Fina Flor do Samba mostrou a arte centenária no Festival de Arte

Realizado de 27 a 30 de abril, este ano na sua segunda versão, o Festival de Arte e Cultura da Unir mostrou força expositiva e a capacidade de quebrar o gelo na relação entre a Academia Universitária e a comunidade da capital do Estado.

Publicada em 04 de May de 2016 às 10:09:00

Na última sexta-feira, 29, o grupo Ernesto Melo e a Fina Flor do Samba se apresentou no Festival de Arte e Cultura da Universidade Federal de Rondônia, fechando em grande estilo a programação daquele dia e servindo ao público o melhor do samba regional e nacional. Na abertura, o intérprete e violonista Ênio Melo fez ecoar as pérolas preciosas de Paulinho da Viola no quadrante histórico da capital. Foi só o prenúncio de que o samba, manifestação centenária no coração do povo brasileiro, tomaria conta de todos os redutos da Praça Getúlio Vargas, defronte ao Mercado Cultural e ao antigo palácio do governo.

Vestidos a caráter para um verdadeiro show que acabou mesmo acontecendo, os sambista trajavam sapatos estilizados à moda da malandragem dos anos 40 na Cidade Maravilho, fardão da academia do samba e principalmente mostraram muito orgulho de estar ali desfolhando o buquê de notas musicais do compositor Ernesto Melo, conhecido na comunidade artística local como o Poeta da Cidade, por sua temática memorialista e descortinadora dos ambientes e personagens que compõem relevantes traços panorâmicos da identidade dos porto-velhenses.

Realizado de 27 a 30 de abril, este ano na sua segunda versão, o Festival de Arte e Cultura da Unir mostrou força expositiva e a capacidade de quebrar o gelo na relação entre a Academia Universitária e a comunidade da capital do Estado. Em regra, a Universidade Federal vira as costas para a cidade; produz ciência e conhecimento técnico mas não sabe dialogar com a sociedade. Por ali desfilaram, dentre outros, o compositor Bado e o maestro Júlio Yriarte, Macaquiavélicos, Três de Nós, Banda Soda Acústica, poeta Elizeu Braga com recital Mormaço de Rimas, Minhas Raízes, Anderson Benvindo com Prognoise e tantos outros. Em vários ambientes da cidade, diversas outras atividades culturais foram realizadas. Talvez até para calar a boca dos que, de forma incauta, afirmam erroneamente que "Porto Velho não tem cultura".

Coube à Fina Flor do Samba mostrar as matizes do samba feito aqui, à margem do rio Madeira, terra de Bainha, Babá, Bubu, Norman Johnson, Beto César, Waldison Pinheiro, Silvio Santos e Neguinho Menezes. Depois da bem posta apresentação de João Carteiro, entoando várias peças clássicas de João Nogueira, subiu ao palco Hudson Mamedh, um cuiabano que se torno rondoniano de coração e hoje é uma das mais expressivas vozes entre os bambas do Guaporé, com a missão revelar as criações do Poeta da Cidade para os participantes do festival. Era o que o público queria: uma boa dose de musicalidade nativa, o chamado samba raiz, funcionando como um espelho a refletir para o público presente as inúmeras imagens que constituem, musicalmente falando, uma boa fatia da identidade cultural de quem nasceu nestas paragens. Enfermo, o compositor Ernesto Melo não pôde participar pessoalmente. Sua obra, entretanto, mostrou por si só a força expressional e poética que possui. As músicas do artistas funcionam como cicerones turísticos e às vezes arqueológicos, revelando recantos, pessoas, tradições, falares, memórias, estórias e amores presentes no coração, na urbe e na mente de um cancioneiro popular de sua nobre estirpe. E assim, com Nicodemos no violão de sete cordas, Basinho no surdo de marcação, Padoca no banjo, Ney no cavaquinho, China no pandeiro e Ênio Melo no violão também de sete cordas, Barney Silva no vocal, a Fina Flor do Samba escreveu uma bela página musical, para a alegria da geração hoje madura, para os que já se foram e para as gerações que ainda estão a caminho na estrada da vida!