Fiocruz Rondônia aguarda liberação para utilizar bactéria em mosquito e bloquear a transmissão da dengue

O mosquito não é transmissor de doença, mas incomoda pela quantidade e pela picada muito dolorida.

Texto: Vanessa Farias Fotos: Jeferson Mota
Publicada em 13 de março de 2018 às 13:28
Fiocruz Rondônia aguarda liberação para utilizar bactéria em mosquito e bloquear a transmissão da dengue

Alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado auxiliam nas pesquisas

Nascida pela necessidade de estudos mais aprofundados sobre a malária, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rondônia tem a missão de enfrentar as questões de saúde locais, com pesquisas iniciadas à época, no final dos anos de 1980, por professores sêniores da Universidade de São Paulo (USP).

“Nós buscamos conhecer a situação de saúde local e através da epidemiologia já tivemos muitos resultados, com trabalhos que mostraram, por exemplo, a importância do cidadão assintomático para a malária vivax. Além disso, na área de virologia, as pesquisas mostram quais vírus estão circulando, tanto os arbovírus quanto as infecções infantis e bactérias que estão causando doenças nas nossas crianças”, explica o diretor da Fiocruz Rondônia, Ricardo Godoi.

Desde 2017, a Fiocruz está trabalhando mais intensivamente no caso dos mosquitos mansonia, que em grandes nuvens tem incomodado as comunidades de Jaci-Paraná, Mutum Paraná e Assentamento Joana Darc, à margem esquerda do Rio Madeira. “São áreas de impacto das usinas hidrelétricas de Porto Velho, e em conjunto com o Ministério Público de Rondônia, nos estamos buscando entender o problema. O mosquito não é transmissor de doença, mas incomoda pela quantidade e pela picada muito dolorida. Quase não há estudo sobre a espécie, justamente por não ser transmissor, então o nosso grupo de entomologia está trabalhando de uma forma muito pioneira”.

Em fase de teste, a grande expectativa é o trabalho que está em fase de liberação no Rio de Janeiro e mais cinco localidades que utilizam uma bactéria dos mosquitos chamada volbaquia, para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo aedes aegypti.

“A bactéria está sendo inserida dentro do aedes aegypti, já que com a bactéria o mosquito não transmite o vírus da dengue, e talvez até não transmita outras viroses, apesar de só termos a demonstração de bloqueio à transmissão da dengue. A ideia é substituir as populações naturais por essa população com essa bactéria, porque o vetor é dos grandes problemas dessas epidemias, e por mais que a gente consiga uma vacina eficiente ou mecanismos de controle de vetores, precisamos atuar em várias frentes simultaneamente”, conta o diretor.

Com a exploração da biodiversidade local, a Fiocruz também tem conseguido chegar a alguns compostos com efeitos contra parasitas, e um dos resultados recentes foi o patenteamento de um dos compostos como potencial agente contra a leishmania. “Isso é muito relevante para nós, porque pode chegar mesmo a composição de drogas contra a doença”.  O diretor fala ainda sobre o laboratório de engenharia de anticorpos, que vem desenvolvendo desde o início de 2017 o trabalho com lhamas. Anticorpos diferentes produzidos pelo animal são capazes de reduzir efeitos de determinados venenos.

A Fiocruz mantém uma fêmea e cinco machos lhamas em um espaço adequado para a criação, e os pesquisadores e alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, trabalham nas pesquisas. “Se conseguirmos preparar um composto a partir do anticorpo deles, a gente pode facilitar inclusive o transporte de vacinas que precisam de determinadas temperaturas mais frias para não se degradar, o que onera muito o sistema de saúde, especialmente na nossa região onde temos grandes distâncias e altas temperaturas. Já conseguimos alguns compostos com atividade contra veneno de cobra, bloqueando a ação do veneno e causando uma lesão menos agressiva, mostrando efeito sistêmico e efeito local. Com os testes em camundongos estamos trabalhando na melhoria desse anticorpo”, revela Godoi.

Todas as ações são continuadas e devem ser mantidas em 2018, como é o caso do levantamento realizado pela pesquisadora Deusilene Souza Vieira, que desde 2017 tem trabalhado no estudo sobre as infecções mais prevalentes entre a população carcerária de Porto Velho. “Entre elas estão a sífilis, o HIV, hepatite B e hepatite C. No ano passado concluímos os presídios Aruana, Vale do Guaporé, Urso Branco e o Milton Soares. Trabalhamos com 846 reeducandos, e tivemos uma prevalência de 8,6% para sífilis, o que é igual a aproximadamente 70 reeducandos positivos para essa doença. Para HIV o resultado foi de 1,4% de casos positivos, também 1,4% para hepatite B, e 0,7% para hepatite C”, conta a especialista. O estudo não só detecta os casos, mas dispõe de médicos dando o apoio clínico e laboratorial para o acompanhamento dos pacientes do sistema penitenciário.

Com 20 servidores federais , 60 agentes terceirizados em funções administrativas e apoio técnico, e mais de 150 bolsistas, entre alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, o diretor Ricardo Godoi, diz que há uma força de trabalho de mais de 200 pessoas nos projetos.

Instalada em prédios diferentes, sendo uma parte em uma estrutura à Rua da Beira, próximo à BR-364, e outra no Centro de Diagnóstico e Imagem (Cepem) do Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron), a Fiocruz espera que a primeira parte da sede própria em construção seja concluída até o início de 2019, quando poderá fazer a mudança para o local, ao lado da Embrapa Rondônia.

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