A ascensão da IA e a batalha pela confiança no jornalismo
"A inteligência artificial generativa não decretará o fim do jornalismo. O risco real é outro"
A entrada definitiva da inteligência artificial generativa nas redações não é mais uma previsão futurista, mas uma realidade que vem remodelando silenciosamente a produção de notícias. Seu avanço oferece oportunidades inéditas de eficiência, mas também produz dilemas profundos sobre transparência, responsabilidade editorial e confiança, o ativo mais precioso do jornalismo.
Quem me apresentou à Inteligência Artificial foi Leonardo Attuch, nosso diretor. Estava em sua sala e vi, na prateleira atrás de sua mesa, um livro tamanho grande sobre o arquiteto Oscar Niemayer. “Foi esse livro que me deu subsídios importantes para escrever a matéria sobre Niemayer, aquela que foi publicada na revista italiana Ulisse 2000 e me rendeu o Prêmio de Melhor Texto do Ano na Itália sobre Arquitetura, a premiação instituída pela Fundação Caoduro”, disse eu. “Aquela em que você diz que Niemayer se inspira nas linhas curvas e femininas do corpo da mulher para fazer seus projetos?” Era essa mesmo. E Leo abriu seu IPad: “Vou te mostrar uma coisa incrível que está sendo lançada”. Digitou no aparelho uma frase tipo “Oscar Niemayer e as linhas do corpo da mulher”. Nem um minuto se passou e ele me mostrou o resultado: um texto extenso, corrido, bem fundamentado sobre o assunto. No começo eu não conseguia acreditar: o trabalho era simplesmente melhor e mais rico do que o meu artigo premiado! Era a IA dos chats GPT da vida me abrindo as suas portas.
Desde então, cada dia mais, o jornalismo vive uma encruzilhada histórica. A inteligência artificial generativa, antes vista como curiosidade tecnológica, tornou-se parte do dia a dia das redações. Ela escreve, resume, traduz, sugere títulos e até cria pautas. É eficiente, rápida e barata - e exatamente por isso exige vigilância redobrada.
A incorporação da IA ao processo jornalístico poderia ser uma oportunidade: liberar profissionais de tarefas repetitivas, ampliar o acesso à informação, fortalecer investigações e tornar redações mais ágeis. Mas esse potencial positivo esbarra em uma questão central que não pode ser ignorada: a transparência.
Hoje, uma parcela crescente das notícias publicadas no mundo já é produzida parcial ou totalmente com auxílio de IA - e quase sempre sem que o leitor seja informado. Essa atitude mina o pacto básico entre imprensa e público. O leitor tem o direito de saber quem escreveu a notícia. Quando essa autoria se torna nebulosa, o jornalismo perde seu principal capital: a confiança.
O problema não é a tecnologia. O problema é a opacidade. A IA generativa pode errar, reproduzir vieses, inventar fatos com aparência de precisão. Pode transformar informação em mercadoria padronizada, empobrecendo a singularidade da apuração jornalística. Por isso, seu uso deve ser transparente, declarado e submetido à revisão humana rigorosa.
Há quem argumente que a pressa competitiva da era digital justifica a adoção irrestrita desses sistemas. Não justifica. Em um ambiente saturado de desinformação, a imprensa não pode se permitir competir na base da quantidade e da velocidade, mas na base da credibilidade. O jornalismo não pode abrir mão de ser reconhecido como um ofício humano, guiado por critérios de responsabilidade e julgamento crítico.
O futuro das redações será, inevitavelmente, híbrido: máquinas auxiliando, humanos decidindo. Mas cabe à imprensa estabelecer normas claras - e públicas - sobre como a IA é utilizada. O leitor merece essa franqueza. E o jornalismo precisa dela para sobreviver.
A revolução tecnológica é irreversível. O compromisso ético, não. O desafio da imprensa contemporânea é incorporar a inteligência artificial sem sacrificar a inteligência humana que dá sentido a sua existência.
De modo que, para concluir, podemos afirmar desde já que o futuro será híbrido - e exigirá confiança ativa.
A inteligência artificial generativa não decretará o fim do jornalismo. O risco real é outro: que ela acelere a erosão da confiança pública, caso seja adotada de forma opaca, irresponsável ou excessivamente dependente de automação.
O jornalismo que sobreviverá será aquele capaz de integrar a tecnologia sem abrir mão dos valores que o definem: rigor, responsabilidade, verificação humana e transparência. A IA pode ser a maior revolução nas redações desde a internet. Mas a confiança continuará sendo obra - insubstituível - de seres humanos.
Luis Pellegrini
Luís Pellegrini é jornalista e editor da revista Oásis
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