O outro lado da folia

Mais uma vez, os governantes conseguiram desviar as atenções gerais das dificuldades que desanimam os cidadãos e os predispõem a rejeitar medidas pretensamente salvadoras.

Valdemir Caldas
Publicada em 07 de março de 2019 às 09:59
O outro lado da folia

(*) Valdemir Caldas

Acabou o carnaval. Durante os quatro dias de festa, muita gente se entregou à folia, procurando afastar para bem longe as mágoas e frustrações. Para colocar o bloco na rua teve gente que fez de tudo. Alguns sacrificaram o próprio salário. Entrar o mês no vermelho não parece problema para o folião de carteirinha. Vale tudo para afogar os sofrimentos. Outros empenharam até as cuecas. Difícil deve ter sido entrar em casa com a comissão de frente completamente desprotegida. E se a patroa é do tipo que adora um barraco, ai o bicho pegou mesmo.

Ao contrário do que muitos pensam, carnaval não é só alegria. É nesse período do ano que a violência corre solta, motivada, em grande parte, pelo uso exagerado de álcool e drogas. Entre as ocorrências policiais mais frequentes destacam-se as lesões corporais, os roubos e furtos. Entretanto, é nessa época do ano, também, que as soluções para os graves problemas têm sido postergadas. Deles, já quase nem se falam, de tal modo que a população está envolvida num dos “mais importantes acontecimentos culturais da nossa história”, ou, ainda, como preferem alguns, “um dos traços mais marcantes da nossa nacionalidade”.

Passados os quatro dias de festa, é hora de voltar à realidade, de encarar as agruras de um período particularmente difícil de nossa história. Tudo volta ao que era antes. Novamente, será acompanhado com interesse, o movimento das autoridades, principalmente no campo politico, com a reforma da previdência, em tramitação na Câmara Federal.

No terreno municipal, a população de Porto Velho padece com as chuvas de março, com relevo para os ribeirinhos do rio Madeira, cujo nível já superou os dezessete metros. No distrito de São Carlos, distante setenta quilômetros da capital, muitas famílias já tiveram suas casas invadidas pelas águas. O transporte coletivo continua sendo uma pedra no sapato do prefeito Hildon Chaves e um transtorno na vida dos que dependem desse meio de locomoção. O mesmo acontece com o transporte escolar rural. O calendário escolar já começou, exceto para centenas de estudantes da área rural, que estão perdendo aula por falta de ônibus.

Como se vê, o carnaval se foi, mas ficaram os problemas. Mais uma vez, os governantes conseguiram desviar as atenções gerais das dificuldades que desanimam os cidadãos e os predispõem a rejeitar medidas pretensamente salvadoras.

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