei 83 dias preso, sem nenhuma acusação formal, a não ser por uma espingarda quebrada que foi apreendida na minha casa, em cima de um armário. A arma era de um trabalhador, e meu advogado falhou, porque não fez a defesa corretamente. Então me prejudicou de diversas maneiras, política e fisicamente, com danos a minha saúde. A maioria dessas ações está arquivada, outras eu respondo por conta de deficiência de advogado, por perda de prazo e um emaranhado de acusações,

Tudorondônia: O senhor nunca chegou a ser condenado?

Amorim: Teve uma condenação absurda, de quando eu nem era mais prefeito. Tudo por causa de um erro ortográfico. Num processo, onde deveria haver “uma porta”, por erro ortográfico, estava “dez portas”. O dinheiro havia sido devolvido, mas criou-se um processo extenso, com envolvimento de quase 30 pessoas da prefeitura e houve condenação, pedindo inclusive o ressarcimento do valor (quase R$ 16 mil), mas eu não tinha que devolver nada, eu não era mais o prefeito.

Tudorondônia: Pelo que o senhor fala são, então, ações com único objetivo de prejudicar sua carreira política?

Amorim: Lamento que a Justiça, mesmo junto com algumas decisões do MP, não tenha uma apuração mais purificada. Posso também estar pagando por algo que fiz, porque, quando era deputado federal, apresentei projeto para punir membros do MP que fizessem denúncias contra o cidadão sem provas, denúncias que não fossem verdadeiras. A proposta era para que esses agentes públicos respondessem jurídica e criminalmente. Lembro que, numa entrevista do ex-presidente do TJ Sebastião Teixeira, eu pude ver o alcance de tudo aquilo, do absurdo que eram as denúncias que levaram a prisão do desembargador. É abuso de poder. Para se prender uma autoridade dessas tem que ter provas cabais. Aquilo tudo foi um absurdo, foi o mesmo que passei aqui em Ariquemes.

Tudorondônia: O senhor se acha perseguido pelo Ministério Público?

Amorim: Fiz uma representação quando veio aqui o Conselho Nacional do MP. Agora aguardo uma tomada de providencias, porque na verdade eu sou vitima de alguns representantes do MP. Acho que os poderes têm que se impor entre eles para merecer o respeito devido e que a atuação de cada cidadão que responde por qualquer função publica deve ser isenta de paixão e de política. O servidor público deve primar pela verdade.

Tudorondônia: O que o senhor acha que deve acontecer para que as coisas mudem?

Amorim: Essas operações desmoralizam muita gente de bem, é um assunto que precisa ser reestudado para acabar com essas operações fantasiosas. Veja meu caso: 4 horas da manhã a polícia e a imprensa nacional estavam na minha casa, foi aquele estardalhaço sobre a minha prisão, logo eu que sempre fui um parlamentar que debateu assuntos polêmicos. Eu sofri. Como deputado federal, denunciei o BNDES. Se apuradas as denuncias que eu fiz, seria um escândalo maior do que o problema do mensalão, mas como vem muita coisa de cima para baixo, e eu denunciei e ninguém apurou, já era o governo Lula, eu fiz todas as denúncias contra o desperdício, contra algumas empresas que ficaram milionárias. Se fizer auditoria no BNDES vão ver que é um banco quebrado, hoje são vários cartéis que tem no Brasil que usa o dinheiro do povo brasileiro através desse Banco.


Aos 67 anos, Amorim ainda alimenta o sonho de voltar a se eleger
Tudorondônia: Vamos falar um pouco mais sobre o garimpo. É verdade que o senhor criou a primeira cooperativa de garimpeiros da Amazônia?

Amorim: Criamos várias cooperativas. Eu ajudava na regularização delas. Meu amigo jornalista Pedro Paulo me auxiliou bastante em Brasília, onde eu participei da Comissão de Minas e Energia e não deixei aprovar o projeto de exploração mineral em reservas indígenas, porque eles fizeram um projeto que só em 200 anos alguém conseguiria uma autorização de lavra em reserva indígena. Eu não deixei o deputado Eduardo Valverde, que era o relator, colocar em votação, porque só prejudicava a área mineral no Brasil.

Tudorondônia:  Parece que o senhor se envolveu também na questão de Serra Pelada, ou não?

Amorim: Sim, criei a comissão em Brasília para apurar a questão do ouro de Serra Pelada. Nomeamos o atual ministro das minas e energias, Edison Lobão, como presidente e eu era o relator. Fomos a Serra Pelada e verificamos que o miolo do garimpo, cerca de 100 hectares, já era tomado pela Vale do Rio Doce e conseguimos retomar o direito de exploração aos nossos irmãos da cooperativa. Hoje, está na mídia. Eles negociam com uma empresa maior, tendo em vista que a cooperativa não tem aparato tecnológico para explorar mais o ouro da região.

Tudorondônia: Como deputado e senador, o senhor chegou a tratar da questão do garimpo na área dos Cinta Larga, em Roosevelt?

Amorim: Dei varias sugestões, até o cancelamento do alvará das empresas sul africanas e de outros países, que têm direito de exploração na região. Achávamos que deveria ser uma exploração organizada, acompanhada por organismos federais, mas que a população garimpeira pudesse explorar as riquezas, mas não fizeram. Fui contra a venda da Vale do Rio Doce, vendida por uma mixaria, no primeiro ano a empresa se pagou. A Vale é dona de grandes áreas de exploração principalmente na região Norte. O Brasil só tem perdido dinheiro, perdendo a Petrobras por causa da má administração, perdendo o BNDES que ta quebrando, a Caixa e os Correios por má administração e, daqui a pouco, é a usina de Itaipu, que vem sendo sugada por políticos. Tem muita gente desonesta na administração dessas empresas, o que tem quebrado o Brasil economicamente, porque o Brasil não tem um sistema que freia esse desvio do dinheiro público. Tem muita gente grande solta sem ser punida.

Tudorondônia: Por falar em garimpo, nos vem uma pergunta que não quer calar. O senhor se considera um homem rico?

Amorim: Não, não trabalho para ser rico. Minha paixão é a política. Sempre fui oposição, trabalho por paixão. Sempre combati os desvios e essa maneira errônea de governar. Quero o comprometimento dos poderes. Hoje não tem mais a independência dos poderes, isso é a maior demagogia. Os poderes vivem na dependência financeira e se submetem a muita coisa. Isso tem que mudar.

Tudorondônia: Qual é a solução?

Amorim: Embora tenha chegado o final do militarismo, acho que o Brasil precisa voltar ao militarismo, com muito mais bom senso, ou eleger um Joaquim Barbosa, para retornar aos trilhos, para dar um choque de poder, de independência, de quem comanda, moral todo mundo diz que tem, mas falta o choque de comando.

Tudorondônia:: Do que vive hoje o ex-senador Ernandes Amorim?

Amorim: Trabalhando, prestando serviço, vendendo e fazendo assessoria.

Tudorondônia: Ernandes Amorim já foi liderança imbatível em Ariquemes, ainda é assim, dono do mesmo carisma?

Amorim: Tive uns períodos áureos, por exemplo, quando o Lula foi eleito a primeira vez. Em quase toda região Norte, ele só ganhou aqui. Sempre meus candidatos ganharam aqui, mas a difamação, a calúnia e a elite podre, que não admitia que um cidadão tivesse a liderança que eu tive, costuraram em voz alta um clima para me derrubar e, mesmo depois de preso, me elegi deputado federal e elegi minha filha deputada estadual. Fui o único que votei contra a ficha limpa, porque é uma demagogia. A maioria dos parlamentares são fichas sujas, 1% é ficha limpa, mas não eu, porque trabalhador não tem ficha suja.

Quando o ministro Levandowski disse que não contaria os votos de quem tivesse processo, aquilo marcou, estimulou muita gente a sair na rua pedindo voto, e depois o supremo me dá o direito de ter sido candidato, mas a eleição já tinha passado. Hoje estou de cabeça erguida, não tenho rabo preso com ninguém, nunca fiz nada de errado e trabalhei direito e sou elegível.  Embora tenha condenação de inelegibilidade, sou elegível, pois os artigos em que me enquadraram foram postos sem a devida análise.

Tudorondônia: O senhor se considera um homem violento?

Amorim: Eu nunca gostei de coisa errada. Cheguei aqui jovem e não admito que façam de mim bagaço, como uns representantes do MP tentam fazer. Quando a ministra Eliana Calmon esteve aqui eu estive no plenário do Tribunal de Justiça, em Porto Velho, quando estavam reunidos membros da Justiça, presidentes de tribunais e promotores, e fiz essa denuncia à ministra Eliana Calmon e ela disse que eu deveria denunciar na corregedoria nacional do MP, Quando o MP se manifestou eu me apresentei, fiz o comunicado e deixei documento para que tomassem providencia que espero ainda hoje. O MP não tem direito de mandar prender ou processar sem ter a devida razão, porque, em caso de dúvida, a Justiça julga pró réu. Então isso tem que ser reconhecido, porque eu não vejo diferença entre promotor e político. Acho que todos têm que primar pela honestidade e legalidade. Sou vítima de alguns representantes do MP que me prejudicaram. Para eles, o que for referente a minha pessoa é só pau.

Tudorondônia: Então o senhor se sente uma vítima do Ministério Público?

Amorim: Não é fácil uma pessoa ser execrada sendo inocente, sem apuração nem comprovação de nada. Isso tem que mudar, tem gente que não aguenta essa exposição, tem o caso, por exemplo, do senador Beto Ribeiro que acabou morrendo, do ex-senador Ronaldo Aragão que também morreu, tem a empresária da Daslu que passou por esse estardalhaço todo com mídia e que acabou morrendo. Não se pode sair por aí prendendo inocentes. Vai jogar um pai de família no meio de indivíduos perigosos.

Tudorondônia:  Qual a sua opinião sobre o sistema carcerário atual?

Amorim: Sempre defendi cadeia especial para criminosos perigosos e apoiei a criação dos presídios federais. Acho que tem muita coisa a ser corrigida, vão atropelando fazendo e acontecendo. Aqui o pessoal quer patrolar direitos, só no Brasil existe isso.

Tudorondônia: O senhor se considera inimigo do governador Confúcio Moura?

Amorim: Não, só tenho dó do povo de Rondônia. No segundo turno dei voto ao Confúcio, achei que ele, morando na grande região de Ariquemes, fosse trabalhar pela cidade, mas ele é muito perseguidor e vingativo.

Tudorondônia: O senhor acha que teve dedo dele naquela operação em que o senhor foi preso?

Amorim: Eu não sei, mas sei que na noite anterior ele e a cúpula do partido (PMDB) estiveram reunidos em Cacoal. Confúcio teria dito que, em Ariquemes, no outro dia, a política iria mudar. Fui preso no dia seguinte. Uma pessoa ouviu isso e me disse, foi uma prisão política. A ‘Operação Mamoré’ não tinha nada a ver com Ariquemes, era problema na ALE, do narcotráfico em Guajará e na prefeitura de Porto Velho, mas foi desviada para me atingir. Entrei com dois documentos no Ministério da Justiça pedindo explicações, porque essa mudança de objetivo, para mim, é crime de responsabilidade, mas ainda não obtive resposta. Eu quero saber por que a operação, que tinha objetivos pré-determinados, com recursos alocados para aquele fim, foi desviada para mim. Tenho certeza que foi para atender interesse político do PMDB. Sei que quem se opõe ao Confúcio como adversário político, acaba preso.

Tudorondônia: O deputado Hermínio Coelho, presidente da Assembleia Legislativa também já disse isso, que foi prejudicado pelo Confúcio, que fez operação policial política para prender ele e mais recentemente foi feita uma operação em Ji-paraná, onde nascia a candidatura do Bianco?

Amorim: Ele tem o costume de fazer isso. Não tenho amizade com Hermínio, nem aproximação, mas tenho acompanhado as notícias. É pena que os poderes competentes não tomem as devidas providencias. O Poder Judiciário poderia ter afastado os deputados por 30 dias ou 180 dias como afastou, aqui em Ariquemes, um vereador por 180 dias. Se prendeu um ex-presidente da ALE, afastou por 30 dias um ex-presidente da ALE, poderia ter afastado todos os políticos envolvidos naquelas operações. Afasta, faz-se uma investigação das denúncias e apura essas tudo. O que está faltando é esse desligamento dos Poderes. Essas operações tão virando moda e o governador tem usado a polícia para investigar prefeito e prender, sendo que as prefeituras contam com Tribunal de Contas do Estado e da União, a Câmara do município para investigar. Não tem porque a Polícia Civil fazer isso, uma vez que já há tanto a fazer em RO, como combater a criminalidade e dar segurança a sociedade. A missão da PC está sendo desvirtuada para atender interesses políticos.

Tudorondônia: Há um paradoxo, porque o senhor reclama de alguns membros do MP, diz que sofre operação, que foi perseguição política, mas elogia o ministro Joaquim Barbosa, que foi, digamos, o timoneiro para o desfecho do Mensalão. E os condenados dizem que ele é um perseguidor. O senhor acha que o ministro Joaquim Barbosa fez um bom trabalho na relatoria do Mensalão?

Amorim: O bom dele é o pulso, Ele foi muito reclamado por representantes políticos que foram presos. Tem muita gente que pegou pouco dinheiro e que está pagando porque quem pegou muito. Quando falo do Joaquim Barbosa, me refiro ao pulso, quando me refiro ao militar, falo do pulso, do cumprimento do dever. Tivemos alguns militares que tiveram certa habilidade. O João Figueiredo, por exemplo, até abriu para a democracia. Mas hoje a democracia ta “melada”. O único erro do poder militar foi se exceder. Hoje, se um militar de pulso assumir o poder vai ditar as ordens. O Teixeirão é exemplo dessa boa gestão. Da para ver a diferença do governo dele para os governadores de hoje.

O país precisa de um presidente que não faça acordos partidários, que não misture os poderes, que ponha funcionários de carreira para comandar os órgãos.

Tudorondônia:  O senhor já tem candidato para apoiar ao governo na próxima eleição?

Amorim: Não. Na eleição passada apoiei o Expedito Júnior, mas hoje ainda não tenho candidato. Ainda estou decidindo, de repente surge um nome diferente e ele vira governador, então não quero me precipitar.

Tudorondônia: Seu filho, Ernan Amorim, é prefeito em Cujubim e tem sido alvo de muitas denúncias. O senhor acha que isso tem relação com o fato dele ser parente seu ou ele realmente tem cometido erros?

Amorim: Em nenhum momento ele foi afastado da prefeitura, alguns secretários sim, mas meu filho faz parte de um processo político, ele foi eleito com nosso apoio, eu perdi mandado de deputado federal e Daniela de estadual, mas ele manteve o dele. O governador do Estado, que inclusive foi apoiado por ele, é que deu as costas ao município, deixando a cidade sem recurso. Cercada por reservas ambientais, Cujubim tem sido impedida de se desenvolver. Todo município pequeno, hoje, devido a má distribuição do recurso, em nível nacional, tem sofrido. O que é uma política errônea, já que se arrecada nos municípios e manda para Brasília para ser distribuída a bel prazer do governo federal. Isso prejudica. Esse dinheiro deveria ficar no caixa do Estado. Tem ainda o problema da questão política, que existe entre o legislativo e o executivo, no plano federal e estadual, e essa sujeira chega aos municípios. Em Cujubim, no ano passado, meu filho foi extorquido, teve que tomar dinheiro emprestado para pagar extorsão e isso acontece em quase todos os municípios do país. Meu filho denunciou ao MP, mas pela inexperiência, ele se afobou e teve que pegar dinheiro emprestado para fazer o jogo dos vereadores. Se tivesse ouvido o MP ele não teria chegado a isso. A própria Constituição da abertura a essas pessoas para fazerem esse tipo de extorsão.

Tudorondônia: O senhor tem uma mensagem aos leitores e a população do estado?

Amorim: Que a juventude acorde e se levante para conhecer mais a política, que se politize, e que os órgãos competentes ajudem a fiscalizar melhor esses pleitos, inibindo a compra de voto e a corrupção eleitoral, para ver se elege pessoas que queiram realmente trabalhar pela população. Rondônia ainda é o melhor lugar para morar, para viver e, enquanto vida tiver, estarei trabalhando pela população e pelo estado. Não sou esse bicho que pintam, sou uma pessoa que gosta de ouvir e de conversar, não faço distinção, sou trabalhador e não tenho duas caras.