O ataque de Malafaia e Bolsonaro aos generais

O vexame em Copacabana reafirma: o fascismo não se constrange em dizer que foi traído pelos militares, escreve o colunista Moisés Mendes

Fonte: Moisés Mendes - Publicada em 24 de abril de 2024 às 17:00

O ataque de Malafaia e Bolsonaro aos generais

Silas Malafaia (de lado, com óculos escuros), Jair (camisa do Brasil) e Michelle Bolsonaro (boné branco) (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Ficou escondida, quase camuflada no meio de textos sobre a aglomeração fracassada de Copacabana, a informação sobre a artilharia disparada por Silas Malafaia contra os generais da ativa.

Malafaia sente-se com o poder de quem tem tropas civis para dizer o que disse. Que os comandantes militares que honram a farda devem renunciar aos postos que ocupam, até que haja uma investigação profunda do Senado.

Que investigação? Por que do Senado? Porque Malafaia e Bolsonaro, que ouvia tudo, acham que Rodrigo Pacheco deveria ser forçado a abrir o processo de impeachment de Alexandre de Moraes. Pacheco, segundo Malafaia, é frouxo, covarde e omisso. E os militares calados são cúmplices do Senado.

Os generais das três armas deveriam ir pra casa e ninguém poderia assumir seus lugares, até que tudo fosse esclarecido. Tudo seriam as decisões de Moraes, que o pastor chama de ditador da toga?

Malafaia cumpria ordens do tenente Bolsonaro e sabe que os militares não vão renunciar. Mas fez a sua parte. Avisar aos generais em geral, e não só aos que estão no poder, que a extrema direita se sente abandonada por eles e agora tenta humilhá-los. 

Parece um recado irrelevante, mas não é. O fascismo sucumbiu à realidade. Braga Netto subiu no trio elétrico antes da chegada de Bolsonaro, para acenar para o povo, e foi embora, porque membros da mesma facção investigada não podem se encontrar. Hoje, Braga Netto não derruba mais o ajudante do síndico do prédio em que mora.

Generais que estiveram com ele, como Augusto Heleno, e oficiais subalternos golpistas não conseguiriam golpear hoje o chefe da torcida do time de peteca do Clube Militar. 

O que sobra para Malafaia e Bolsonaro é fazer beicinho e esnobar os oficiais da ativa que assumiram postos de comando no governo. São esses os generais com tropas, que batem continência para Lula, mesmo que comandos sejam sempre instáveis e aderentes ao mais forte do momento.

Malafaia e Bolsonaro não tiveram a coragem de chamar os atuais e os ex-chefes militares de covardes, como o senador Jorge Seif definiu o ex-comandante do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra.

Em setembro, em intervenção na CPI mista do Golpe, Seif chorou ao afirmar o seguinte, diante do general:

“Eu quero repetir para o senhor que o senhor é um covarde e o senhor presta continência para comunista. O senhor hoje serve um ladrão e o senhor traiu o seu povo”.

Na semana passada, ao depor na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na Câmara, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, ouviu ataques ao mesmo Dutra, desta vez desferidos pelos deputados bolsonaristas Ricardo Salles e Marcel van Hattem.

Dutra foi o militar que autorizou a entrada da polícia no entorno do QG do Exército em Brasília, no dia 9 de janeiro, para que fossem presos manés e terroristas ali acampados. Salles e Van Hattem disseram ter vergonha do general. 

Tomás respondeu que Dutra era um grande militar e que ele e os deputados têm conceitos diferentes do que possa ser vergonhoso. E o que ficou do embate foi a amplificação da gritaria contra quem a extrema direita considera traidor fardado.

Em Copacabana, Silas Malafaia citou por três vezes, com estocadas depreciativas, o general Freire Gomes, o ex-comandante do Exército que Braga Netto classificou como cagão por não ter aderido ao plano do golpe.

Alguns podem dizer: ah, mas Bolsonaro ficou quieto ao lado do pastor. Ora, diria a baleia que ouviu o comício em Copacabana, foi Bolsonaro quem mandou Malafaia atirar nos generais. Ele mesmo não atirou por covardia.

O comício flopado no Rio deu sequência aos ataques aos militares, para que Bolsonaro e Malafaia deixem claro que agora a tropa prioritária é outra.

É o ativismo do rebanho evangélico de Malafaia, com o apoio de Edir Macedo e do reacionarismo católico, que precisa lutar, segundo Bolsonaro, “ou iremos para o matadouro como cordeirinhos”. 

Malafaia e Bolsonaro desistem dos militares, porque no momento não há o que fazer, e se agarram ao poder da militância civil, dentro e fora das igrejas, que dá suporte ao bolsonarismo. No Rio, não funcionou. Nikolas Ferreira diria que eles apostam na fé e na testosterona.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

757 artigos

O ataque de Malafaia e Bolsonaro aos generais

O vexame em Copacabana reafirma: o fascismo não se constrange em dizer que foi traído pelos militares, escreve o colunista Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 24 de abril de 2024 às 17:00
O ataque de Malafaia e Bolsonaro aos generais

Silas Malafaia (de lado, com óculos escuros), Jair (camisa do Brasil) e Michelle Bolsonaro (boné branco) (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Ficou escondida, quase camuflada no meio de textos sobre a aglomeração fracassada de Copacabana, a informação sobre a artilharia disparada por Silas Malafaia contra os generais da ativa.

Malafaia sente-se com o poder de quem tem tropas civis para dizer o que disse. Que os comandantes militares que honram a farda devem renunciar aos postos que ocupam, até que haja uma investigação profunda do Senado.

Que investigação? Por que do Senado? Porque Malafaia e Bolsonaro, que ouvia tudo, acham que Rodrigo Pacheco deveria ser forçado a abrir o processo de impeachment de Alexandre de Moraes. Pacheco, segundo Malafaia, é frouxo, covarde e omisso. E os militares calados são cúmplices do Senado.

Os generais das três armas deveriam ir pra casa e ninguém poderia assumir seus lugares, até que tudo fosse esclarecido. Tudo seriam as decisões de Moraes, que o pastor chama de ditador da toga?

Malafaia cumpria ordens do tenente Bolsonaro e sabe que os militares não vão renunciar. Mas fez a sua parte. Avisar aos generais em geral, e não só aos que estão no poder, que a extrema direita se sente abandonada por eles e agora tenta humilhá-los. 

Parece um recado irrelevante, mas não é. O fascismo sucumbiu à realidade. Braga Netto subiu no trio elétrico antes da chegada de Bolsonaro, para acenar para o povo, e foi embora, porque membros da mesma facção investigada não podem se encontrar. Hoje, Braga Netto não derruba mais o ajudante do síndico do prédio em que mora.

Generais que estiveram com ele, como Augusto Heleno, e oficiais subalternos golpistas não conseguiriam golpear hoje o chefe da torcida do time de peteca do Clube Militar. 

O que sobra para Malafaia e Bolsonaro é fazer beicinho e esnobar os oficiais da ativa que assumiram postos de comando no governo. São esses os generais com tropas, que batem continência para Lula, mesmo que comandos sejam sempre instáveis e aderentes ao mais forte do momento.

Malafaia e Bolsonaro não tiveram a coragem de chamar os atuais e os ex-chefes militares de covardes, como o senador Jorge Seif definiu o ex-comandante do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra.

Em setembro, em intervenção na CPI mista do Golpe, Seif chorou ao afirmar o seguinte, diante do general:

“Eu quero repetir para o senhor que o senhor é um covarde e o senhor presta continência para comunista. O senhor hoje serve um ladrão e o senhor traiu o seu povo”.

Na semana passada, ao depor na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na Câmara, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, ouviu ataques ao mesmo Dutra, desta vez desferidos pelos deputados bolsonaristas Ricardo Salles e Marcel van Hattem.

Dutra foi o militar que autorizou a entrada da polícia no entorno do QG do Exército em Brasília, no dia 9 de janeiro, para que fossem presos manés e terroristas ali acampados. Salles e Van Hattem disseram ter vergonha do general. 

Tomás respondeu que Dutra era um grande militar e que ele e os deputados têm conceitos diferentes do que possa ser vergonhoso. E o que ficou do embate foi a amplificação da gritaria contra quem a extrema direita considera traidor fardado.

Em Copacabana, Silas Malafaia citou por três vezes, com estocadas depreciativas, o general Freire Gomes, o ex-comandante do Exército que Braga Netto classificou como cagão por não ter aderido ao plano do golpe.

Alguns podem dizer: ah, mas Bolsonaro ficou quieto ao lado do pastor. Ora, diria a baleia que ouviu o comício em Copacabana, foi Bolsonaro quem mandou Malafaia atirar nos generais. Ele mesmo não atirou por covardia.

O comício flopado no Rio deu sequência aos ataques aos militares, para que Bolsonaro e Malafaia deixem claro que agora a tropa prioritária é outra.

É o ativismo do rebanho evangélico de Malafaia, com o apoio de Edir Macedo e do reacionarismo católico, que precisa lutar, segundo Bolsonaro, “ou iremos para o matadouro como cordeirinhos”. 

Malafaia e Bolsonaro desistem dos militares, porque no momento não há o que fazer, e se agarram ao poder da militância civil, dentro e fora das igrejas, que dá suporte ao bolsonarismo. No Rio, não funcionou. Nikolas Ferreira diria que eles apostam na fé e na testosterona.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Comentários

  • 1
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    sebastian 25/04/2024

    Então, pior imbecil é quem apoia um ladrão, ex presidiário, mentiroso, gastador do erário público e que até agora, só apareceu os mais de 60 milhões de eleitores dele nas urnas do tal TSE. Nas tais lives dele, não aparecem, nas ruas também não. isso quer dizer que é uma minoria de imbecis que apoiam o tal e sua quadrilha.

  • 2
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    Leonardo Mascarenhas 25/04/2024

    Silas Malafaia e Jair Bolsonaro, usando camisa amarela, envergonham nossa Pátria. Deveria estar, ambos, numa cela de um presídio federal.

  • 3
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    Kleyton Ayala 25/04/2024

    Essa mania idiota de achar que os católicos são bolsonaristas, não passa de teoria jumentista. Em todas as religiões há imbecis, que ainda apoiam o miliciano jumento chamado de boso. Mas são uma minoria inexpressiva.

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