Cadê a socialista que estava aqui? A esquerdogata comeu

As falas de Aline Bardy Dutra possuem várias camadas de preconceito

Fonte: Ricardo Nêggo Tom - Publicada em 28 de outubro de 2025 às 09:28

Cadê a socialista que estava aqui? A esquerdogata comeu

Aline Bardy Dutra, a "esquerdogata" (Foto: Reprodução )

O episódio envolvendo a influenciadora Aline Bardy Dutra, conhecida como "esquerdogata", possui nuances sociológicas que precisam ser cuidadosamente analisadas e provocar uma profunda reflexão dentro do campo progressista. Primeiro, dizer que ela não é única a pensar dessa forma dentro da esquerda, embora tenha sido a única a deixar escapar tais pensamentos. Segundo observar como as redes sociais deram voz a muita gente sem conteúdo, de fato, que vira referência ideológica a partir do número de seguidores que possui. Um culto ao personalismo de uma militância muito mais performática e lacradora, do que ativista e transformadora.

As falas de Aline Bardy possuem várias camadas de preconceito, evidenciando que apenas defender a luta de classes, não combate preconceitos estruturais. A começar pelo privilégio branco, uma benesse social que toda mulher branca e loira como ela desfruta, e fez com que os policiais que a abordaram se mantivessem calmos e resignados diante das ofensas contra ele proferidas. Ou alguém duvida de que se fosse uma mulher preta e periférica chamando um PM de “nazistazinho”, e jogando na sua cara que ele não passa de um assalariado, os agentes teriam reagido sob forte emoção? Por muito menos, uma mulher preta teve o seu pescoço pisado durante uma abordagem policial em Parelheiros, na zona sul paulistana, em 2022.

O elitismo acadêmico externado por ela ao cuspir a sua pós-graduação e o seu mestrado na cara dos policiais, é outro ponto a ser abordado. Esse tipo de ostentação curricular é algo que vem contaminando a esquerda há tempos, e motivando o seu distanciamento da base. Até mesmo pessoas que vieram dessa base e que tiveram uma educação básica precária, quando ingressam na Universidade passam a reproduzir essa mesma visão com relação àqueles que não possuem nível superior. Pior do que isso, começam a tratá-los como “tutelados ideológicos” que não conseguem raciocinar por eles mesmos, e que apenas devem seguir às orientações dadas pelo academicismo progressista. Uma fábrica de revolucionários digitais que acreditam que materializarão a luta de classes recitando Marx e Engels, enquanto subjugam trabalhadores que não conhecem os teóricos comunistas que irão livrar o mundo do capitalismo.

Uma contradição para com a história do maior político que este país já teve, e que é de origem pobre, operária e esquerdista: Lula. O presidente sem diploma, capaz de ministrar aulas de políticas para muitos graduados, pós-graduados, mestres e doutores, e fazê-los respeitá-lo através do seu conhecimento prático do que seja fazer política. Um homem que é respeitado no mundo inteiro, mesmo sem ostentar a pseudo intelectualidade de muitos “esquerdogatos” que andam pulando de telhado em telhado, e miando compulsivamente ao léu. Como alguém de esquerda pode ter Lula como referência e exibir tanta arrogância acadêmica como o faz Aline durante a abordagem policial por ela sofrida? Só faltou parafrasear aquela personagem da Carolina Ferraz que virou meme dizendo que é rica, e gritar para os policiais: Eu sou gata! Gata! Gata!

É fato que os PMs estão longe de serem vítimas diante das falas de Aline. Mas eu não estou nem um pouco preocupado em falar sobre quem age dessa mesma forma com seus iguais, apenas por trajar uma farda e exercer uma limitada autoridade concedida pelo Estado burguês. A minha verdadeira preocupação é com a maioria da população brasileira que não tem a oportunidade de receber um ensino de qualidade, e, consequentemente, um salário digno - uma vez que o ensino público é propositalmente sucateado para produzir pessoas mal formadas que ocuparão subempregos dentro do sistema capitalista - e que foi ofendida por Aline. Se ela falou tudo isso para policiais que, bem ou mal, recebem um salário acima da média da população, o que não falaria para empregadas domésticas, balconistas, entregadores, profissionais da limpeza, ambulantes, entre outros trabalhadores que pertencem a uma classe social que ela considera inferior?

Em suma, vamos refletir se não estamos reproduzindo com os outros, aquilo que "achamos" que condenamos dentro da sociedade. E não adianta depois se utilizar do artifício de dizer que estava alcoolizado, sob efeito de remédios, que falou num momento de raiva, ou que havia esquecido de tomar o seu Gardenal. Até porque, é sob o efeito de álcool, ou sob o domínio da raiva, que muitas pessoas revelam a verdadeira essência que possuem. E é também sob alcunhas que muitos dão vida ao seu álter ego, e tentam nos confundir quanto à sua verdadeira face. Não cairei na armadilha estruturalmente machista de julgar se Aline é gata ou não, o fato é que seu pseudônimo e o seu estereótipo colaboram com a manutenção de um padrão de beleza estabelecido pela branquitude, e que visa excluir os não brancos da sua aprovação. E já espero o jornal do PCO rebater essa minha colocação me chamando de identitário. Risos revolucionários...

Para encerrar, acho importante que a esquerda comece a avaliar melhor os seus novos quadros, sobretudo, aqueles advindos das redes sociais. Tem muita gente boa nesse barco virtual, como a vereadora Kari Santos, do PT do Recife, o analista geopolítico Vinicios Betiol, entre outros. Mas também tem muita gente que só está em busca de aplausos, likes e biscoitos da sorte. Gatas e gatos com uma personalidade narcísica e sem nenhum comprometimento real em produzir transformação social através da política e da ideologia progressista. Não estou batendo em Aline, nem querendo promover o seu cancelamento. Até porque, ela só externou o que muitos outros na esquerda - gatos ou não - pensam no seu íntimo e podem extravasar a qualquer momento de raiva ou embriaguez. Mas é importante que este tipo de mentalidade seja criticado e combatido. E o ministério das gatas e gatos de esquerda adverte: Se for subir no telhado, não beba.

Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

Cadê a socialista que estava aqui? A esquerdogata comeu

As falas de Aline Bardy Dutra possuem várias camadas de preconceito

Ricardo Nêggo Tom
Publicada em 28 de outubro de 2025 às 09:28
Cadê a socialista que estava aqui? A esquerdogata comeu

Aline Bardy Dutra, a "esquerdogata" (Foto: Reprodução )

O episódio envolvendo a influenciadora Aline Bardy Dutra, conhecida como "esquerdogata", possui nuances sociológicas que precisam ser cuidadosamente analisadas e provocar uma profunda reflexão dentro do campo progressista. Primeiro, dizer que ela não é única a pensar dessa forma dentro da esquerda, embora tenha sido a única a deixar escapar tais pensamentos. Segundo observar como as redes sociais deram voz a muita gente sem conteúdo, de fato, que vira referência ideológica a partir do número de seguidores que possui. Um culto ao personalismo de uma militância muito mais performática e lacradora, do que ativista e transformadora.

As falas de Aline Bardy possuem várias camadas de preconceito, evidenciando que apenas defender a luta de classes, não combate preconceitos estruturais. A começar pelo privilégio branco, uma benesse social que toda mulher branca e loira como ela desfruta, e fez com que os policiais que a abordaram se mantivessem calmos e resignados diante das ofensas contra ele proferidas. Ou alguém duvida de que se fosse uma mulher preta e periférica chamando um PM de “nazistazinho”, e jogando na sua cara que ele não passa de um assalariado, os agentes teriam reagido sob forte emoção? Por muito menos, uma mulher preta teve o seu pescoço pisado durante uma abordagem policial em Parelheiros, na zona sul paulistana, em 2022.

O elitismo acadêmico externado por ela ao cuspir a sua pós-graduação e o seu mestrado na cara dos policiais, é outro ponto a ser abordado. Esse tipo de ostentação curricular é algo que vem contaminando a esquerda há tempos, e motivando o seu distanciamento da base. Até mesmo pessoas que vieram dessa base e que tiveram uma educação básica precária, quando ingressam na Universidade passam a reproduzir essa mesma visão com relação àqueles que não possuem nível superior. Pior do que isso, começam a tratá-los como “tutelados ideológicos” que não conseguem raciocinar por eles mesmos, e que apenas devem seguir às orientações dadas pelo academicismo progressista. Uma fábrica de revolucionários digitais que acreditam que materializarão a luta de classes recitando Marx e Engels, enquanto subjugam trabalhadores que não conhecem os teóricos comunistas que irão livrar o mundo do capitalismo.

Uma contradição para com a história do maior político que este país já teve, e que é de origem pobre, operária e esquerdista: Lula. O presidente sem diploma, capaz de ministrar aulas de políticas para muitos graduados, pós-graduados, mestres e doutores, e fazê-los respeitá-lo através do seu conhecimento prático do que seja fazer política. Um homem que é respeitado no mundo inteiro, mesmo sem ostentar a pseudo intelectualidade de muitos “esquerdogatos” que andam pulando de telhado em telhado, e miando compulsivamente ao léu. Como alguém de esquerda pode ter Lula como referência e exibir tanta arrogância acadêmica como o faz Aline durante a abordagem policial por ela sofrida? Só faltou parafrasear aquela personagem da Carolina Ferraz que virou meme dizendo que é rica, e gritar para os policiais: Eu sou gata! Gata! Gata!

É fato que os PMs estão longe de serem vítimas diante das falas de Aline. Mas eu não estou nem um pouco preocupado em falar sobre quem age dessa mesma forma com seus iguais, apenas por trajar uma farda e exercer uma limitada autoridade concedida pelo Estado burguês. A minha verdadeira preocupação é com a maioria da população brasileira que não tem a oportunidade de receber um ensino de qualidade, e, consequentemente, um salário digno - uma vez que o ensino público é propositalmente sucateado para produzir pessoas mal formadas que ocuparão subempregos dentro do sistema capitalista - e que foi ofendida por Aline. Se ela falou tudo isso para policiais que, bem ou mal, recebem um salário acima da média da população, o que não falaria para empregadas domésticas, balconistas, entregadores, profissionais da limpeza, ambulantes, entre outros trabalhadores que pertencem a uma classe social que ela considera inferior?

Em suma, vamos refletir se não estamos reproduzindo com os outros, aquilo que "achamos" que condenamos dentro da sociedade. E não adianta depois se utilizar do artifício de dizer que estava alcoolizado, sob efeito de remédios, que falou num momento de raiva, ou que havia esquecido de tomar o seu Gardenal. Até porque, é sob o efeito de álcool, ou sob o domínio da raiva, que muitas pessoas revelam a verdadeira essência que possuem. E é também sob alcunhas que muitos dão vida ao seu álter ego, e tentam nos confundir quanto à sua verdadeira face. Não cairei na armadilha estruturalmente machista de julgar se Aline é gata ou não, o fato é que seu pseudônimo e o seu estereótipo colaboram com a manutenção de um padrão de beleza estabelecido pela branquitude, e que visa excluir os não brancos da sua aprovação. E já espero o jornal do PCO rebater essa minha colocação me chamando de identitário. Risos revolucionários...

Para encerrar, acho importante que a esquerda comece a avaliar melhor os seus novos quadros, sobretudo, aqueles advindos das redes sociais. Tem muita gente boa nesse barco virtual, como a vereadora Kari Santos, do PT do Recife, o analista geopolítico Vinicios Betiol, entre outros. Mas também tem muita gente que só está em busca de aplausos, likes e biscoitos da sorte. Gatas e gatos com uma personalidade narcísica e sem nenhum comprometimento real em produzir transformação social através da política e da ideologia progressista. Não estou batendo em Aline, nem querendo promover o seu cancelamento. Até porque, ela só externou o que muitos outros na esquerda - gatos ou não - pensam no seu íntimo e podem extravasar a qualquer momento de raiva ou embriaguez. Mas é importante que este tipo de mentalidade seja criticado e combatido. E o ministério das gatas e gatos de esquerda adverte: Se for subir no telhado, não beba.

Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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