O Incra tem feito ao longo de sua existência um trabalho satisfatório na regularização e pacificação fundiária

Ao propor a extinção do Incra para que o estado avoque as funções fundiárias desenvolvidas pelo órgão federal, Evandro Padovani, Secretário de Estadual de Agricultura, revela que em questão agrária é um néscio

Robson Oliveira
Publicada em 27 de agosto de 2019 às 17:32

NÉSCIO – Ao propor a extinção do Incra para que o estado avoque as funções fundiárias desenvolvidas pelo órgão federal, Evandro Padovani, Secretário de Estadual de Agricultura, revela que em questão agrária é um néscio. O Incra tem feito ao longo de sua existência um trabalho satisfatório na regularização e pacificação fundiária com o recurso insuficiente que tem. Em relação às ações típicas da Seagri, é possível que Padovani tenha alguma expertise, embora o setor em Rondônia venha se expandindo com resultados exitosos independentemente das ações governamentais.

BOQUIRROTO – Durante três colunas este cabeça chata vem alertando para as declarações do presidente Bolsonaro e do seu subalterno na área ambiental, Ricardo Salles, por serem o combustível explosivo que deu visibilidade internacional às labaredas das queimadas na região Norte, em particular Rondônia. No meio de tanta insensatez que causou tanta combustão nessa discussão, as falas do presidente ao criticar as ações de fiscalização na área ambiental, desde o início do ano, foram entendidas como uma senha para liberar geral as ações predatórias contra nossas reservas, seja na extração ilegal da madeira, seja na expansão desordenada das áreas de pasto.

REAÇÃO – Um exemplo de como as falas de nossas autoridades são interpretadas por estes setores do agronegócio de forma tosca e equivocada, basta lembrar a reação que culminou com o incêndio de um caminhão pipa que transportava combustível para o abastecimento dos veículos da fiscalização do Ibama, em Espigão do Oeste. Ora, quando nossas autoridades responsáveis pela ordem incentivam o contrário, emerge o caos.

EXEMPLO - Há uma gravação, por exemplo - esta coluna transcreveu na época-, em que o próprio governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, avisa aos madeireiros que não iria autorizar a participação das polícias do estado nas ações de repressão contra os eventuais crimes perpetrados em Espigão do Oeste por madeireiros. Nem as suspeitas de que parte dessa madeira seja oriunda das reservas indígenas da região foram suficientes para que o governo abrisse uma investigação. Suspeitas estas que exigiam do poder público ao menos uma investigação preliminar e ações preventivas de repressão para que a ordem fosse restabelecida. A fala do coronel governador Rocha também serviu para que os céus de Rondônia entrassem em chamas.

FOTOGRAFIAS – Enquanto a Amazônia virava cinzas, os grupos políticos que se rivalizam de forma venal nas mídias sociais debatiam sobre fotos supostamente da floresta Amazônica em fogo que personalidades e autoridades internacionais utilizaram como ilustrações das matérias ou denúncias. Uma polêmica inútil e sem sentido, visto que tais fotos apenas ilustram o conteúdo da denúncia. Inequívocos são os dados disponíveis por órgãos científicos de que as queimadas e o desmatamento voltaram a crescer. O que devemos condenar, como também reprovar, são as falas de nossas autoridades políticas que terminaram servindo como incentivos das queimadas. O resto é lorota. O que conta é o essencial: o ar irrespirável, pastos e florestas em chamas e os órgãos de fiscalização sucateados sem condições objetivas para conter a criminalidade ambiental.

GARIMPAGEM – Ao declarar recentemente que o governo tem intenção de encaminhar ao Congresso Nacional uma emenda para regularizar a garimpagem nas reservas indígenas, Bolsonaro termina dando razão aos ambientalistas de que seu governo quer flexibilizar a legislação para que o garimpo seja legalizado em áreas de preservação. Com isto, aumenta este abismo de devastação na Amazônia com reflexos danosos às comunidades indígenas. Não há um local, desde que os portugueses saquearam e levaram o nosso ouro e pedras preciosas para a coroa lisboeta, em que o garimpo foi liberado e que o resultado não tenha sido um desastre. Um exemplo é Serra Pelada. Ao prometer liberar nas terras indígenas, o governo estimula um setor altamente predatório.

PAPO FURADO – Nossas autoridades costumam repetir o bordão de que é preciso regularizar o garimpo de diamante em Espigão do Oeste, localizado da reserva Cinta Larga e Zoros, sob o falso argumento de que as riquezas estão saindo clandestinamente sem que nada fique para o cofre estadual. Onde os garimpos foram regularizados o legado deixado para o poder público local são os problemas sociais na saúde, educação e segurança pública e, lógico, os problemas ambientais. O resto é papo furado!

UFANISMO – Todas as vezes em que a comunidade internacional reage contra a falta de zelo do Brasil com os recursos naturais da Amazônia surgem as reações internas alegando uma suposta conspiração visando a internacionalização de nossa região. Foi assim no governo FHC, Lula e, agora, repetido no de Jair Bolsonaro. O ufanismo exacerbado na verdade é o meio pelo qual o governante de plantão utiliza para desviar o foco da verdade, ou seja, toda vez que nosso sistema de fiscalização e repressão dos crimes ambientais relaxam em suas funções, optamos por um nacionalismo infantil ao invés de reconhecer o erro e investir em alternativas para a região . Não há em marcha nenhuma conspiração com o objetivo de invasão do território nacional, especialmente da Amazônia. O que há é um governo que atenta contra nossos recursos hídricos e vegetais para atender um setor econômico predatório.

Delação – Uma delação feita por um empresário madeireiro vai desencadear ainda uma operação em cadeia de Rondônia ao Pará. O delator fez sua parte e entregou cada um dos parceiros que operavam de forma ilegal a extração vegetal sob os auspícios de outras autoridades administrativas e políticas. A princípio o foco das atenções é a região de Ariquemes.

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