O Brasil contra Bolsonaro

Sociólogo Emir Sader aponta que Jair Bolsonaro tem “setores determinados” contra ele, como militares e o grande empresariado, mas que, “em compensação, tem contra si a grande maioria da população”, como mostraram os atos deste sábado, 24 de julho, em centenas de cidades no Brasil e no mundo

Emir Sader
Publicada em 26 de julho de 2021 às 14:40
O Brasil contra Bolsonaro

As novas manifestações contra Jair Bolsonaro, em centenas de cidades, reunindo centenas de milhares de pessoas, confirmam que o Brasil está unido contra ele. O isolamento do governo é cada vez maior, Bolsonaro conta com um número cada vez menor de adeptos.

Bolsonaro conta com setores determinados: com o apoio de militares, para os quais o discurso absurdo é o de que  haveria um complô para levar Lula à presidência e que o seu papel seria evitar isso. Para o grande empresariado – tanto os exportadores de soja, como os banqueiros privados, como grandes comerciantes, para os quais oferece a desarticulação do Estado e a privatização de patrimônio público. Para os que se enriquecem com a exportação de produtos primários, com o mercado de luxo e com as privatizações.

Para os policiais, com que ele conta como força repressiva e poderia participar de alguma aventura golpista, que recebe, assim como os militares, grande quantidade de privilégios. Setores já minoritários dos evangélicos.

Em compensação, Bolsonaro tem contra si a grande maioria da população. Quem vive do seu trabalho, perdeu empregos, trabalha sem carteira de trabalho, com total precariedade, sem saber se vai ter ganhos no mês seguinte, para comer, para pagar aluguel, para comprar remédios, para pagar o transporte. São a grande maioria dos brasileiros, que rejeitam fortemente o Bolsonaro, são vítimas privilegiadas das políticas neoliberais do Paulo Guedes.

A juventude, que vê seu futuro bloqueado por uma política que ataca as universidades, as escolas públicas, corta os recursos, agride os professores, faz diminuir drasticamente os alunos inscritos nas escolas públicas e nos programas de democratização da educação. Eles sentem como se trata de um governo que age contra a ciência, contra o conhecimento. 

As mulheres são as que mais rejeitam o Bolsonaro, que as ataca sistematicamente, que atenta contra os direitos conquistados por elas. As mulheres, que se dão conta como o estilo, o discurso e o comportamento do Bolsonaro são de um machismo exacerbado.

Os negros são violentamente discriminados e reprimidos pelo governo de Bolsonaro, se dao conta dos enormes retrocessos sobre seus direitos nesse governo. Os personagens, os símbolos dos movimentos negros são degradados e discriminados inclusive por quem deveria no governo, cuidar deles.

Somados, os trabalhadores, as mulheres os jovens, os negros, constituem a maioria esmagadora da populacao, que rejeitam frontalmente o Bolsonaro.

Além disso, os professores, os estudantes, todos os que valorizam a educação, são odiados e odeiam o Bolsonaro. Todos os que valorizam os serviços públicos, rejeitam brutalmente o Bolsonaro, que só tira recursos e ataca os serviços públicos.

Todos os que prezam a soberania brasileira, os que valorizam a boa imagem do Brasil no mundo, as boas relações com os países vizinhos, os que  sabem quanto a solidariedade com os que mais necessitam é fundamental, todos os que rejeitam a grosseria, a agressão, a falta de respeito pelos outros, especialmente pelos que pensam diferente, é condição fundamental da democracia – se opõem a Bolsonaro. Sabem que ele nunca poderia ter sido eleito presidente do Brasil não fosse o golpe que derrubou ilegalmente a Dilma, impediu ilegalmente Lula de ser candidato e ganhar as eleições.

A grande maioria dos brasileiros está hoje contra o Bolsonaro, deseja sua queda, prefere o Lula como presidente. Se mobiliza cada vez mais, apesar da pandemia, para expressar sua rejeição a Bolsonaro.

O Brasil hoje está contra o Bolsonaro. Busca as formas de derrotá-lo, de tirá-lo do governo, de processá-lo e fazê-lo pagar pelos males que fez e continua fazendo ao Brasil. Pelas vidas desnecessariamente perdidas. Pela corrupção dele e dos seus filhos. Pelo desastre econômico e social do país. Pela degradação da política e da função da presidência. Pela desmoralização da ciência, das vacinas, do SUS, do pessoal de saúde pública. Pela imagem vergonhosa que dá do país no mundo.

Mais cedo ou mais tarde, Bolsonaro será derrotado, tirado da presidência,  processado e condenado, para pagar por tudo o que ele fez de ruim e deixou de fazer de comum. A justiça será feita, o pior governo da história do Brasil não ficará impune, para que o Brasil e os brasileiros voltem a ser felizes.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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