Ajudadora enfrenta prisão e disputa com enteados

“As mensagens de Michelle desafiam e confundem o fascismo e toda a direita”, escreve Moisés Mendes

Fonte: Moisés Mendes - Publicada em 02 de dezembro de 2025 às 18:46

Ajudadora enfrenta prisão e disputa com enteados

A guerra deflagrada por Michelle contra os enteados é entendida como um conflito dela com Ciro Gomes, mas só pelos mais ingênuos. Ciro está para Michelle como Bolsonaro esteve para Trump. É só um bom pretexto.

Cearenses, paulistas, gaúchos e sergipanos sabem, desde o começo da briga, que Michelle usa os atritos regionais com Ciro para tentar se impor junto aos filhos de Bolsonaro. Mesmo que existam — e claro que existem — os conflitos locais de interesse no fato de o PL se aprochegar ao tucano.

Michelle entrou na guerra pelo governo do estado, defendendo Eduardo Girão como seu candidato, e pelas candidaturas às duas vagas para o Senado, que envolvem disputas dentro do bolsonarismo. E aproveitou para afrontar o núcleo familiar que ainda a rejeita.

Se não tivesse os conflitos cearenses, iria encontrar, como achou em Fortaleza, outro lugar e outras brigas para dizer que disputará a hegemonia caseira da extrema direita com Eduardo, Flavio e Carluxo.

É jogo pesado. A nota que largou nessa terça-feira, em resposta aos enteados, é coisa de profissional. Aborda a condição de mulher e de mãe com maestria:

“Antes de ser uma líder política, eu sou mulher, sou mãe, sou esposa e, se tiver que escolher entre ser política, mãe ou esposa, ficarei com as duas últimas opções”.

E dá um recado, na condição de política, que os irmãos terão de aceitar ou refutar, se forem capazes de reagir. Diz que Bolsonaro pode estar errado no apoio a Ciro e que ela tem voz e deseja ser respeitada nas discordâncias com o marido e os enteados.

Na amarração, um nó em tom evangélico: pede perdão por ter provocado conflitos na família e fortalece sua vocação religiosa. Michelle é a que perdoa, mas não recua.

E agora? É Michelle quem está atacando, e os irmãos se defendem do jeito que dá. Bolsonaro está preso, Valdemar Costa Neto tenta conter a leoa, assim definida por Girão, e a extrema direita já faz as contas do primeiro balanço. Michelle grita: eu entendo de direita, não vocês.

Qual será o estrago da guerra na família nas estruturas do fascismo? O que Tarcísio ganha ou perde com isso? Como as bases reagem a uma situação em que uma mulher enfrenta três homens, enquanto o marido puxa cadeia? O que a guerra significa para Lula?

As primeiras batalhas provocam outros desdobramentos, para muito além do ambiente do bolsonarismo. Mais adiante, ficaremos sabendo, pelas reações da velha direita, como Michelle passa a ser vista sem o modelito de santinha dos Bolsonaros.

Ela já visitou o marido na cadeia vestida toda de preto e com óculos escuros. Seria uma viúva clássica, se não acenasse para os apoiadores e sorrisse em pose de mulher forte e feliz para os fotógrafos.

Michelle está dando dribles em quem estiver por perto, desorientando boa parte das lideranças fascistas e largando pontos de interrogação sobre as cabeças de Valdemar, Ciro, Kassab e pelo menos dois terços do Congresso.

Os filhos conseguirão contê-la como orientadora de condutas? A direita vai querer segurá-la? O que Bolsonaro, deprimido na prisão, pode fazer para acalmar o clã, sabendo que ela disse, na nota de resposta aos três irmãos, que desafia inclusive as ideias do marido?

Michelle pode não estar se livrando da tornozeleira do comando familiar, porque talvez não sobreviva em total liberdade e sem a “submissão saudável” ao marido encarcerado. Mas começa a testar sua força, chamando muita gente para a briga.

Michelle tenta também atrair a atenção da direita não bolsonarista. Observadores de redes sociais, que medem humores com métricas, asseguram que ela está vencendo.

Se decidir sair pelo Brasil dizendo o que pensa, com lugar de fala de mulher, mãe e política, quem será capaz de segurar o que pode ser o novo bolsonarismo de Michelle, a ex-ajudadora?

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

Ajudadora enfrenta prisão e disputa com enteados

“As mensagens de Michelle desafiam e confundem o fascismo e toda a direita”, escreve Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 02 de dezembro de 2025 às 18:46
Ajudadora enfrenta prisão e disputa com enteados

A guerra deflagrada por Michelle contra os enteados é entendida como um conflito dela com Ciro Gomes, mas só pelos mais ingênuos. Ciro está para Michelle como Bolsonaro esteve para Trump. É só um bom pretexto.

Cearenses, paulistas, gaúchos e sergipanos sabem, desde o começo da briga, que Michelle usa os atritos regionais com Ciro para tentar se impor junto aos filhos de Bolsonaro. Mesmo que existam — e claro que existem — os conflitos locais de interesse no fato de o PL se aprochegar ao tucano.

Michelle entrou na guerra pelo governo do estado, defendendo Eduardo Girão como seu candidato, e pelas candidaturas às duas vagas para o Senado, que envolvem disputas dentro do bolsonarismo. E aproveitou para afrontar o núcleo familiar que ainda a rejeita.

Se não tivesse os conflitos cearenses, iria encontrar, como achou em Fortaleza, outro lugar e outras brigas para dizer que disputará a hegemonia caseira da extrema direita com Eduardo, Flavio e Carluxo.

É jogo pesado. A nota que largou nessa terça-feira, em resposta aos enteados, é coisa de profissional. Aborda a condição de mulher e de mãe com maestria:

“Antes de ser uma líder política, eu sou mulher, sou mãe, sou esposa e, se tiver que escolher entre ser política, mãe ou esposa, ficarei com as duas últimas opções”.

E dá um recado, na condição de política, que os irmãos terão de aceitar ou refutar, se forem capazes de reagir. Diz que Bolsonaro pode estar errado no apoio a Ciro e que ela tem voz e deseja ser respeitada nas discordâncias com o marido e os enteados.

Na amarração, um nó em tom evangélico: pede perdão por ter provocado conflitos na família e fortalece sua vocação religiosa. Michelle é a que perdoa, mas não recua.

E agora? É Michelle quem está atacando, e os irmãos se defendem do jeito que dá. Bolsonaro está preso, Valdemar Costa Neto tenta conter a leoa, assim definida por Girão, e a extrema direita já faz as contas do primeiro balanço. Michelle grita: eu entendo de direita, não vocês.

Qual será o estrago da guerra na família nas estruturas do fascismo? O que Tarcísio ganha ou perde com isso? Como as bases reagem a uma situação em que uma mulher enfrenta três homens, enquanto o marido puxa cadeia? O que a guerra significa para Lula?

As primeiras batalhas provocam outros desdobramentos, para muito além do ambiente do bolsonarismo. Mais adiante, ficaremos sabendo, pelas reações da velha direita, como Michelle passa a ser vista sem o modelito de santinha dos Bolsonaros.

Ela já visitou o marido na cadeia vestida toda de preto e com óculos escuros. Seria uma viúva clássica, se não acenasse para os apoiadores e sorrisse em pose de mulher forte e feliz para os fotógrafos.

Michelle está dando dribles em quem estiver por perto, desorientando boa parte das lideranças fascistas e largando pontos de interrogação sobre as cabeças de Valdemar, Ciro, Kassab e pelo menos dois terços do Congresso.

Os filhos conseguirão contê-la como orientadora de condutas? A direita vai querer segurá-la? O que Bolsonaro, deprimido na prisão, pode fazer para acalmar o clã, sabendo que ela disse, na nota de resposta aos três irmãos, que desafia inclusive as ideias do marido?

Michelle pode não estar se livrando da tornozeleira do comando familiar, porque talvez não sobreviva em total liberdade e sem a “submissão saudável” ao marido encarcerado. Mas começa a testar sua força, chamando muita gente para a briga.

Michelle tenta também atrair a atenção da direita não bolsonarista. Observadores de redes sociais, que medem humores com métricas, asseguram que ela está vencendo.

Se decidir sair pelo Brasil dizendo o que pensa, com lugar de fala de mulher, mãe e política, quem será capaz de segurar o que pode ser o novo bolsonarismo de Michelle, a ex-ajudadora?

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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