Epifânia abre o jogo

Por Valdemir Caldas

Publicada em 02/05/2012 às 04:33:00

Antes do depoimento da deputada Epifânia Barbosa (PT) à Polícia Federal, apanhada na Operação Termópilas, houve quem subisse à tribuna da Assembléia Legislativa e dissesse, em alto e bom tom, para que todos escutassem, que, se o seu nome aparecesse no escândalo, renunciaria ao mandato. Só faltou o cidadão jurar pelo rei de ouros (sem nenhum trocadilho).

Pois é. O círculo está-se fechando. Segundo a petista, dezesseis parlamentares (à exceção dela, é claro) teriam recebido propina do deputado Valter Araújo (PTB), para elegê-lo presidente da ALE. Os beneficiários teriam ficado hospedados numa fazenda de Araújo ou num hotel, em Manaus, dias antes da eleição da mesa diretora, hoje, presidida, temporariamente, por José Hermínio Coelho (PSB), que afirmou ter votado em seu colega Valter.

A população já sabe os nomes dos “confinados”, de cor e salteados, nem precisa mandar investigar. São os mesmos fariseus que enchem a sua paciência com asnices e clichês superados, com boçalidades e futilidades, ambulantes por noticiário fácil. Um deles ainda tem a cara de pau de posar de paladino da moralidade pública. Mas a máscara começou a cair. Logo, não restará pedra sobre pedra. Por isso, convém colocar a barba de molho.

Enquanto isso, a Comissão Parlamentar Processante não sai do marco zero. De tão óbvia, a justificativa parece supérflua. A postura da CPP não somente contrasta, visceralmente, com o empenho da Polícia Federal e do Ministério Público, como também representa uma afronta inominável à população, que, nos últimos tempos, tem sido brutalmente humilhada, agredida e desrespeitada por políticos e dirigentes públicos cúpidos e furta-cores.

Agindo assim, a CPP simplesmente ignora o resultado de uma investigação criteriosa e responsável, que consumiu anos de trabalho de profissionais sérios e competentes, e apontou como o dinheiro público era canalizado para os bolsos de políticos messiânicos, os quais já deveriam ter sido entregues à Justiça, para colocá-los nos seus devidos lugares.

Mas essa não parece ser a preocupação nem do presidente em exercício da ALE, José Hermínio Coelho, nem da CPP, já que todos os acusados permanecem livres, leves e soltos, zombando da cara da população.

Verdadeiramente, as exigências éticas da sociedade nada significam para muitos do que ali têm assento. Ao defeito da surdez, ajunta-se outro, o da cegueira mental.

Lamentavelmente, a impressão que se tem é a de que ninguém está nem um pouco preocupado em exerce, com dignidade e respeito ao povo e aos cofres públicos, o mandato para o qual foram eleitos.

Os temores do povo, com relação ao Poder Legislativo, tendem a avolumar-se (com justificadas razões, é claro). Por enquanto, uma indagação já começa a espraiar-se no seio da sociedade: que moral tem esse poder para cobrar correção dos demais?