O pioneiro Wilson Fernandes recebe Medalha Marechal Rondon

Wilson nasceu no dia 27 de setembro de 1919 (10 anos antes da criação do Município de Guajará-Mirim), em um seringal do Rio Cautário, na localidade de Cachoeira Esperança.

Publicada em 13/04/2012 às 12:34:00

O governo de Rondônia finalmente reconheceu, em solenidade realizada terça-feira, 10, em Guajará-Mirim, a importância dos trabalhos realizados pelo pioneiro Wilson Fernandes, uma das personalidades mais conhecidas daquele município, ao agraciá-lo com a Comenda Marechal Rondon, a mais importante honraria concedida pelo estado. A cerimônia aconteceu na sede do clube militar Boinas Verdes, onde outras pessoas e instituições também foram homenageadas.

Para os familiares de Wilson Fernandes presentes na solenidade, o reconhecimento prestado ao pioneiro, que vai completar 93 anos em setembro deste ano, foi um gesto de grandeza do governo do estado e da Comissão da Medalha do Mérito Marechal Rondon, que acatou a indicação da Academia de Letras de Rondônia, permitindo ao agraciado receber ainda em vida a honraria.

Autoridades estaduais e convidados presentes à cerimônia destacaram que Wilson Fernandes é merecedor da Medalha Marechal Rondon em razão da dedicação ao trabalho, das missões executadas como servidor público e como cidadão devotado à retidão e à sua família.

Antônio Ocampo, filho do pioneiro Wilson Fernandes, disse na ocasião que a Medalha Marechal Rondon voltou a ser concedida a pessoas comprometidas com o desenvolvimento de Rondônia, mas lamentou que o município de Guajará-Mirim, através de seus administradores, ainda não tenha prestado ao seu pioneiro as homenagens merecidas.

Exemplo de vida e trabalho

Wilson nasceu no dia 27 de setembro de 1919 (10 anos antes da criação do Município de Guajará-Mirim), em um seringal do Rio Cautário, na localidade de Cachoeira Esperança, ainda quando essas terras pertenciam ao estado do Mato Grosso. Logo passou a morar na cidade de Guajará-Mirim, na Quintino Bocaiúva.

Ainda adolescente, aos 13 anos, passou a ter a responsabilidade de um adulto, quando seu pai faleceu, passando então a trabalhar para sustentar seus outros irmãos. Aos 16 anos iniciou como balconista. Wilson Fernandes recorda, com gratidão, o emprego com os Melhem (os irmãos Abdon e Toufic), quando vendia de tecidos a perfumes, mercadorias em geral, até calçados. A Loja se situava na Avenida Independência, hoje Presidente Dutra.

Iniciou seus estudos no Colégio “Escolas Reunidas”, tendo como primeiro professor Basílio Magno Ursolino. Depois outros mestres também de primeira água, como Carlos Costa e Thales de Paula Souza, contribuíram para sua educação formal, fornecendo-lhe a direção e os ensinamentos educacionais e morais necessários ao crescimento pessoal.
Ingressa em 1940 no Exército brasileiro, servindo em Porto Velho, quando direcionou seu aprendizado castrense para as atividades de topografia, tornando-se profissional na área.

No mesmo ano, como soldado na 3ª Companhia Independente de Fronteiras, hoje 17ª BIS, integrou o grupo de segurança do presidente Getúlio Vargas, que na oportunidade visitava a Capital.

Em 1942 inicia o curso de cabo. Porém, preferiu voltar para Guajará-Mirim, aproveitando a vaga que se abriu, ficando assim próximo da família.

Durante a II Guerra Mundial, em 1944, é destacado para Belém, onde recebe as instruções para lutar no 2º Corpo Expedicionário que iria lutar na Itália. Por sorte, seu grupo de pracinhas não chega a viajar para a Europa.
De volta a Guajará-Mirim, pede baixa do serviço militar no final daquele ano, sendo então contratado para o Serviço de Navegação do Guaporé (SNG), aonde chegou a ser comandante de embarcações. Dentre elas, a Felix de Lima, movida a vapor. Sendo o comandante mais novo do SNG.

Recorda com certa nostalgia que em todo o Vale do Guaporé havia 22 postos para reabastecer as embarcações de lenha, com seus maquinistas (que cuidavam das caldeiras) e Foguista (responsável pelo suprimento de lenha na caldeira).
Lembra, ainda, que naquela época o rio Guaporé oferecia muita fartura em sua biodiversidade, sendo que no trajeto Guajará-Mirim/Vila Bela da Santíssima Trindade ocorria das hélices dos motores das embarcações baterem nos cascos de tartarugas, tracajás. Segundo relata, por vezes as embarcações passavam por cima de animais que tentavam cruzar de uma margem a outra do rio, como as capivaras e porcos selvagens.

Wilson Fernandes conheceu e conviveu com personalidades históricas de Guajará-Mirim, como o Cel. Saldanha, Boucinhas de Menezes, Dom Xavier Rey, Victor Arantes, Almerindo Ribeiro dos Santos, Emilio Santiago, Mário Nonato da Costa.
Recorda de pessoas importantes que lutaram pelo desenvolvimento da região do rio Guaporé, como: Américo Casara; Chico Ruivo; Miguel Mateiro; Julião Gomes; Durgo e Paes de Azevedo.

Passou a trabalhar como topógrafo da Prefeitura Municipal de Guajará-Mirim, projetando os traçados de importantes avenidas e estradas. Entre 1974 e 1975 foi o responsável pela estruturação das ruas do então distrito de Vila Nova, atual cidade de Nova Mamoré. Como testemunha dessa época, encontra-se na Prefeitura daquele município uma planta com todo o traçado das ruas do que seria a futura cidade, que hoje é sede do mencionado Município.

No dia 31 de agosto de 1958 casou-se com Maria Inês Ocampo Fernandes, com quem tem 8 filhos: Antônio Ocampo, Sérgio, Wilson Filho, Fernando, Neila, Cândido Ocampo, Nilva e Nélia. Seu maior orgulho é que, apesar das dificuldades, todos possuem formação superior em diversas áreas. O casal já tem 12 netos e 2 bisnetos.
Tem residência fixa há mais de 53 anos na Avenida XV de Novembro, sendo o primeiro morador daquela parte da Pérola do Mamoré.

Wilson foi diretor do Hospital Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Regional) e o primeiro diretor da Ceron do Município de Guajará Mirim. Depois de 40 anos de árduo trabalho como servidor público, aposentou-se em 1975.
Ressente que até hoje não teve sua aposentadoria devidamente reconhecida pela municipalidade.

O empresário Paulo Cordeiro Saldanha define Wilson Fernandes como “Um homem da dimensão alcançada pelo cidadão e Chefe de família, do quilate de Wilson Fernandes, fica imortalizado como referência e como paradigma, por isso eu beijo as mãos desse Venerando Senhor, que é marido, Pai, Avô e Bisavô, mas que é uma criatura de Deus, abençoado por Êle para ser instrumento da Paz, do progresso e do desenvolvimento de uma Terra, que mereceu o presente de tê-lo, nesta geração, como artífice e como inspirador.”