É cedo para tanto espanto com Bolsonaro?

Como bem disse Leonardo Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto” e quem não teve por que votar no capitão está com os cabelos em pé.

Luciana Oliveira
Publicada em 23 de novembro de 2018 às 08:52
É cedo para tanto espanto com Bolsonaro?

Como bem disse Leonardo Boff, “todo ponto de vista é a vista de um ponto” e quem não teve por que votar no capitão está com os cabelos em pé.

Não é cedo para temer e planejar forte e organizada resistência.

Bolsonaro confirma com indicações por mera afinidade ideológica que vai fazer de tudo para transformar o Brasil numa república neopentecostal fundamentalista militarizada arreganhada para o capital estrangeiro.

Bastou uma pressão da bancada evangélica – sedenta para emplacar o projeto da Escola Sem Partido – para Bolsonaro descartar o ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Mozart Neves, ao ministério da educação.

O presidente eleito negou que o tenha cogitado, mas sabendo que Mozart é contra a uniformização do pensamento e a censura ao debate sobre diversidade de gênero, adiantou que vai escolher um ministro que respeite a ordem de que sexo é “papai e mamãe quem tem que ensinar”.

Não bastasse o obscurantismo religioso, o que se sabe que vai pra frente é a política econômica ultraliberal e não pela boca do presidente.

Vem do ‘posto Ipiranga’, o apelido carinhoso mais difícil de esquecer que o presidente eleito deu a Paulo Guedes, o superministro da economia.

O guru do capitão é quem vai decidir se os critérios que garantem estabilidade aos servidores públicos devem ser flexibilizados, se a Petrobras vai ser privatizada e como, se a Reforma da Previdência sai com “prensa” no Congresso, quem assume o que, enfim, tudo o que envolve política macroeconômica.

“Eu tô dando carta branca pra ele. Tudo que é envolvido com economia é ele quem está escalando o time. Eu só olho”.

Os sinais de desmantelo são perceptíveis e comentados à boca graúda entre economistas, mas é cedo para vermos até onde vai a obsessão de Paulo Guedes em praticar o liberalismo que o encantou quando viveu no Chile em plena ditadura.

Só como governo saberemos como ele vai conseguir reduzir o tamanho do Estado, cortar gastos para não aumentar impostos e o mais preocupante, como fará a promoção de riquezas do país ao capital estrangeiro.

A secretaria de privatizações já está garantida, o pegue e pague baratinho.

O brasileiro vai ter dificuldade com a lista de desejos na virada do ano. Agora o horizonte é de incertezas, mas com certeza de perdas.

A expectativa de um governo qualificado, limpinho e cheiroso já era.

Não é cedo para admitir que diferentemente do que Bolsonaro prometeu em campanha, a base de apoio ao governo está sendo montada com indicações políticas e com nomes enrolados na justiça.

Paulo Guedes é um que responde por fraudes contra fundos de pensão e fundos de investimentos.
Onyx Lorenzoni, é investigado por recebimento de doações ilícitas em campanha eleitoral (caixa 2).
Marcos Pontes é acusado de ser sócio oculto numa empresa quando era militar da ativa, o que é vedado aos militares.
Tereza Cristina é investigada por conceder incentivos fiscais à JBS quando era secretária estadual de Desenvolvimento Agrário e Produção de Mato Grosso do Sul.
Luiz Henrique Mandetta é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 no contrato para implementar um sistema de informatização na saúde em Campo Grande, no período no qual foi secretário.
Tem ainda o ex-juiz Sérgio Moro que esponde a vários processos disciplinares no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Não, não é cedo para quem não votou em Bolsonaro estrebuchar de medo ou de raiva.

Para seus eleitores sim, tudo parece caminhar como prometido tão vagamente.

Só a lapada de realidade com a bravata de indicação por critérios técnicos e com investigados por corrupção, deixa a torcida bolsonarista amoitada.

Fora isso, é cedo para cobrar o presidente e isso tem explicação.

Às vésperas do segundo turno, o Datafolha perguntou e os que declaravam voto a Jair Bolsonaro responderam por quais motivos votariam nele.

A maioria, 30% dos entrevistados, disse que queria apenas tentar com outro.
25% votaria nele só para o PT não vencer a eleição.
17%, por acreditar que com ele haverá mais segurança.
Sem corpo-a-corpo, sem participar de debates e com um plano de governo mixuruca, 12% ainda citaram suas ‘propostas’ para justificar a intenção de voto.
Somavam 10% os que apostavam num combate à corrupção como nunca na história deste país.

Eleitores de Bolsonaro nunca vão poder cobrar sua experiência e capacidade para governar. Só 5% declararam esses motivos para elegê-lo.

É curioso que insistam em pedir que todos torçam pelo presidente, porque apenas 4% disseram que votariam nele por “Querer o melhor para o desenvolvimento do Brasil”.

Ele sempre foi uma ideia destrutiva e por isso deveria ter sido abortada.

Cedo ou tarde vão admitir isso.

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