Professoras comprometidas com projetos e campanhas solidárias incentivam alunos e orgulham escolas de Porto Velho

O produto será entregue à Casa do Ancião São Vicente de Paulo e à Casa de Apoio a Pessoas com Câncer, no bairro Arigolândia.

Texto: Montezuma Cruz Fotos: Daiane Mendonça
Publicada em 13 de outubro de 2017 às 13:10
Professoras comprometidas com projetos e campanhas solidárias incentivam alunos e orgulham escolas de Porto Velho

Dos 37 anos de educadora, professora Maria Aparecida dedica 31 à Escola Estadual Duque de Caxias

 

Elas têm o mesmo nome, mas não se conhecem. Uma leciona no centro de Porto Velho, outra na periferia. Ambas protagonizam atos de solidariedade.

Há 31 anos na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Duque de Caxias, a professora Maria Aparecida de Freitas, 59 anos, pediu um presente especial a seus alunos, para o Dia do Professor: caixas de leite embrulhadas em papel de presente.

O produto será entregue à Casa do Ancião São Vicente de Paulo e à Casa de Apoio a Pessoas com Câncer, no bairro Arigolândia.

Mãe de duas filhas e com um neto, Maria Aparecida assumiu a vaga em dezembro de 1985, na gestão da diretora Maria Smith Campelo, mas trabalha desde o período territorial. Deu aulas na Escola Estadual Simon Bolívar, em Guajará-Mirim, entre 1981 e 1985.

Aos 37 anos de magistério, na Duque foi também supervisora (1991 a 1992) e vice-diretora (1993 a 1997). Ganha elogios do diretor Geovaldo Oliveira Sena e da supervisora Isa Jaqueline Rodrigues de Moura Campos. “Ela é muito comprometida com a educação”, diz Isa. “Nossa escola inteirou 70 anos, e a participação dela é fundamental neste momento”, lembra Geovaldo.

Por quê Rondônia? Em Bezerros (na Serra da Borborema pernambucana), onde nasceu, ela se tornou amiga da família de Francisca Fernandes de Souza, de Guajará-Mirim, que lá morou um período e antes de retornar a Rondônia convidou-a para vir junto.

Filha de pai agricultor analfabeto e mãe empregada doméstica, Maria Aparecida sentiu que poderia colaborar financeiramente com eles. “Eu vim a contragosto da minha família (tem dois irmãos), praticamente fugida, mas pude ajudá-los financeiramente alguns anos”, conta.

Maria Aparecida começou a trabalhar no agreste pernambucano, em Bezerros (60 mil habitantes), na Serra da Borborema. “Eu ainda era menina quando alfabetizei adultos no Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização) em 1974 e por dois anos mais”, conta.

– Vamos lá, pessoal! – ela chama a turma para aula de geografia.

– Bom dia!

Faz a chamada e inicia a revisão do assunto: continente africano. Detalha clima, relevo e hidrografia. Alertando os alunos: “Clima é diferente de tempo, viu?”.

Em seguida, explica a grande extensão territorial brasileira (8,5 milhões de Km²) e sua divisão em cinco regiões, lembrando que a África também é assim.

– Gostaria que alguém, com voz bonita, lesse o segundo parágrafo do texto do livro.

Rapidamente é atendida por um aluno: “A África (30,2 milhões de Km²), considerada o berço da humanidade e da civilização, é o 2º continente mais populoso do mundo, com cerca de um bilhão de pessoas (estimativa em 2005) e o 3º mais extenso, depois da Ásia e da América, cobrindo 20,3 % da área total da terra firme do planeta”.

Em seguida, lembra que fatores de ordem física impedem a perfeita distribuição populacional. Uma aluna lê a respeito dos meios de transporte.

Depois, a sala estuda o deserto Saara (9,2 milhões de Km²), o mais quente do mundo; terras férteis do rio Nilo; populações litorâneas próximas aos oceanos Atlântico e Índico, as quais têm mais lazer, alimento e transporte.

Finalmente, a composição étnica e cultural africana, dependência, independência de estados, fome, pobreza e doenças. “A concentração de renda, o conhecido bolo, leva grande parte do povo a viver com apenas um dólar per capita (por cabeça)”, ela comenta.

Professora Maria Aparecida Lemos empenha-se em projetos sociais no bairro Floresta II

FESTAS COMUNITÁRIAS 

Na Escola Vicente Salazar (Floresta II), a professora Maria Aparecida Lemos ajuda a organizar eventos sociais, um deles, o Projeto da Primavera, com apresentações de carimbó, boi-bumbá e outras coreografias regionais, cuja renda é revertida para a melhoria dos próprios alunos.

Das 7h30 às 11h30, Maria Aparecida passa de carteira em carteira, acompanhando a construção de frases. A aula de português de terça-feira (10) foi mais alegre, pois ela distribuiu sacolinhas de bombons aos alunos do 3º ano do Fundamental I, com idade de oito a dez anos.

“Não é preciso iniciar a frase com abelha, coloquem onde a palavra (substantivo feminino) deve ser colocada”, avisa. A aula é silenciosa, ouvem-se sucessivas explicações.

Nascida em Palotina (PR), Maria Aparecida ensina desde os 18 anos em Porto Velho. É filha de cearenses de Jaguaretema, que se mudaram para o oeste paranaense em 1970, depois vieram para Rondônia. Honorina Alves Lemos, a mãe, foi servidora da Câmara Municipal 30 anos e ali se aposentou. O pai voltou para o Ceará e morreu em 2013.

Sete anos depois de concursada, trabalhou na Escola Pública de Educação Infantil Tancredo Neves (bairro Eletronorte). “Foi o meu aprendizado. Gosto deles, gosto do que faço”.

O que precisa melhorar para o professor? Resposta pronta, igual à de tantos outros colegas: “Ser mais valorizado e respeitado”.  “Professores são profissionais iguais aos outros, mas se diferenciam num aspecto: têm a missão de educar”, justifica.

Maria Aparecida destaca o empenho constante do quadro docente nas campanhas escolares para alunos até o quinto ano. “Eu falo de minhas colegas com amor e carinho, porque são ótimas e sabem levar adiante bons projetos”, diz referindo-se às pedagogas Consolação, Ivoneide, Lurdismar, Marli e Priscila.

O projeto ambiental debateu recentemente o destino do lixo, florestas, aquecimento global e queimadas. A tradicional Festa da Primavera transforma o estabelecimento sem muros e ajardinado num espaço ornamentado e alegre para a presença de pais e convidados.

Já a Festa da Família, conforme ela explica, não tem o mesmo glamour, porém, reúne os pais em confraternização. Nesse momento, eles ficam sabendo que seus filhos nunca ficam sem material escolar suficiente para todo o ano letivo.

A equipe liderada pela diretora Marlene Rodrigues sua a camisa “de domingo a domingo”, segundo Maria Aparecida, e nessa prontidão realizará neste final de outubro a Olimpíada de Matemática.

Diferente de outras do gênero, porque incorpora a interdisciplinar. Educação Física, português, geografia, história e demais matérias têm conteúdos associados à matemática. Os melhores trabalhos são premiados.

Winz

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