As vacinas contra o rotavírus (II)

Crianças bem nutridas, principalmente se alimentadas com leite materno, resistem melhor à infecção.

Publicada em 02/01/2013 às 16:48:00

Por Silas A. Rosa (*)

                                   O rotavírus é um importante agente causador de infecções intestinais nas crianças e que ocorre em todo o mundo, inclusive nos países desenvolvidos. No entanto sua importância cresce em função da precariedade econômica, como apontamos no artigo anterior. Crianças bem nutridas, principalmente se alimentadas com leite materno, resistem melhor à infecção.

                                   Existem hoje duas vacinas em uso para prevenir a ocorrência da doença causada pelo rotavírus: uma vacina conhecida internacionalmente pelo nome de “rotarix” e outra, a “rotateq”. No Brasil estes nomes, por força de um dispositivo legal, não são empregados e chamamos a rotarix de vacina monovalente para o rotavírus e a rotateq de vacina pentavalente para o rotavírus. Ambas são vacinas de vírus vivos atenuados, sendo que a primeira apresenta  um só sorotipo do vírus e a segunda apresenta 5 sorotipos virais. São administradas por via oral, a primeira em duas doses aos 2 e 4 meses de vida e a segunda em três doses, aos 2, 4 e 6 meses de vida.

                                   Na rede pública a vacina utilizada é a monovalente. Sua introdução no calendário do PNI aconteceu em 2006.

                                   É muito comum, embora incompreensível que as famílias atrasem a administração das vacinas. Um simples resfriado, uma discreta mudança no comportamento da criança, um leve quadro dermatológico, às vezes são pretextos para protelar a vacinação. Com relação às vacinas contra o rotavírus isto pode ser crucial. A primeira dose vacina dada na rede pública brasileira com 2 meses de idade só pode ser dada até 3 meses e 7 dias e a segunda dose, que regularmente é dada aos 4 meses, só pode ser dada até 5 meses e 15 dias.

                                   A razão de ser desses rigorosos limites temporais tem uma explicação. Antes do licenciamento dessas duas vacinas foi utilizada uma vacina anterior chamada “rotashield”, derivada de um sorotipo de rotavírus símio. A rotashield foi usada em crianças de diferentes idades e com o tempo se observou uma frequência  mais elevada de intussuscepção entre as crianças vacinadas que entre as não vacinadas. Intussuscepção, popularmente chamada de “nó nas tripas” ocorre quando o intestino adentra-se sob si mesmo e é uma importante causa de obstrução intestinal. A rotashield foi abandonada por esta razão e uma análise estatística dos casos mostrou que a complicação ocorria mais nas crianças de maior idade. Com as atuais vacinas, a rotarix derivada de rotavírus humano e a rotateq, derivada de rotavírus bovino-humano, não se observou elevação significativa na ocorrência de intussuscepção, mas, por precaução, tem-se evitado a administração para as crianças maiores. Depois da introdução da vacina rotarix no Brasil, foi feita uma avaliação da ocorrência de intussuscepção entre os vacinados e observou-se uma discretíssima elevação da ocorrência nos sete dias após a segunda dose. Esta elevação é tão pequena que fica muito aquém dos benefícios da vacina, numa análise de custo e benefício. Com o uso internacional destas vacinas atuais e a observação de sua segurança, é de se esperar para o futuro a ampliação dos limites etários. A ACIP, órgão do Governo Norte-Americano, que corresponde a nossa ANVISA e a quem cabe normatizar as práticas de vacinação naquele país, já ampliou um pouco os limites. Embora a vacina monovalente para o rotavírus esteja sendo aplicada a apenas seis anos em nosso país (que foi um dos pioneiros na introdução dessa vacina na rede pública), já existem estatísticas apontando para uma diminuição na ocorrência da doença diarrêica, num ritmo que supera aquele que seria esperado apenas em função da gradativa melhora nas condições sócio-econômicas, que era o ritmo observado antes da introdução da vacina. Análises posteriores a introdução da vacina no Brasil mostram que as internações por doença diarréica de qualquer natureza diminuíram em 50% e que a mortalidade por doença diarréica caiu em 40%.

                                   Finalizando, queremos dizer que o rotavírus é transmitido por contato interpessoal, daí seu caráter de patógeno que acomete todos os países, inclusive os desenvolvidos. A melhoria nas condições econômicas, com reflexo nas condições de vida e saúde, como na universalização do saneamento básico, é importante para evitar outros patógenos que podem contaminar água e alimentos, o que não é o caso do rotavírus. Para o rotavírus a vacina é a única forma de prevenção importante.

(*) Silas A. Rosa é médico formado na USP em 1972, com título de especialista em Pediatria pela AMB e SBP, mestre em Biologia Experimental, Professor de Pediatria das Faculdades São Lucas e Fimca e representante da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizaçaões) em Rondônia.