O poderio dos caminhoneiros fez o governo capitular. Mas há riscos de que a greve continue

Não fosse inepto e tão incompetente, o governo brasileiro não teria submetido o país ao trauma da greve dos caminhoneiros.

Sergio Pires
Publicada em 29 de maio de 2018 às 10:29

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Não fosse inepto e tão incompetente, o governo brasileiro não teria submetido o país ao trauma da greve dos caminhoneiros. Há pelo menos três anos, os profissionais das estradas avisavam que iriam partir para uma paralisação, caso não fossem atendidas suas reivindicações. A situação foi piorando e explodiu quando a Petrobras começou a aumentar o preço do óleo diesel todos os dias e às vezes, mais de uma vez por dia, praticamente inviabilizando a vida dos profissionais dos transportes rodoviários. Muitos deles passaram a trabalhar com ganhos pífios, sem condições de sustentar suas famílias. O governo sempre fez ouvidos moucos, como tem feito para tantos pleitos da sociedade, porque está muito mais preocupado em manter sua obesidade mórbida, as mordomias, os 39 ministérios, os apaniguados, com um custo cada vez maior para o país. E a tributação crescendo cada vez mais. O contribuinte não aguenta mais. Paga para manter uma superestrutura ineficiente e não vê, de parte do governo e de todos os poderes, uma só ação para diminuir seus próprios custos, para ajudar o país a se aliviar de tantos impostos, taxas, contribuições, bi taxações, tri taxações. A casta que domina o país, do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e de todos os demais poderes, não acena com sacrifícios, como o faz todo o seu povo brasileiro, para que consigamos sair dessa ciranda vergonhosa de um abismo social, cada vez maior e mais profundo. Temos que começar a mudança imediatamente. Menos governo, mais povo. Menos poderosos, mais patriotas. Mais produção e valorização do trabalho e menos impostos.

O movimento dos caminhoneiros foi tão poderoso, que paralisou o país. Depois de vários dias de sofrimento, com a falta de alimentos, combustíveis, remédios, insumos, enfim, de quase tudo, finalmente o governo entendeu que, se não atendesse às reivindicações, a categoria ficaria de braços cruzados e o Brasil entraria em colapso. O governo é importante para o país. Os demais poderes são importantes para o país. Mas se todos decidirem cruzar os braços, os danos não serão tão grandes para a vida do dia a dia do país, quanto o foi a parada geral dos homens e mulheres que transportam nossas riquezas. Agora, começaram movimentos oportunistas, como o dos petroleiros. Vão surgir outros, porque  a República Sindicalista ainda está longe de terminar no país. Mas os caminhoneiros não se envolvem com essa gente, que raramente pensa no país. Eles mostraram sua força – ainda estão mostrando – e vão ter uma vida um pouco menos difícil do que tinham. Não houve concessão do governo. Houve conquista dos milhares e milhares de profissionais no volante. Espera-se que a greve termine e que nossas vidas voltem ao normal. E que os governantes, ao menos dessa vez, tenham aprendido a lição.

HORA DO RETORNO

Com suas reivindicações atendidas – ou pelo menos a grande maioria delas – é hora os caminhoneiros voltarem ao trabalho. Já mostram sua força; já disseram ao governo e à sociedade que, sem eles, não há uma vida nem perto do normal e fizeram com que um Michel Temer cabisbaixo, fosse à TV, com humildade, avisar que capitulou. Ainda havia, nesta segunda, aqui e ali, ameaças de radicalização. Imagina-se que sejam alguns poucos incautos, que não entenderam a importância do movimento e querem mantê-lo em função de outras causas, que não as principais, de atendimento às necessidades da categoria. Os caminhoneiros, até agora, tiveram o apoio do povo brasileiro. A partir de agora, com as reivindicações atendidas, manter a sociedade refém pode ser um tiro no pé de toda a categoria e de toda a luta que ela desenvolveu, com grande sacrifício. A hora é de voltar à normalidade e continuar trabalhando, sem deixar de lutar por novas conquistas. Mais que isso é forçar a barra e começar a criar antipatia perante o povão, que aplaudiu os caminhoneiros durante todo o movimento vitorioso.

OUTRO DIA DE CONFUSÃO

Mesmo depois do anúncio do governo Temer em atender as reivindicações, a segunda-feira foi mais um dia de protestos e paralisações país afora. Em Porto Velho, houve atos na Praça das Caixas D´Àgua e depois na Jorge Teixeira (BR 319), com a participação de dezenas de caminhoneiros e apoio de centenas de pessoas, começando pela manhã e indo até perto do final da tarde. Em outras cidades rondonienses, como Ji-Paraná e outras localidades do centro e do sul do Estado, também houve protestos, sempre apoiados por grande público. A  confusão continuava até no meio do movimento. Enquanto pelo menos cinco entidades defendiam acatar o acordo proposto pelo Governo, outras tantas (na confusa liderança do setor, já que não se sabe quem manda e quem não manda), queriam que o movimento continuasse. Lideranças do PT tentavam faturar em cima do rolo enorme. Alguns se apresentando como apartidários, mentindo para os envolvidos nos protestos, foram desmascarados horas depois, quando sua filiação partidária era exposta. Há aproveitadores e malandros no meio da luta dos caminhoneiros. Tomara que eles saibam separar bem o joio do trigo e que decidam com espírito de respeito e solidariedade para com a população, que tem sido extremamente solidária com eles...

FEIRA FOI SUCESSO, MESMO COM A GREVE

Os números ainda não fecharam, mas até a sexta-feira, negócios na ordem de 550 milhões de reais já tinham sido realizados na edição deste ano da Rondônia Rural Show, em Ji-Paraná. Os resultados poderiam ter sido muito melhores e a presença e produtores e público também, caso os vários bloqueios dos caminhoneiros na BR 364 não tivessem prejudicado o acesso ao parque da feira, que ocupa uma área de 50 mil metros quadrados. Mas, mesmo com todas as dificuldades de acesso e com a crise que o país atravessa, os resultados da feira se aproximaram dos de 2017, quando ela fechou com negócios na ordem de 600 milhões. Só daqui a algumas semanas, quando todos os negócios acertados na feira, forem realmente concretizados, é que se terá o número final, porque até lá, as conversações entre empresas e clientes e a procura de financiamento de bancos continua. Claro que a paralisação dos caminhoneiros e a situação de quase caos que o país viveu exatamente na semana a Rondônia Rural Show, prejudicaram um pouco o brilho a feira. Mas não ao ponto de não considerá-la menos que um sucesso. Consolidada, a feira do agronegócio do Estado vai para sua oitava edição, em 2019, com pedigree de ser uma das mais importantes do país, no seu segmento.

GASOLINA E GÁS: PREÇOS ABUSIVOS

Enquanto os caminhoneiros conseguiram avanços importantes em suas necessidades, depois da longa paralisação que afetou toda a estrutura do país, o consumidor comum continuará pagando preços abusivos pela gasolina. Mesmo com a tendência de volta ao normal do abastecimento, os postos já estavam cobrando, ontem, perto de 5 reais o litro,  em Porto Velho, mesmo com  a baixa nas distribuidoras, durante três dias., nesta semana. Muitos empresários aproveitaram para faturar mais e deixaram os clientes ainda mais irritados. Enquanto faltou o combustível e quem abastecia não dava muita bola para o valor cobrado, a partir da normalização, essa história, certamente, vai mudar. O consumidor vai começar a lutar também contra o abusivo preço para encher o tanque do seu carro ou apenas abastecê-lo com um pouco de gasolina. Em todo o país, oportunistas tentam encher os bolsos à custa da desgraça dos outros. Por aqui isso ainda não aconteceu, mas em Goiânia, nesta terça, a botija de gás de 13 litros estava sendo vendida , em alguns locais, por até 130 reais, o dobro do normal. Se a fiscalização não agir, as coisas vão piorar mais ainda.

A VOLTA DOS MILITARES?

Muita gente, sem saber exatamente o que é uma ditadura, inclusive dentro do movimento dos caminhoneiros, está indo às ruas pedindo a volta do regime militar. Não sabem o que estão falando. Qualquer democracia, por mais frágil que seja (e a do Brasil ainda o é!), jamais pode ser trocada por uma regime duro, mantido por militares. Eles, dos quartéis, têm o dever de manter a segurança nacional e a ordem. Estão, certamente, entre os brasileiros que têm maior amor à Pátria. Estão prontos para dar suas vidas, se necessário, em defesa do Brasil e seu povo. Mas militar não foi feito para governar. Foi feito para cumprir rigorosamente a Constituição, como, aliás, têm feito os representantes das Forças Armadas desde 1985, quando terminou o regime de exceção. É evidente o desespero do brasileiro comum, vivendo numa terra onde as leis só valorizam os direitos dos bandidos; onde a impunidade aos criminosos campeia; onde as injustiças sociais saltam aos olhos; onde os governos fecham-se em si mesmos, apenas para defender suas benesses e mordomias. Mas nem por isso devemos abraçar a teoria da ditadura. Quem a viveu, sabe do que se está falando. Vamos trabalhar, lutar, avançar, corrigir, mas sempre dentro dos preceitos democráticos. Tomara que nunca mais tenhamos uma ditadura neste país, nem de direita, que já vivemos e  nem de esquerda, que estivemos muito perto de sofrer. Vade retro, ditadores!

ESTADO JÁ PERDEU 150 MILHÕES

Rondônia já perdeu perto de 150 milhões em tributos, por causa da paralisação dos caminhoneiros e das medidas já em vigor, decididas pelo governo federal, para tirar cotas do CIDE e PIS/Confins do preço final do combustível para caminhões. Esse é um dos motivos pelos quais o governador Daniel Pereira não quer nem ouvir falar em qualquer redução do ICMS para o óleo diesel, atualmente com uma alíquota de 17 por cento, uma das menores do país. Numa reunião nesta segunda, com presidentes de vários poderes e órgãos, além de secretários de Estado (Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas, Ministério Público, Defensoria Pública, Casa Civil, Procuradoria Geral do Estado, Secretaria de Finanças, Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão e Secretaria de Segurança, Defesa e Cidadania), o Governador relatou detalhes da situação financeira e explicou porque não aceita negociar diminuição dos valores cobrados, via ICMS, do óleo diesel. Não se sabe ainda por onde esse tema vai trilhar, porque na Assembleia há uma tendência dos deputados de buscarem a aprovação de diminuição de até 20 por cento nos valores cobrados sobre o óleo diesel. Daniel não quer sequer falar sobre esse tema. Mas o assunto vai colocar o Executivo e o Legislativo em posições antagônicas, nos próximos dias.

PERGUNTINHA

Se você fosse caminhoneiro, voltaria normalmente ao trabalho ou continuaria a paralisação, mesmo depois do anúncio do Governo em aceitar a maioria das reivindicações?

Winz

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