RONDÔNIA: CONFÚCIO, EDUCAÇÃO E DESEJOS

EMMANOEL GOMES

Publicada em 28/09/2011 às 11:46:00

PROFESSOR E HISTORIADOR, MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.
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Todas as pessoas sabem o quanto um bom modelo de educação é fundamental no desenvolvimento de um país e no combate aos desmantelos sociais. Estamos vivendo, em Rondônia, um momento especial, nunca tivemos o poder público tão afoito, com um discurso voltado para a educação de forma tão aberta. Sei da dificuldade de se modificar o que historicamente está estabelecido. No Brasil e nas barrancas desses rios amazônicos, se estabeleceu uma cultura de desanimo e pessimismo que impede muitas pessoas de acreditarem e colaborarem com novas possibilidades e mudanças.

Existe um desgaste gerado pela imoralidade política, corrupção deslavada e completa ausência de compromisso dos dirigentes, excetuando-se algumas poucas pessoas. Esse quadro fez com que a maioria dos cidadãos perdesse a fé em relação às mudanças tão necessárias nos vários gargalos sociais, como educação, segurança e saúde.
Sabemos que o processo de desmonte dos valores sociais passa necessariamente pelo desmonte da educação e acima de tudo, desmonte do mais importante personagem neste processo todo que é o professor.

Interessante observar o caminho traçado por “autoridades e burocratas” em relação às possíveis soluções para resolver o abismo existente nos serviços sociais brasileiros, sendo a educação o principal deles.
No geral, as soluções apontadas para melhoria da educação não passam de paliativos, pois simplesmente não observam uma coisa fundamental: o professor.

"Um professor afeta a eternidade; é impossível dizer até onde vai sua influência." (Henry Adams)
Todas as propostas apresentadas são acompanhadas de questões como aumento da carga horária dos professores sem aumento de salários. Mudanças no planejamento escolar e melhor qualificação do professor. Temos a impressão de que o profissional mais desqualificado do mercado é o professor.

São completamente equivocadas as soluções que não enxergam que a solução dos problemas na educação será apontada por seu principal responsável o professor.
Absolutamente tudo dentro de uma escola deve existir se for para auxiliar, ajudar, amparar, motivar, valorizar, prestigiar aquele que é o fundamental na tal relação ensino aprendizagem.

Quem realiza, possibilita, gera e revela o ato do aprendizado é aquele que foi diluído ao ponto de “quase não existir” na atual escola brasileira, o pobre professor.
Todos pelo professor, esse ser mágico que pode fazer a diferença ao adentrar a sala de aula e encantar, maravilhar, iluminar o futuro desse mais pobre ainda, país de bananas e bananadas.
Um movimento em prol da educação está ocorrendo no município de Vilhena envolvendo os trabalhadores e vai gerar resultados maravilhosos.

Estamos engendrando vários diálogos com os principais personagens ligados a educação pública e privada. Professores dos três níveis, municipal, estadual e federal. Técnicos das redes, o delegado de ensino e o secretário municipal de educação.
A coisa está andando e logo apresentaremos resultados concretos como, uma melhor colocação no ENEM e outras avaliações de caráter nacional.

Primeiro, sabemos que as questões devem levar em consideração que ensino médio e superior terá resultados melhores se as mudanças se iniciarem na alfabetização, nos primeiros anos da vida escolar.
Podemos e estamos discutindo melhorias no ensino médio, porém essas melhorias não podem perder o horizonte da necessidade de melhorarmos os anos iniciais.

É fundamental entendermos o belo momento que temos. Por mais que alguns critiquem, temos na atual conjuntura um governador que dialoga, pondera, e ouve as pessoas. Um governador que sabe a necessidade de buscar novos caminhos. Uma pessoa que é sensível a questão da educação, cultura, arte e história, e que está priorizando caminhos que possam levar as tão desejadas melhorias.
Existe a necessidade de se entender que a educação brasileira sempre viveu em crise, porém não há nada que nos impeça de enfrentá-la.

Em qualquer país desenvolvido do mundo, o modelo educacional se relaciona com a ideia de se construir uma inteligência que seja capaz de pesquisar, administrar, produzir e defender suas riquezas materiais e culturais, e assim, promover junto a todos que estejam na sombra da pátria o bem comum.
A turma do mal, que sempre se junta ao grupo dos que pretendem o fracasso e pessimismo, aos que sobrevivem de achaques, extorsão e covardias, aos que simplesmente perderam a fé. Esses não compreenderão o momento único por que passamos.

Governos anteriores, principalmente o último, apregoavam que professor precisava criar vergonha na cara e ir trabalhar. Apregoava que sucesso financeiro não tinha nada a ver com educação, que governo tinha que atuar somente na abertura de estradas e citava seu próprio exemplo como alguém que não acumulou a obesa riqueza que possui como resultado de um dia ter ida à escola.

Em função da truculência, intimidação e arrogância, impedia os diálogos. Falou por oito anos sem construir um único dialogo sincero, fraterno e democrático. Fez tanto que atualmente precisa ser protegido por vários seguranças pagos pelo Estado, com o seu, meu, nosso dinheiro que, aliás, falta tanto na educação pública.
Meu velho pai, com sua simplória sabedoria, divulgava um dito popular que bem cabe aqui, “quem muito conversa dá bom dia a cavalo”. Essa é a mais clara expressão que podemos aplicar ao passado recente de Rondônia.
Duas propostas estão sendo encaminhadas a partir desses diálogos com trabalhadores em educação em Vilhena e estamos certos da boa colheita que teremos muito breve.

Em primeiro lugar, temos claro que a escola é lugar por excelência de saber, cultura e arte. Não podemos permitir que as piores experiências da cultura nacional encontrem “abrigo” em tão nobre espaço do saber.

Chegou a hora de todos os professores e demais trabalhadores da educação atuarem severamente para que os péssimos exemplos “culturais” expressadas em músicas como Créu, Lapada na Rachada, A Bicicletinha, O Pente e tantas outras que afrontam a inteligência e valores morais ocupem o ambiente que deve ser visto como “um templo sagrado do saber”.
A escola é um edifício com quatro paredes e o amanhã dentro dele. (George Bernard Shaw, dramaturgo irlandês)
Não devemos duvidar de que os baixos índices de aprovação nas provas nacionais estão relacionadas com o estrago provocado pelo lixo cultural existente em nossas escolas, principalmente em eventos como gincanas, feiras e festas juninas. Nós professores na maioria das vezes fazemos de conta que a bestialização da escola e nossos alunos é um processo natural e não podemos fazer nada.

Em minha sala de aula quem manda, sou eu. Em minha escola quem deve exercer a maior influencia, nós professores e não o Big Brother Brasil, Gu- Gu, e demais prostituição dos valores culturais existente na porca mídia nacional.
A escola, ao contrário, deve abrigar a rica arte brasileira através de nossa grande poesia, literatura, escultura artes plásticas e musicalidade de artistas nacionais e locais como: Djavan, Maria Rita, Rita Lee, Legião Urbana, Engenheiros, Chico Buarque, Milton Nascimento, Ton Jobim, Vinícius, Gonzagão, Almir Sater, Renato Teixeira, Keila Castro, Gilson Maciel, Marcos Biezek, Mário Miléo, Bado, Ceissa, Márcia Brasileiro, Binho, Ernesto Melo, Celma Ernandez, Baaribú Nonato etc.
É preciso criar espaço para os alunos possuidores de talentos seja nas artes plásticas, música, teatro, desenho, poesia, literatura, dança etc. É incrível como nossas escolas foram dominadas por tão pobres expressões da arte e cultura nacional.
"A Arte evoca o mistério, sem a qual o mundo não existiria."

René Magritte.
Se houver a militância em prol dessa causa teremos outra escola. A busca pela compreensão da grande cultura nacional como a obra de Chico Buarque de Holanda, ou a capacidade mínima de se conhecer e interpretar Fernando Pessoa e demais expoentes da cultura, deve se juntar a luta para se compreender melhor a matemática, história, física etc.

O resultado será extraordinário. Em Vilhena estamos refletindo profundamente essas questões, inclusive, a AVL, Academia Vilhenense de Letras tem participado com seus membros aprofundando os diálogos. Vários poetas da academia, artistas plásticos e músicos estão aderindo à nobre militância e contribuirão para que essa idéia frutifique.
Outro ponto fundamental que está em discussão é o modelo da avaliação. O modelo atual é impraticável, gerador dos péssimos resultados nas avaliações nacionais, regionais e até municipais. O atual modo de avaliação não se parece nem de longe com o que se exige do aluno nas avaliações e experiências do ENEM.

Precisamos levar um modelo de avaliação para o período entre o sexto ano do ensino fundamental e terceiro ano do médio que se assemelhe ao ENEM e demais provas dos vestibulares.
A questão é muito simples, vamos aplicar o simulado de acordo com cada nível escolar sendo um simulado para cada bimestre, esse simulado vai gerar uma nota que será aumentada pelas tarefas, provas, avaliações e trabalhos posteriores. Teremos uma avaliação seqüenciada, continuada onde o aluno vai produzir em função da necessidade de melhorar a nota e sentir que as atividades o ajudarão a passar no ENEM.

Todas as atividades de sala de aula deverão se relacionar com as quatro grandes áreas do ENEM.
No ano passado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a cobrar o conteúdo do ensino médio dividido em quatro áreas do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; e ciências da natureza e suas tecnologias.

Os resultados e sucesso de cada aluno dependem do padrão cultural acumulado na jornada escolar do aluno.
Com o melhoramento desse padrão cultural e um modelo de avaliação mais parecido com a avaliação do ENEM, poderemos crer em melhores resultados e até numa paridade entre o desempenho de nossas escolas públicas em relação às escolas privadas.