Rondônia e frio: tudo a ver

Professor Nazareno*

Publicada em 06 de July de 2015 às 07:38:00

A forte massa de ar polar que penetrou esta semana no sul da região amazônica dando origem ao conhecido fenômeno da friagem trouxe também uma das maiores certezas de que se tem notícia por estas bandas: as “baixas temperaturas” têm tudo a ver e sempre combinaram com Porto Velho, sua gente e com o quente Estado de Rondônia. Todos os anos, os requintados, bem informados, intelectuais, exigentes, limpos e asseados habitantes da “capital das sentinelas avançadas” esperam por este atípico fenômeno da natureza. A chegada do inverno no hemisfério sul sempre foi comemorada anualmente com muita alegria e sorrisos por parte da população rondoniense. Aqui não é verão nesta época do ano, todos sabem disto. Com os ventos mais frios, a alegria abunda nas pessoas, o humor melhora e todos se sentem naturalmente mais felizes.

Povo riquíssimo em ancestralidade e conhecimentos de mundo, “os destemidos pioneiros” dão um show de criatividade e de elegância nesta atípica época do ano. Grossas, cheirosas e caras mantas e vestes são logo retiradas do guarda-roupa e passam a fazer parte do natural desfile de glamour pelas ruas e avenidas da capital. Na Avenida Jatuarana, uma espécie de Champs Élysées da zona sul da cidade, é notório o deslumbre de moda, charme, elegância, beleza e bom gosto que encantam a todos. Cidadãos alegres e impecavelmente limpos se confraternizando com os transeuntes é uma rara cena que já faz parte da nossa rotina. Lindas, jovens e encantadoras mulheres da alta sociedade local, todas bem maquiadas e com suas roupas requintadas dão o tom deste lugar que mais se parece com um paraíso e não com uma cidade apenas amazônica.

Muitas pessoas, óbvio, principalmente os nativos, acham deliciosos esses três dias de friagem, pois podem tomar com os amigos um Cabernet Sauvignon acompanhado de Bruschettas deliciosas, e, claro, usando um lindo e novo casaquinho quente trazido de São Paulo ou mesmo da Europa durante as últimas férias. Na Avenida José Amador dos Reis, na romântica e paradisíaca zona leste da cidade, a cena não é diferente do restante da capital. A alegria estampada no rosto das pessoas dá o tom idílico de Éden que esta cidade vive nestes dias. Não se sabe ainda o porquê, mas nesta época “fria” do ano os políticos daqui ficam mais alegres e felizes, já que os roubos e assaltos ao Erário diminuem bastante. Mas não posso falar sobre esse assunto, pois determinismo geográfico só com professores “formados com orgulho” em Londrina/PR.

O frio daqui também nos traz boas mudanças de hábito. A culinária na capital dos rondonienses, por exemplo, atrai turistas do mundo inteiro neste período do ano. O cheiro inconfundível de sopas deliciosas e finas iguarias “empesta” a cidade com o seu aroma inconfundível e peculiar. Toda esta felicidade associada ao perfume natural das muitas flores em nossas inúmeras praças, e com um ventinho gelado soprando, cria a sensação de estarmos em Vancouver, Munique ou Geneve. Além disso, a produção intelectual nas muitas e reconhecidas universidades locais praticamente triplica. Jornalistas, consultores, profissionais liberais e até humildes professores fazem discursos em praças públicas incentivando a boa leitura para os nossos jovens. Os médicos, muitos deles já formados por aqui mesmo, já não mais reconhecem só a virose como uma doença telúrica. “Frio, por que insistes em ficar tão pouco tempo entre nós”?

*É Professor em Porto Velho.