Não se esqueçam: o general Braga Netto está preso e os civis estão soltos
“O general encarcerado há sete meses é a cara do fracasso de uma geração. Mas onde estão os golpistas sem farda?”, pergunta Moisés Mendes
Braga Netto (Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados)
São oito os líderes da tentativa de golpe enquadrados no que a Procuradoria-Geral da República chamou de núcleo crucial, quando da apresentação das denúncias. O único preso desse núcleo é o general Walter Souza Braga Netto.
Todos os outros sete estão soltos: o líder deles, Jair Bolsonaro, mais Almir Garnier Santos, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Alexandre Ramagem. Braga Netto completou nessa segunda-feira sete meses de prisão preventiva, desde que foi buscado em casa, no Rio, no dia 14 de dezembro, pela Polícia Federal.
Chegaram a prever, a partir de recados enviados pelos militares a Alexandre de Moraes, que o general ficaria preso alguns dias. Está num lugar confortável, na Vila Militar do Rio, mas continua preso.
Braga Netto é, pela importância, a cabeça mais exposta da estrutura militar do golpe esfacelada e desmoralizada por um fracasso. Ele, Augusto Heleno, então ministro do GSI, mais Nogueira, que comandava as Forças Armadas, e Garnier, chefe da Marinha, são a expressão da derrota dos militares.
Outros que já usaram fardas, além de Braga Netto, estão presos como golpistas, como o general Mario Fernandes e os dois oficiais kids pretos das forças especiais apontados pela PGR como encarregados da missão de assassinar Lula, Alckmin e Moraes. Mas poucos sabem quem é Fernandes e quem são os kids pretos.
Sabemos quem é Braga Netto e o que ele fez ou tentou fazer em 2022. O general cometeu o erro de ameaçar colegas da mesma patente, enquanto fazia o leva e traz entre Bolsonaro e os que se assumiam ou fingiam ser golpistas e entre esses e os acampados diante dos quartéis.
Se o plano tivesse dado certo, seria o coordenador-geral do Gabinete Institucional de Gestão da Crise. E seria mais o que hoje, numa ditadura? É provável que continuasse sendo apenas um serviçal de Bolsonaro.
O constrangimento de Braga Netto não é apenas o de ter que enfrentar a cadeia hoje, mas o que virá mais adiante na continuação do processo de degradação pessoal e de destruição da imagem das Forças Armadas.
Dos 34 denunciados na primeira leva pela PGR, 24 são militares, com seis generais. Os réus civis são, em maioria, da área da segurança, e os mais famosos deles são os delegados Anderson Torres e Alexandre Ramagem.
O sistema de Justiça alcançou gente que usava armas, com ou sem fardas, e está com um pé dentro da cadeia. E deixou escapar até agora os civis que ajudaram a sustentar o plano.
Braga Netto é a cara do fracasso dos fardados ou armados e deve pensar também no que todos nós pensamos: por que os golpistas sem farda e sem armas estão escapando?
Por que os grandes empresários que estiveram todo o tempo ao lado de Bolsonaro e financiavam o gabinete do ódio estão ilesos e ainda fora do alcance de Paulo Gonet e de Moraes?
O general é a cara de uma geração de altos oficiais que se aliou ao que existia de pior na política brasileira, não para liderar um projeto – como fizeram seus colegas de 64 – mas para ser subalterno do plano fascista de um ex-tenente medíocre.
Não dá pra sentir pena de Braga Netto. Mas até Michelle Bolsonaro sabe que ele não deveria estar preso sozinho, olhando pela janela à noite e se perguntando: e os civis que também participaram dos crimes dessa empreitada que não deu certo?
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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