MPF/AC processa apresentadores do podcast “Trio Submundo” por racismo contra indígenas

Trio pode ter que pagar indenização coletiva de R$ 100 mil em razão de suas falas

MPF/Arte: Ascom/PRAC
Publicada em 03 de setembro de 2021 às 15:15
MPF/AC processa apresentadores do podcast “Trio Submundo” por racismo contra indígenas

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra os apresentadores do podcast Trio Submundo, com pedido para que a Justiça Federal no Acre condene o trio à reparação por danos morais coletivos, em razão de discurso de ódio e racismo recreativo praticado contra a população indígena por meio do programa apresentado pelos acusados.

Segundo o procurador da República Lucas Costa Almeida Dias, os comentários racistas foram veiculados no dia 4 de junho de 2021 e publicados nas redes sociais. Após a divulgação do vídeo do podcast, rapidamente os fatos foram noticiados na imprensa local em razão dos comentários racistas e homofóbicos detectados por espectadores, circunstância que motivou os apresentadores - poucas horas após a publicação - a retirarem o vídeo da internet, com posterior cancelamento do programa, face a repercussão negativa na sociedade acreana.

Segundo os réus, a proposta do programa consistia em comentar, de forma humorística, matérias publicadas na imprensa local, e a primeira matéria comentada pelo trio foi intitulada "Indígena é resgatado após se perder na mata".

Para o MPF, é nítido no vídeo o desprezo dos réus aos povos indígenas, especialmente quando selecionam e incluem, previamente, em roteiro de programa humorístico a matéria intitulada Indígena é resgatado após se perder na mata. Isso porque os apresentadores partem do pressuposto racista de que existem espaços sociais reservados/restritos aos indígenas ("floresta, mata, selva") e o teor estigmatizante da "piada".

A ação destaca o teor das falas dos apresentadores, que se referiam ao indígena como “vagabundo” e “Nutella”, além de tecer, de forma jocosa, comentários homofóbicos no mesmo contexto e outros comentários que visavam ofender o personagem da matéria na matriz de sua identidade, desconsiderando sua origem em razão das vestimentas que apresentava no momento.

Diante dos fatos e da negativa dos réus em acordo extrajudicial visando reparar suas atitudes, o MPF pede que a JF condene os réus ao pagamento solidário de danos morais coletivos no valor de R$ 100 mil, quantia a ser revertida em projetos educativos e informativos sobre a cultura indígena no estado do Acre, elaborados com a participação direta dos povos indígenas e do MPF.

Além disso, pede-se a condenação dos réus à retratação pública, mediante vídeo a ser publicado em suas redes sociais particulares, com reconhecimento expresso da ilicitude das falas, em duração não inferior ao tempo em que proferiram as falas agressivas (1min16s), com o teor do discurso antecipadamente aprovado pelo Juízo.

O processo tramita na 2ª Vara Federal em Rio Branco, com o número 1006735-53.2021.4.01.3000.

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