Justiça do Paraná censura reportagem da Quatro Rodas

Por determinação da juíza Beatriz Fruet de Moraes, do Tribunal de Justiça do Paraná, o site da revista Quatro Rodas teve de tirar do ar a reportagem Militec-1 pode ser corrosivo para o motor e não tinha registro na ANP

Tudorondonia com informações do Jornalistas&Cia
Publicada em 31 de agosto de 2020 às 17:09
Justiça do Paraná censura reportagem da Quatro Rodas

Por determinação da juíza Beatriz Fruet de Moraes, do Tribunal de Justiça do Paraná, o site da revista Quatro Rodas teve de tirar do ar a reportagem Militec-1 pode ser corrosivo para o motor e não tinha registro na ANP. A matéria, do editor assistente Henrique Rodriguez, foi publicada em 14/8 e retirada um dia depois, após pedido de tutela antecipada provisória em caráter antecedente determinando a sua suspensão. O pedido foi feito pela Militec Brasil Importação e Comércio Ltda., representante do produto Militec-1 no Brasil. A liminar suspende a veiculação da matéria até o julgamento final do processo. A Abril está avaliando as medidas que tomará. Tiro pela culatra – O que era para ser uma tentativa de abafar uma reportagem negativa ao produto, acabou, porém, gerando repercussão ainda maior do que a própria publicação original. No dia em que a decisão foi expedida, por exemplo, as buscas no Brasil pela palavra “Militec”, quase que dobraram, segundo o Google Trends. Dez dias mais tarde, em 25/8, o assunto voltou à tona após o site da revista Autoesporte, principal concorrente da Quatro Rodas, oferecer apoio à publicação da Editora Abril ao divulgar o caso em sua página. “Não é possível contar a história de Autoesporte sem falar da Quatro Rodas, um dos veículos de imprensa automotiva mais conhecidos e antigos do Brasil, e nosso concorrente direto há quase seis décadas. Mas é preciso deixar a rivalidade de lado quando vestígios da censura, que desapareceu oficialmente do Brasil em 3 de outubro de 1988, voltam a aparecer para atacar a imprensa livre”, destacou o texto publicado pela Autoesporte. Além da Autoesporte, diversos outros veículos especializados automotivos retrataram o caso, aumentando ainda mais a sua repercussão negativa. 

O caso Militec 1 – Autor da reportagem censurada, Henrique Rodriguez teve acesso a um ensaio feito com amostras do Militec 1, coletadas pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) em 2018. O documento trazia o carimbo “Sigiloso” e apontava para a falta de registro do produto no órgão, que era obrigatório até o fim de 2019, além da presença de cloro na mistura. “Fui atrás do assunto e já procurei a ANP para ter um posicionamento sobre o documento”, explica o editor assistente. “No dia seguinte veio à tona a decisão do processo administrativo publicada em abril, que foi gerado pelo ensaio. Fiz o primeiro contato com a Militec e não tive retorno. No dia seguinte reiterei a importância do contato e no fim do dia um sócio da empresa me retornou, por telefone, e prometeu enviar toda a sorte de laudos e a defesa apresentada à ANP até as 16h do dia seguinte – quando a reportagem foi publicada”. Ainda segundo Henrique, a Militec não contava com um assessor de imprensa na época dos primeiros contatos, profissional que só teria sido contratado após a veiculação da reportagem. Apesar da censura a Quatro Rodas, detalhes sobre a ineficiência e a falta de aprovação do produto ganharam também as páginas do Auto Papo, de Boris Feldman. Na reportagem Militec: testado e reprovado nos EUA e no Brasil, publicada em 25/8, cita não apenas informações sobre os testes no Brasil, mas também a reprovação do produto em testes da Marinha norte-americana. “Um assessor de imprensa chegou a ligar para o meu editor, o Felipe Boutros, pois uns dias antes da Quatro Rodas eu tinha criticado o Militec no quadro semanal Boris Responde”, explica Feldman. “O assessor comentou o caso da Quatro Rodas e disse que iria nos enviar documentos provando que o Militec não danifica o motor. Tudo que recebi foi uma análise da UFMG que não é conclusiva. A mesma que a Militec mandou para a ANP e foi reprovada. Por enquanto, ainda não fizeram nada em relação ao conteúdo, talvez pelo parecer da Marinha dos EUA que citei também, mas aparentemente estamos voltando aos ‘gloriosos’ tempos de censura à imprensa”.  

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