Jornalistas cobram justiça e retratação de apresentador que fez declarações misóginas e sexistas

O apresentador comentava sobre uma operação policial que acabou com uma festa clandestina que envolvia menores e bebidas e respondia a uma internauta como evitar um estupro

Blog da Luciana Oliveira
Publicada em 03 de fevereiro de 2022 às 19:51
Jornalistas cobram justiça e retratação de apresentador que fez declarações misóginas e sexistas

Mulheres que atuam nos meios de comunicação de Rondônia publicaram um manifesto pedindo justiça contra uma apresentador de televisão que estimulou ao vivo a violência contra o sexo feminino.

LEIA O DOCUMENTO:

“Nesta segunda-feira, 31, o apresentador Wilson Rodrigues, conhecido como ‘Pica Pau’, do programa Plantão de Polícia, Rede TV Rondônia de Ariquemes, fez declarações sexistas e misóginas, ao vivo, durante exibição do programa.

“Vamos com parar com esse negócio de Hashtag mexeu com uma, mexeu com todas. Para de palhaçada”.

O apresentador comentava sobre uma operação policial que acabou com uma festa clandestina que envolvia menores e bebidas e respondia a uma internauta como evitar um estupro.

Em tom debochado, irresponsável e preconceituoso, o apresentador responsabilizou a mulher pelo estupro.

“Tem umas menininhas de 13, 14 aninhos, que se “maqueia” (sic) e veste umas roupas muito “comportadas”. Não tem o short jeans. Elas não usam o short. Usam o cós do short. Ficam parecidas rapariga, “moça”. Aí vão pra esses lugar (sic), dessas festinhas, enche (sic) a cara e é estuprada por um monte de moleques.”

Absurdamente Rodrigues justifica a violência sexual contra a mulher. “Moleque é isso! Tá na flor da juventude, da idade.”

Nós, jornalistas mulheres, que somos maioria dos profissionais da classe profissional de Rondônia, não podemos relativizar o comportamento do apresentador. Ainda mais se considerarmos que Wilson Rodrigues tem papel de formador de opinião, pelo espaço que ocupa, e, portanto, responsabilidade social no que referenda.

A fala do apresentador traz à tona um retrocesso enraizado quanto à liberdade feminina, quando culpabiliza a mulher diante do crime de estupro e considera que a vítima deve ter dado motivo, usando roupas “inapropriadas”. São normas, comportamentos e práticas sociais que permitem que esse tipo de violência aconteça e que, quando aconteça, a responsabilidade seja transferida do agressor para a vítima.

Dessa forma, protege-se o agressor, corroboram-se ideias machistas e preconceituosas e legitima-se uma punição extraoficial àquelas que ousam dizer não a um homem.

É claro que uma cultura que não ensina seus homens a respeitar as mulheres e a identificar o que é ou não estupro traz consequências seríssimas para a liberdade e segurança femininas: em 2021, quatro brasileiras foram vítimas de feminicídio por dia, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O 15º relatório da organização, divulgado em julho de 2021, também aponta que em 2020 foram registrados 60.460 casos de violência sexual contra a mulher. Isso equivale a 165 estupros por dia. Desse total, 73,7% foram casos de estupro de vulnerável, sendo que 60,6% das vítimas tinham até 13 anos.

É preciso defender uma construção coletiva de pactos para que estes crimes são sejam silenciados e, assim, se combata a chamada cultura do estupro, somada ao compartilhamento de práticas de masculinidade violentas.

O jornalismo tem papel fundamental na sociedade no processo de formação política de brasileiros e brasileiras. As afirmações ditas pelo tal jornalista envergonham e comprometem todos os profissionais da área de comunicação.

Por tal razão, cobramos um posicionamento do Sindicato dos Jornalistas de Rondônia, Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de RO, Defensoria Pública, promotoria dos Direitos Humanos do Ministério Público, da Câmara de Vereadores de Ariquemes e Porto Velho, da Assembleia Legislativa, das prefeituras dos dois municípios mencionados e do Governo do Estado.

Convocamos todas as mulheres de Rondônia, inclusive as primeiras-damas do estado e da Capital, para que fortaleçam o combate a todo tipo de violência contra pessoas do sexo feminino. É preciso que as mulheres nas diversas redações de veículos de comunicação do estado se unam contra qualquer tipo de agressão às mulheres.

Ainda exigimos que a Rede TV Rondônia obrigue Wilson Rodrigues a se retratar publicamente. Caso contrário, o comunicador deverá ser sumariamente demitido. Afinal de contas, quem incita violência contra mulheres é um criminoso.

Também requeremos a abertura de espaço na programação da Rede TV Rondônia para discutirmos sobre a violação dos direitos humanos e das mulheres”.

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