Fiocruz Rondônia reúne pesquisadores de três estados para diagnósticos de leishmaniose

Os resultados desses estudos, obtidos até o momento, são oferecidos às populações do sul do Amazonas, Noroeste de Mato Grosso e regiões fronteiriças.

Publicada em 31 de March de 2015 às 11:35:00

Pesquisadores do Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio), da Fundação Oswaldo Cruz Rondônia, estudam a leishmaniose, também conhecida por calazar (úlcera de Bauru) ou febre dundun, quando manifestada na forma visceral. Trata-se de ferida tegumentar infecciosa, porém, não contagiosa, provocada pela picada do mosquito flebótomo (mosquito-palha), que ataca seres humanos, cães, gatos e animais silvestres no Brasil e em países sul-americanos.

Segundo a biomédica Lilian Motta, nas regiões de Candeias do Jamari, Porto Velho e em diversos assentamentos rurais ocorrem, anualmente, 1,2 mil casos dessa enfermidade, cujo tratamento ainda é feito com 20 doses de injeção glucantime em qualquer posto de saúde. A dosagem do medicamento deve ser ajustada conforme as condições do paciente. Dados do Ministério da Saúde revelam que o Brasil teve 600 mil casos no período 1992-2011.

Conforme o diretor do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), biólogo doutor Ricardo de Godoi Mattos Ferreira, os estudos relacionam características clínicas dos pacientes com a espécie do parasita. Observa-se a correlação entre espécies identificadas e locais de infecção na procedência de cada um. “A disseminação da infecção ocorre através do sangue; um ou dois anos após o início da doença, as lesões provocam vermelhidão e edema do septo nasal, evoluindo para a formação de feridas que atingem a mucosa do nariz. Depois, a úlcera tende a cicatrizar, deixando cicatriz de pele fina e atrofiada, ou forma lesões verrucosas e ressecadas”, explica.

Os resultados desses estudos, obtidos até o momento, são oferecidos às populações do sul do Amazonas, Noroeste de Mato Grosso e regiões fronteiriças.

A Fiocruz-RO reuniu um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental (PGBioexp) da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e das Universidades Federais do Acre (Ufac), Maranhão (Ufma) e São Paulo (Unifesp). O Laboratório de Biotecnologia estuda, com modelos celulares in vitro, animais e amostras humanas de pacientes diagnosticados com leishmaniose cutânea, cujo controle implica reduzir a pobreza do país, oferecendo qualidade de vida, boa alimentação e menos desnutrição. Isso evita que a pessoa seja alvo fácil para a doença.

Pesquisas constatam que algumas substâncias extraídas da planta amazônica Combretum leprosum se mostraram muito ativas contra o parasita da leishmaniose, particularmente os triterpenos, que originam em animais ácidos biliares, vitamina D e hormônios esteroidais. Contudo, em testes de toxicidade, essas substâncias ainda são incompatíveis com o uso clínico.

Por meio da nanotecnologia, a Fiocruz trabalha atualmente em estruturas que podem atuar como carreadoras de drogas, e estas agirão diretamente na célula-alvo. No caso da leishmaniose, no macrófago, que intervém na defesa do organismo contra infecções. Ele tem grandes dimensões, derivando dos monócitos do sangue e de células conjuntivas ou endoteliais.

Atualmente, o grupo estuda a contribuição de serpentes, extratos de plantas e anuros (sapos venenosos) para a produção de kits de diagnósticos e fins terapêuticos. E desenvolve nanocápsulas que interagem especificamente com os macrófagos, obtendo a redução da dose necessária para a atividade quimioterápica.

Na avaliação do comportamento clínico da leishmaniose tegumentar em Rondônia, a equipe coordenada pelo doutor Mattos Ferreira obtém dados epidemiológicos das espécies responsáveis pelos casos ocorridos no estado. “As pesquisas são financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, lembra o diretor adjunto, professor doutor Mauro Tada.

No Brasil existem atualmente sete espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana e mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão.

De acordo com o doutor e pós-doutor em Biociências Aplicadas à Farmácia, Roberto Nicolete, dentro da interação com seleção biológica em áreas isoladas com casos de leishmaniose e malária, investigações médica e científica se unem sob o rigor dos testes de laboratório feitos diariamente por entomologistas, microbiologistas e virologistas.

Quando recebeu levas de migrantes do sul, sudeste, centro-oeste e nordeste do país, no século passado, Rondônia já sofria com a leishmaniose nos cantões da floresta e zona rural, onde também ainda ocorrem filarioses, toxoplasmose, micoses profundas e a doença de Chagas (causada pelo bicho barbeiro).

Durante a instalação de projetos integrados de colonização e de assentamento dirigido, as primeiras avaliações foram feitas nos tempos do velho território federal, por médicos sanitaristas de Belém, Manaus e Brasília. Convidados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pela extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), eles conheceram as dificuldades de vida na selva, entre os anos 1960 e 1970.

ROTAVÍRUS
De 2012 para cá, pesquisadores da Fiocruz também descobriram casos de diarreia em crianças, 25% em consequência de rotavírus, doença causada por sete tipos diferentes de sorotipos que são antigênicos diferentes, mas da mesma espécie microbiana. Apenas três infectam o ser humano e que não requer antibióticos para tratar, apenas tratamento de suporte.

Para o doutor Mattos Ferreira, há muitas causas indeterminadas dessa doença nos aspectos bacteriano ou viral. “Já estabelecemos base para essa investigação”, informa.

Segundo ele, a experiência dos pesquisadores fortalece dois aspectos: detectar a etiologia (causa) e economizar antibióticos. O estudo é feito em colaboração com o Hospital Cosme e Damião, em Porto Velho, onde são atendidas, em média, 180 a 200 crianças diariamente. Rotavírus pode levar à desidratação, vômitos, febre, problemas respiratórios (coriza e tosse). A transmissão pode ser fecal-oral, ou seja, o vírus é eliminado nas fezes do paciente, contamina a água ou alimentos, e pode entrar em contato com a pessoa através das mãos.


Texto: Montezuma Cruz