Meninas de unidades socioeducativas de Porto Velho contam que querem vida nova

Em Rondônia, houve avanços nas propostas socioeducativas, explica Otacílio Guimarães, gerente-geral do Sistema de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei.

Publicada em 28 de February de 2015 às 06:47:00

“Sonhava ser jornalista, mas descobri que ganha pouco. Agora quero ser atriz e aparecer na televisão. Eu amo novela e é o sonho que quero realizar quando sair daqui”, diz a adolescente de 12 anos, que cumpre medida socioeducativa na Unidade Feminina, em Porto Velho.

O pai é viciado em drogas, a mãe está em tratamento em São Paulo para se livrar da dependência químicas. As duas irmãs, também adolescentes, vivem no interior de Rondônia. Sentenciada por estupro de uma criança de três anos, a reeducanda nega que tenha cometido essa infração. “Eu morava com uma tia. Comecei dar trabalho e ela me levou para o abrigo. Lá, acabei sendo acusada de algo que não fiz. É só você olhar o laudo”, se defende a adolescente.

Com muita dificuldade de relacionamento, a adolescente que adora televisão, acabou abrindo mão de assistir às suas novelas preferidas para poder ficar sozinha em um alojamento que não possui aparelho de TV. Para amenizar os traumas enfrentados, a jovem é assistida por uma psicóloga que, segundo ela, é o momento mais interessante e esperado da semana. “Eu amo passar horas conversando com a minha psicóloga. Ela é minha amiga e eu amo ela. Aqui não somos agredidas, nem reprimidas. E eu adoro jogar futebol”, afirma.

Amanda acaba de completar um mês na Unidade. Aos 15 anos, foi acusada de tentativa de homicídio. Hoje, aos 19 anos, casada, mãe de um menino de pouco mais de um ano, foi sentenciada e permanece em regime fechado. Amanda trabalhava e estudava quando soube que seria recolhida para a Unidade. “O juiz mandava me chamar e eu nunca ia. Os anos se passaram e no mês passado, acabei indo em uma audiência. Ele disse que não me daria mais nenhuma chance. Fiquei desesperada. Eu ainda amamentava o meu filho e foi desesperadora nossa separação”, relata.

Amanda diz que para passar o tempo mais rápido e tentar superar a saudade da família, as aulas de geografia e jogos de futebol têm sido uma grande saída. “Jogo futebol com as outras meninas e também fico feliz quando tenho aulas. É o que está me ajudando por aqui”, salienta.

Na presença do marido, Amanda faz planos para quando voltar para casa: “Quero casar vestida de noiva. Terminar os meus estudos e criar o meu filho com muita dignidade”. O marido está desempregado e cuida sozinho do filho do casal. Segundo ele, está sendo um grande desafio. “Preciso arrumar um trabalho e não tenho com quem deixar o nosso filho. A direção da Unidade disse que ela está tendo bom comportamento e estou confiante que minha mulher consiga voltar para casa o mais rápido possível”, diz o marido durante uma visita.

Os dramas são reais e a Secretaria de Justiça de Rondônia (Sejus), por meio da Gerência de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei, oferta atendimentos especializados. As adolescentes são assistidas por psicólogas e assistentes sociais, e participam de atividades pedagógicas e recreativas. É o que garante a diretora da Unidade Feminina, Sônia Durgos dos Santos. “Aqui elas praticam esportes, são atendidas por médicos especialistas, fazem exames ginecológicos, tratamento odontológico, participam de palestras, além das atividades escolares”.

Em Rondônia, houve avanços nas propostas socioeducativas, explica Otacílio Guimarães, gerente-geral do Sistema de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei. Segundo ele, hoje, por exemplo, já é traçado um plano de atendimento dirigido a cada adolescente que está no regime de internação. Uma equipe multiprofissional discute e avalia os planos e os programas que existem no Estado, respeitando as peculiaridades de cada adolescente.

Ele ainda afirma que estão previstos cursos que atendam o perfil dos adolescentes, além das necessidades do mercado, mas reconhece que precisa avançar ainda mais, “Queremos sempre o melhor e o governo está cumprindo o seu papel. As Unidades de Rondônia contam com atendimento humanizado. Temos profissionais capacitados. Para se ter uma ideia, na Unidade Feminina, será ofertado um trabalho com os profissionais para cuidar do cuidador. Reconhecemos que os profissionais também precisam de cuidados. Nós discutimos diariamente políticas de atendimento socioeducativo e trabalhamos para fortalecer todas as ações”, enfatiza Otacílio.


Texto: Lú Braga