... não, desliga você

'A iniciativa do presidente norte-americano em telefonar diz muito sobre a importância de Lula no cenário político global', escreve Oliveiros Marques

Fonte: Oliveiros Marques - Publicada em 07 de outubro de 2025 às 09:28

... não, desliga você

A ligação feita por Trump para Lula, na manhã desta segunda-feira, não muda em nada o que o presidente norte-americano representa para a democracia no mundo - e muito menos altera o lugar em que está posicionado o presidente brasileiro. Trump continua sendo aquele que flerta com o fascismo, enquanto Lula segue acreditando que outro mundo é possível e militando, como faz há décadas, para construí-lo.

Ainda assim, a iniciativa do bilionário norte-americano em telefonar diz muito sobre a importância de Luiz Inácio no cenário político global. E, claro, revela também o peso do Brasil no mercado mundial - especialmente em sua relação com os Estados Unidos.

Mas talvez o aspecto mais simbólico desses trinta minutos de conversa, em que, segundo o próprio Trump, foi reafirmada a “química” entre os dois, seja o reflexo na política doméstica brasileira. É evidente que os resultados das conversas - que agora terão sequência com Marco Rubio representando o governo norte-americano e com o possível encontro entre Lula e Trump - são imprevisíveis. Já vimos que sensatez e lucidez não são exatamente artigos abundantes quando se fala em governo Trump. Ainda assim, é inegável que o episódio mexe com o tabuleiro político local.

O primeiro efeito, ao que parece, é a aceleração do isolamento de Eduardo Bolsonaro. O “Bananinha” tende a ficar cada vez mais abandonado pelas terras do Pateta. O Centrão, que nunca escondeu o desejo de manter distância do 03, ganhou mais um argumento - e certamente saberá usá-lo.

Quem ganha força com isso? Difícil dizer. Mas cresce, a meu ver, a possibilidade de Tarcísio recusar a missão de enfrentar Lula. Ele pode abrir espaço para que outro nome se nacionalize, mas sua estratégia parece incluir a hipótese de permanecer no cargo de governador. Nesse cenário, Ratinho Junior - o substituto imediato, o “regra 2” - ficaria quatro anos sem mandato, o que dificultaria seu retorno em 2030.

Ainda assim, é possível que Ratinho não tenha alternativa. Pessoas próximas a ele dizem que uma vaga no Senado não o atrai, o que é compreensível para quem está há oito anos no Executivo. É plausível imaginar que ele decida pagar para ver. E, se for, um caminho talvez seja o de uma campanha plebiscitária, em que Caiado e Zema recolham os flaps e disputem o Senado por Goiás e Minas, formando uma frente única da direita para tentar reduzir a vantagem de Lula.

Mas o fato é que, do ponto de vista simbólico, a ligação fortalece Lula e torna a empreitada da direita cada vez mais difícil. Pouco importando quem foi o primeiro a desligar, ou se a ligação terminou com um “one, two, three” tun... tun... tun...

Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas.

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'A iniciativa do presidente norte-americano em telefonar diz muito sobre a importância de Lula no cenário político global', escreve Oliveiros Marques

Oliveiros Marques
Publicada em 07 de outubro de 2025 às 09:28
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A ligação feita por Trump para Lula, na manhã desta segunda-feira, não muda em nada o que o presidente norte-americano representa para a democracia no mundo - e muito menos altera o lugar em que está posicionado o presidente brasileiro. Trump continua sendo aquele que flerta com o fascismo, enquanto Lula segue acreditando que outro mundo é possível e militando, como faz há décadas, para construí-lo.

Ainda assim, a iniciativa do bilionário norte-americano em telefonar diz muito sobre a importância de Luiz Inácio no cenário político global. E, claro, revela também o peso do Brasil no mercado mundial - especialmente em sua relação com os Estados Unidos.

Mas talvez o aspecto mais simbólico desses trinta minutos de conversa, em que, segundo o próprio Trump, foi reafirmada a “química” entre os dois, seja o reflexo na política doméstica brasileira. É evidente que os resultados das conversas - que agora terão sequência com Marco Rubio representando o governo norte-americano e com o possível encontro entre Lula e Trump - são imprevisíveis. Já vimos que sensatez e lucidez não são exatamente artigos abundantes quando se fala em governo Trump. Ainda assim, é inegável que o episódio mexe com o tabuleiro político local.

O primeiro efeito, ao que parece, é a aceleração do isolamento de Eduardo Bolsonaro. O “Bananinha” tende a ficar cada vez mais abandonado pelas terras do Pateta. O Centrão, que nunca escondeu o desejo de manter distância do 03, ganhou mais um argumento - e certamente saberá usá-lo.

Quem ganha força com isso? Difícil dizer. Mas cresce, a meu ver, a possibilidade de Tarcísio recusar a missão de enfrentar Lula. Ele pode abrir espaço para que outro nome se nacionalize, mas sua estratégia parece incluir a hipótese de permanecer no cargo de governador. Nesse cenário, Ratinho Junior - o substituto imediato, o “regra 2” - ficaria quatro anos sem mandato, o que dificultaria seu retorno em 2030.

Ainda assim, é possível que Ratinho não tenha alternativa. Pessoas próximas a ele dizem que uma vaga no Senado não o atrai, o que é compreensível para quem está há oito anos no Executivo. É plausível imaginar que ele decida pagar para ver. E, se for, um caminho talvez seja o de uma campanha plebiscitária, em que Caiado e Zema recolham os flaps e disputem o Senado por Goiás e Minas, formando uma frente única da direita para tentar reduzir a vantagem de Lula.

Mas o fato é que, do ponto de vista simbólico, a ligação fortalece Lula e torna a empreitada da direita cada vez mais difícil. Pouco importando quem foi o primeiro a desligar, ou se a ligação terminou com um “one, two, three” tun... tun... tun...

Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas.

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