Sejamos pelo menos coerentes

(*) Valdemir Caldas

Publicada em 16 de July de 2013 às 18:01:00

Muito se falou, até agora, sobre o resultado da operação Apocalipse, desencadeada pela Polícia Civil, que mandou para a cadeira um punhado de pessoas, dentre elas políticos, assessores de políticos, filho de político e empresários. Falou-se, por exemplo, que a ação policial não passou de armação política; que um inocente teria sido preso no lugar de um marginal contumaz. E aí eu pergunto: que tipo de magistrado mandaria expedir um mandado de prisão se não dispusesse dos elementos essenciais que sustentassem sua decisão, correndo o risco de expor-se ao ridículo e, de quebra, ainda jogar na lata de lixo a credibilidade da instituição à qual pertence? Sejamos pelo menos coerentes. Tenhamos um pouco de humilde (que é sinal de grandeza a que nem todos estão acostumados) para reconhecer a qualidade do material produzido pela polícia. Por que insistir na defesa de teses estapafúrdias, tentando desmerecer uma investigação que consumiu quase dois anos de trabalho de profissionais sérios e competentes? O escândalo foi destaque no programa Fantástico da Rede Globo de Televisão de domingo passado.

A notícia só não teve o efeito de uma bomba porque parcela expressiva da sociedade, infelizmente, tornou-se impermeável a certas manifestações, tão acostumada está como a impunidade, à corrupção e o corporativismo, a ponto de considerar normal um parlamentar manter em seu gabinete funcionários fantasmas, ganhando quatro, cinco e até sete mil reais, enquanto a grande maioria dos que carrega a máquina oficial nas costas percebe um salário de fome.

Repentinamente, contudo, as cosias parecem ir assumindo a feição de tantas outras, responsáveis pelo descrédito que envolve
a sociedade com a classe política e os partidos. Quem ainda se lembra da operação Dominó, ofuscada pela operação Termópilas? Logo, virá um novo escândalo, que substituirá o atual. E assim por diante, como se vivêssemos no eterno mundo de telenovelas, assistindo apenas um novo programa substituindo o antigo, até a audiência cansar-se da trama – quase sempre igual no que temde ilegal e impune. Por isso, em vez de se lançar dúvidas sobre o trabalho da polícia, por simples despeito ou coisa do gênero, devemos incentivá-la a continuar firma no cumprimento de sua missão constitucional.