Atendendo à obsessão do chefe, Aras quer ir a fundo na facada

Desde então passa dia sim, dia não repetindo ter sido vítima de conspiração comunista

Alex Solnik
Publicada em 03 de outubro de 2019 às 12:38
Atendendo à obsessão do chefe, Aras quer ir a fundo na facada

"Ao colocar na pauta nacional um tema que não tem nenhum interesse público, e não deixou dúvidas quanto à apuração, o novo PGR ajuda a melhorar a imagem do chefe", constata o jornalista Alex Solnik

Augusto Aras (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Bolsonaro não gostou das conclusões a que chegou a Polícia Federal no inquérito da facada: queria que Adélio tivesse participado de um complô de esquerda e não agido sozinho ao esfaqueá-lo, a 7 de setembro de 2018. 

Também contestou o relatório dos psicólogos que levou a Justiça a considerá-lo inimputável por ser portador de um transtorno mental.

Desde então passa dia sim, dia não repetindo ter sido vítima de conspiração comunista. Não deixa o assunto facada esfriar. Até na ONU agradeceu a Deus por estar vivo.

Ninguém dava ouvidos à teoria da conspiração de Bolsonaro até que ontem o novo PGR, Augusto Aras pediu a reabertura do caso. E PGR não pede, manda.

Além de desqualificar o trabalho da Polícia Federal (que não encontrou conspiração) e do Poder Judiciário (que o considerou inimputável), a demanda de Aras, logo no começo da sua gestão, sugere que ele não perdeu tempo em cumprir um dos acordos que supostamente assumiu com o presidente.

Bolsonaro já demonstrou mais de uma vez que é um cara ansioso e quem não o atende tão rapidamente quanto ele deseja pode sofrer consequências imprevisíveis.

Ao colocar na pauta nacional um tema que não tem nenhum interesse público, e não deixou dúvidas quanto à apuração, o novo PGR ajuda a melhorar a imagem do chefe, lembrando que ele é vítima e não gerador de violência – como  garantem seus críticos.

Além disso, entra de cabeça na campanha da reeleição: a facada elegeu Bolsonaro, a facada poderá reelegê-lo.

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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