Políticos gastam mais do que o patrimônio na eleição; Natan Donadon, de Rondônia, faz parte da lista

Publicada em 00/00/0000 às 09:05:00

Levantamento feito pela Folha de S. Paulo mostra que dez deputados federais eleitos para a próxima legislatura doaram para suas campanhas mais do que o valor total de seus bens declarados à Justiça Eleitoral. De acordo com a reportagem de Ítalo Nogueira, seis deles são do PT, dois do PMDB, um do PSDB e um do PL.

A maior desproporção entre a doação de recursos próprios e o patrimônio declarado ficou por conta da deputada reeleita Maria do Carmo Lara (PT-MG): 249%. Ela declarou bens de R$ 29 mil, mas doou R$ 101.320,40 para a própria campanha, sendo que 95% do montante após as eleições.

Já a maior diferença absoluta entre os dois valores ficou por conta do também deputado reeleito Wellington Fagundes (PL-MT), que doou R$ 95,9 mil a mais do que o valor de seus bens. Wellington declarou ter doado R$ 777,3 mil à própria campanha (77% do total).

A Folha cruzou os dados das prestações de contas, entregues em outubro, e as declarações de bens dos 513 deputados eleitos enviadas aos TREs em julho. Os parlamentares, nesse período, podem ter recebido salários ou outros pagamentos.

Os seis deputados eleitos que atenderam à Folha afirmaram que recorreram principalmente a empréstimos em bancos ou com amigos para não apresentarem dívidas de campanha.

O deputado estadual Marcelo Melo (PMDB-GO), eleito para seu primeiro mandato em Brasília, fez a segunda doação mais desproporcional: 27,5% a mais que o valor dos bens. Investiu R$ 75,5 mil (R$ 73 mil após as eleições) com um patrimônio de R$ 59.183. Ele teve as contas de campanha rejeitadas. Procurado pela reportagem, admitiu que sua declaração de bens está defasada.

Já o deputado eleito Antonio José Medeiros (PT-PI) doou 21,6% a mais do que declarou em julho. Foram R$ 130.763 de recursos próprios para um patrimônio declarado de R$ 107.476,81.

Também aparecem na lista dos que declararam ter investido mais que o seu próprio patrimônio os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Natan Donadon (PMDB-RO) e Luiz Couto (PT-PB). O maranhense bancou 72% de sua eleição, doando 12,6% a mais que seus bens. Donadon custeou 79,6% da campanha com valores 12,1% acima de seu patrimônio. Couto foi responsável por 69% da arrecadação, investindo 6,5% a mais que seus bens.

Já o deputado reeleito Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), que doou R$ 72 mil à sua própria campanha, declarou não possuir nenhum bem. Procurado pela Folha, afirmou possuir, junto com a esposa, cerca de R$ 800 mil.

Completam a lista Elismar Prado (PT-MG), que doou 18,2% a mais do que declarou, e o deputado reeleito José Geraldo Torres da Silva (PT-PA), que investiu 7,2% a mais do que disse ter. O petista mineiro teve suas contas rejeitadas pelo TRE-MG.

“Especialistas ouvidos pela Folha dizem que, se não houver contrato, os empréstimos podem ser considerados crime eleitoral ou contra a ordem tributária. O procurador eleitoral do Rio, Rogério Nascimento, aponta tanto a declaração errada de bens como a ocultação do real doador como possíveis ilícitos: ‘Estes dados podem ser indícios de irregularidade no financiamento de campanha ou na declaração de bens’. O diretor da ONG Transparência Brasil, Claudio Abramo, lamentou a falta de cruzamento de informações entre órgãos estatais, como a Justiça e a Receita”, diz a reportagem.