O Bainha, o Pietro e o João Lucca

Dos menos de oito aos de oitenta e além disso... Todos na ginga e balanço do Ogã de Toque.

Altair Santos (Tatá)
Publicada em 17 de janeiro de 2018 às 14:01

Na matinê ensaio do último domingo, em plena calçada do Bar do Calixto, a vaporizada Bateria Pura Raça (do GRES Asfaltão) ainda ajustando a levada, fazia uma evoluída e ritmada sequência de frases e desenhos entre breques e viradas quando, em meio ao canto, surge permeando o povo e se apossa do atabaque ninguém menos do que sua excelência Waldemir Pinheiro da Silva, o Mestre Bainha, alegre, festivo, festeiro e serelepe como ele só, além de justo homenageado do Tigre do Bairro Santa Bárbara no carnaval desse ano de 2018.

Como nos velhos tempos, hábil, performático e com destreza singular suas mãos passearam precisas e viajantes sobre o couro num “paticumbum” chamando protetores e proteção, propondo um reflexivo debulhar histórico entre o seu nascer no Forte Príncipe da Beira, sua vinda pra Porto Velho ainda pequeno e a pluralizada trajetória vivida cá, na cidade porto, elando os versos do samba de enredo da escola, um melodioso e envolvente apanhado musical, a partir da providência e atitude da ala de compositores.

Após extensa sessão de cumprimentos o ensaio prosseguiu com intervalos para orientações. Esses espaços permitiram outra cena não menos rica e fortemente marcante, denunciada pelas presenças ativas e partícipes dos pequeninos ritmistas Pietro e João Lucca, a face do hoje tigre petiz e feliz, um espaço de há muito existente na agremiação e que já propiciou descortinar os talentos de Admilson Knigthz, Danilo Santos, Allan Júnior, Eduardo Dias, Vinicius Théo, Bárbara Oliveira e outros mais.

Pietro e João Lucca, vestidos com a camisa da escola especialmente talhadas para as suas minúsculas medidas exuberavam. Um ensaiava uma batida, outro fazia uma ginga, os dois riam alheios ao mundo aos seus redores, talvez se achando os tais do ritmo, e ai de quem mexesse com seus doces e encantadores brios de batuqueiros kids, de moral. Eles, junto ao Bainha, se fundem no mesmo retrato e texto que se nos aflora como expressão viva da interação, da inclusão, da socialização de bens e valores culturais, cujas inestimáveis valias tão bem fazem às pessoas e suas vidas, em qualquer idade.

Suas imagens alegres, inocentes e futuramente esperançosas, fazem o contraponto na exata medida exortando o vesgo olhar e desdizendo o destempero aleijado das tratativas lançadas com asperezas brutais e ofídicas, as tais e ditas pedradas inoportunas e descabidas que alvejam a cultura popular e seus valores e que emanam do triste e sombrio analfabetismo conceitual, temático e até estético.

Em Bainha, o octogenário e homenageado com sua bagagem e experiência e nos dois garotinhos, nenhum ainda com oito anos de idade e que já desabrocham irrequietos e audazes, nos apaziguamos e animamos trilhar garimpando ressignificar a cultura e o seu status, avivar o seu conceito e fazê-lo entendido, compreendido, importante e presente no cotidiano do povo e contributivo para melhorarmos a sociedade, a cidade e o país.

Mestre BainhaPietro e João Lucca

Obs: as fotografias dos pequenos Pietro e João Lucca foram autorizadas por suas mamães, as queridas amigas Mayhara Aywme e Jéssica Tainá.
Agradecido.

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