Por que não te calas Hermínio? - Mara Paraguassu, de Brasília

O boquirroto deputado e a falta de seriedade na imprensa.

Publicada em 16 de July de 2013 às 09:08:00

É da maior gravidade o tratamento que certos setores da imprensa de Porto Velho e do interior estão dando às informações relacionadas à Operação Apocalipse, desencadeada no último dia 4, especialmente as que são oferecidas pelo boquirroto deputado Hermínio Coelho, um dos afastados do cargo pelo prazo de 15 dias por indício de envolvimento com financiadores de campanha que são líderes de tráfico de drogas.

É absurdamente incrível, mas ao invés de saudarem a atuação da Polícia Civil de Rondônia que, cumpre lembrar, não atuou sozinha, mas envolveu parceiros de outros estados e trabalhou durante mais de um ano, procuram freneticamente desqualificar a operação. A mais recente investida diz que a instituição não poderia ter investigado o que investigou, chegando à prática de estelionato, lavagem de dinheiro, fraude em cartão de crédito etc.

O Grupo de Combate ao Crime Organizado pode sim investigar o trafico de drogas - internacional certamente teria outra configuração - e em momento algum se propôs a bisbilhotar financiamento de campanha eleitoral. O tema surgiu com o desenrolar das investigações, aparecendo então os patéticos representantes do povo com seus ‘fantasmas’ contratados para dar suporte à engrenagem do crime, e que por desfaçatez inata em momento algum explicaram ao digníssimo eleitor porque tais contratações foram feitas. Nada. Nem uma palavra. Probidade zero.

Rótulo de vítima
Não há explicação possível. Por isso calaram, com exceção de Hermínio, não para tentar defender o injustificável, mas para imprimir, desde o dia da operação, o rótulo de vítima, perseguido e retaliado pelo secretário Marcelo Bessa. Será mesmo? O que o distinto público quer são explicações.

Mais recentemente admitiu amizade lá se vão 15 anos com Márcio Cesar Gomes, acusado de estelionato na Organização Criminosa (Orcrim) e financiador de sua campanha, com livre trânsito para nomeações na presidência do Legislativo, segundo as investigações. Entretanto, a relação compartilhada entre vinhos e comilanças jamais revelou para o combativo parlamentar eventuais derrapadas criminosas do amigo de longa data. Por que será que ninguém pergunta sobre isso?

Mas o que faria você, leitor, se fosse acusado injustamente de um crime? Iria buscar amparo nos sites de jornalistas amigos, atirando contra tudo e todos, ou recorreria à instância legal para contestar peça investigativa que considera contaminada pela política?

Mentira e demagogia Especialmente contra o governador Confúcio Moura, o falatório de Hermínio não produz comoção alguma. Sem dúvida as denúncias formuladas contra o cunhado do governador, o famoso Assis, são graves e têm de ser investigadas, e como ele já as encaminhou ao Ministério Público, o que se requer de um presidente de um poder é a atitude de cobrar consequências naquela instituição, e não promover a mentira e a demagogia, como a promessa de instalar uma comissão processante para deflagrar processo de impeachment do governador. Não há a mínima condição moral e política para isso. Não se pode enganar a todos ao mesmo tempo e por longo tempo.

Falta seriedade Há visível enfraquecimento na estratégia de Hermínio, e a nota a mim confirmada como de procedência de sua assessoria, divulgada por diversos sites no dia da prisão de Beto Baba, sexta-feira 12, é também um golpe na credibilidade da imprensa, que a reproduziu sem apuração e questionamento necessários. Sobra leviandade, falta seriedade. Ação judicial por parte do governador Confúcio Moura facilmente seria ganha contra afoitos “jornalistas”.

“Investigações policiais comprovam envolvimento do governador e ex-ministro com organização criminosa” é o titulo do release, o qual vi difundido ao menos em sete sites, logo destacando no lead que documentos sigilosos da Polícia Civil comprovam “o estreito e íntimo relacionamento do governador e ex ministro Mangabeira Unger com a organização criminosa.”

No texto nem uma única pista dessa relação digamos promíscua, como a transcrição de um diálogo, imagens de reunião comprometedora ou qualquer outro elemento que possa denunciar o governador envolvido com os traficantes.

Exorcizado Uma coisa é certa: o cunhado Assis tem de definitivamente ser exorcizado do Palácio Presidente Vargas. Na órbita do governo, sua presença não pode ser mais do que a lembrança de alguém interditado duramente para que não exercite mais o tráfico de influência. E que seja investigado pelas renitentes acusações sofridas.


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