Instituto italiano apóia reeducandos em Porto Velho

Para a terapeuta Euza Beloti, a Acuda compreende que “bandido bom não é bandido morto, é homem recuperado”.

Publicada em 28 de January de 2015 às 18:33:00

Pesquisadores italianos do instituto Claudio Naranjo vieram a Rondônia conhecer e documentar ações e resultados dos trabalhos desenvolvidos pela Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso (Acuda) com reeducandos do sistema penitenciário.

O material produzido pela equipe de documentação que acompanha os terapeutas será apresentado em novembro durante simpósio de psicologia em Roma. Segundo o coordenador geral da Acuda, Rogério Riva, a associação iniciou as atividades em 1998, com a oficina de teatro do Marcelo Fellicci. Em 1999 estreou o primeiro espetáculo denominado Bizarrus.

Para formar o elenco houve uma preparação com dinâmicas psicológicas e terapias alternativas que auxiliaram na resolução de traumas, motivando mudanças no comportamento dos reeducandos. Foi o momento em que se percebeu que esses benefícios poderiam ser ampliados. O grupo teatral Sem Nexo Complexo, responsável pela montagem da peça originou a Acuda em 2011. Nessa época cerca de 30 apenados integravam o projeto.

Até 2004 eles utilizavam as dependências físicas do Sest/Senat, porém, dificuldades de logística de transporte ameaçavam inviabilizar a continuidade do projeto. Em 2005 a Acuda ganhou sede própria. A primeira turma nesta nova fase contava com 17 reeducandos e ao longo dos anos foi ofertado um numero crescente de oficinas e consequentemente mais vagas.

Cuidado terapêutico espiritual
A Acuda oferece atualmente cerca de cem vagas divididas em duas vertentes. A primeira é a laboterapia, que faz com que o egresso tome apreço pelo trabalho, explica Rogério. Para esse segmento temos oficinas de marcenaria, tapeçaria (tear), cerâmica, esculturas, pintura, hortifrutigranjeiros, viveiro de plantas e oficina de motos.

Agregando valores, outra linha de trabalho adotada pela Acuda é o cuidado terapêutico e espiritual, com abordagens psicológicas, entre as quais, constelação familiar, Gestalt, reiki, biodança, massagem ayurvédica, psicoterapia individual ou em grupo e atendimento odontológico, todas atividades desenvolvidas por profissionais voluntários.

A cada sexta feira a atividade religiosa ocupa um horário: palestras espíritas e de saúde, celebração de missas e cultos evangélicos. Entre ações sociais diversas, o projeto distribui um sopão para presos do Aruana, internas do presidio feminino e moradores de rua.


Para  a terapeuta Euza Beloti, a Acuda compreende que “bandido bom não é bandido morto, é homem recuperado”. “Levamos a consciência para saber escolher, ter condições de tomar as decisões que serão melhores, pois aprendendo a amar a si, os reeducandos amarão a natureza e as pessoas, não prejudicando ninguém”.

Nesta linha de pensamento é válido ressaltar que cada preso recuperado não é um homem recuperado apenas, é um lar que terá provedor, filhos que terão pais, vitimas que deixam de existir. A principal diferença apontada em relação às outras instituições é que na Acuda não ensina somente trabalhos manuais, mas também um trabalho de autoconhecimento, de auto transformação.

Tendo como pilar central os ensinamentos de Claudio Naranjo, são repassados nas instruções o amor na sua plenitude. “Este projeto é único. Eu já desenvolvi trabalhos em outros presídios e esta metodologia é algo sensacional”, afirma Sonia Zangarini, italiana terapeuta que também integra o instituto.

Para o terapeuta Antônio Ferrara que coordena uma escola de terapia Gestalt e transpessoal na italia, parece surreal o que ele vê na Acuda. Ele jamais imaginou que em um ambiente prisional veria pessoas chegando, cumprimentando de maneira tão amorosa. Segundo relata antes de iniciar os trabalhos ver os presos rezando uma Ave Maria foi algo muito emocionante.

Por trabalhar com pessoas ele acredita no potencial de cada um e por isso crê que estes reeducando podem sim ser transformados em pessoas ainda melhores “Estou muito encantado, pois jamais imaginava ver tantos presos reunidos de forma pacifica, sem rebelião e sem trazer nenhum tipo de dano”, ressalta o coordenador do grupo.


Texto: Romeu Noé