Não é só o Queiroz que sumiu. Alguém sabe por onde anda a oposição?

Até aqui, os principais partidos de oposição, PT à frente, andaram a reboque da pauta de reformas do governo e da garotada que luta pela Educação

Ricardo Kotscho
Publicada em 03 de junho de 2019 às 11:57
Não é só o Queiroz que sumiu. Alguém sabe por onde anda a oposição?

Bolsonaro pode reclamar de todo mundo, menos da oposição, que não lhe faz nem cócegas.

Assim como o famoso Queiroz, que sumiu porque sabe demais sobre as ligações dos Bolsonaros com laranjas e milicias, a oposição também se escondeu desde a derrota eleitoral no ano passado.

Esta semana, o tresloucado Abraham Weintraub, aquele ministro da Educação de guarda-chuva, tentou jogar a responsabilidade pelas grandes manifestações estudantis nas costas da "esquerda", dos "vermelhos", dos "comunistas".

Bem que a oposição gostaria de ter essa força e colher os louros de fazer o Brasil acordar do sono profundo, mas só Weintraub viu esse fantasma do "marxismo cultural" dos partidos de oposição comandando as ruas contra o governo.

Quem mobilizou a população foram as entidades representativas de estudantes e professores, que levaram às ruas a indignação de grande parcela da população com o governo que está destruindo o país, a começar pela Educação.

Assim como o governo que nestes cinco meses ainda não começou a governar o país para enfrentar seus graves problemas, a oposição até agora não conseguiu definir uma ação comum dos partidos para dar um basta à insanidade.

Limita-se à guerra parlamentar contra a reforma da Previdência, sem apresentar alternativas, apenas fazendo obstrução.

Quem é hoje o grande líder da oposição, capaz de organizar uma frente de partidos de esquerda?

Não tem. O único que sobrou, o ex-presidente Lula, está preso em Curitiba, confinado numa cela solitária de 15 metros quadrados na Polícia Federal.

Terceiro colocado nas eleições presidenciais, com expressiva votação, Ciro Gomes poderia ser este líder, mas jogou tudo fora, resolveu ir para Paris no segundo turno e, na volta, começou a atacar loucamente mais a oposição do que o governo, em guerra aberta com Lula e o PT.

Sem lideranças expressivas no parlamento, a oposição se resume hoje a Guilherme Boulos e alguns deputados mais aguerridos do PSOL, e a dois governadores da esquerda nordestina, Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, e Rui Costa (PT), da Bahia, que começam a ganhar expressão nacional.

Às voltas com disputas internas pelo espólio de Lula, o PT até agora não conseguiu encontrar um rumo para se reconectar com suas bases, os movimentos sociais e sindicais, e sair do labirinto em que se meteu.

Só culpar a mídia por não dar espaço para a oposição, o que é um fato, nada vai resolver.

A mesma mídia também tentou esconder até onde pode o grande movimento das Diretas Já, em 1984, mas foi obrigada, no final, a mostrar os milhões de brasileiros que ocuparam as ruas e praças de todo o país. Para romper a cortina de ferro da autocensura, é preciso primeiro criar o fato político, como estão fazendo estudantes e professores.

Um grande teste acontecerá no próximo dia 14 de junho, com a greve geral organizada pelas centrais sindicais, que pela primeira vez se uniram para protestar contra desforma da Previdência e o desgoverno Bolsonaro.

Que não se argumente que a oposição nada pode fazer porque é pequena: são sete partidos e pelo menos 150 parlamentares na Câmara, o suficiente para criar fatos políticos e fazer barulho fora dos plenários do Congresso.

Poderia, por exemplo, convocar o ex-juiz Sergio Moro para explicar o que foi feito pelo seu ministério nestes cinco meses de governo para investigar no Coaf a gangue de Fabrício Queiroz montada no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, no Rio.

É um escândalo silencioso que pode abalar os já frágeis alicerces do governo, como mostrou a paura do capitão ao falar para a Veja sobre as investigações envolvendo o filho Flávio, um assunto que ele mesmo levantou, na inacreditável entrevista de duas horas, que vale a pena ler para saber com quem estamos liando.

Aqui em São Paulo, setores da sociedade civil, ligados a diferentes partidos e movimentos em defesa da democracia, já voltaram a se mobilizar para buscar uma saída institucional diante das barbaridades já cometidas contra o Estado de Direito, a nossa soberania, o meio ambiente e os direitos trabalhistas.

Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela DemocraciaAssim como Bolsonaro resolveu fazer um "pacto" com os presidentes do Judiciário e do Legislativo, para estancar o derretimento do seu governo, como as barragens da Vale, bem que a oposição também poderia, com urgência, apresentar um programa comum à sociedade, órfã de lideranças e de propostas.

Até aqui, os principais partidos de oposição, PT à frente, andaram a reboque da pauta de reformas do governo e da garotada que luta pela Educação.

Resta saber quem vai dar o primeiro passo para unir todos os setores da sociedade, que já são ampla maioria contra o, segundo todas as pesquisas, para dar um basta a esse desastre sem precedentes na nossa história.

Bom inicio de semana a todos.

Vida que segue.

Comentários

  • 1
    image
    edgard alves feitosa 04/06/2019

    Simples: significa que a famosa "esquerda" não tem (talvez nunca tenha tido) um projeto estruturado para o Brasil; muito pior, plagiou o que existiu de mais reacionário, mais imoral e antidemocrático, o "culto à personalidade", substituindo o stalinismo pelo lulismo; o muro de Berlim caiu em 89, mas ainda hoje ficamos no marasmo intelectual entre "esquerda" versus "direita"; nem Jesus; nem Marx; nem lula; necessitamos de uma esquerda sem amarras ideológicas; com total liberdade de criticar; de questionar; de se posicionar contra patrulhas ideológicas e a pasteurização do politicamente correto;

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