Recolhimento de livros foi cancelado, mas a intenção permanece…e creia, os livros vão sumir das prateleiras

O episódio envolvendo a “lista de livros perigosos para a juventude” do governo de Rondônia, mostra que o recuo foi apenas estratégico

Blog do Painel
Publicada em 07 de fevereiro de 2020 às 17:41
Recolhimento de livros foi cancelado, mas a intenção permanece…e creia, os livros vão sumir das prateleiras

Os ideais neofascistas rondam perigosamente o Estado de Rondônia. O governador que governa pelo Facebook, e de vez em quando aparece nos programas “jornalísticos” da repetidora da Record tenta ser o mais alinhado possível com o capitão que atualmente tenta comandar o país, mas é sempre incomodado pela imprensa, malvada, marrom, que “não deixa o homem em paz”.

E é espelhado nesse alinhamento que tivemos dois episódios bizarros nos últimos dias no Estado. Quem puxar pela memória vai lembrar do caso de Cleomar Marques, que foi notícia nacional ao ter pedidos de benefícios negados pelo INSS por não conseguir assinar o próprio nome. Mas, tem um pequeno detalhe, ela não tem mãos, e nem pernas.

Após a repercussão pela bizarrice, o INSS negou, depois confirmou, e por último disse que “resolveria”. O governador de Rondônia, que nada tem a ver com o INSS, apressou-se em visitar a ex-sinaleira, que vive com dificuldades na periferia da capital, amparada pela filha, que não pode trabalhar pois tem que cuidar da mãe. Marcos Rocha esteve com a mulher, e depois fez um vídeo, dizendo que tudo não passava de “fake news”, que não era nada daquilo, e de quebra, ainda postou um vídeo de Damares Alves, aquela da goiabeira, engrossando o coro, e chamando a notícia, que tem documentos, depoimentos, e ofícios, de “fake news”. Se você tiver estômago, ou paciência, veja o vídeo:

Vamos em frente. Passado esse episódio, eis que passa a circular a informação, timidamente, de que existia um memorando determinando a retirada de 43 livros dos acervos das escolas da rede estadual, por “conteúdo inadequado aos jovens”. Mas, não estamos falando de qualquer panfleto, e sim de clássicos da literatura nacional e mundial. Cópias dos documentos passaram a circular em grupos de Whatsapp até que veio parar aqui no blog. A coisa é tão inacreditável que chega a ser mais fácil achar que se trata de alguma “coisa de comunista”, ou de “petistas infiltrados no governo”. Com a repercussão, o secretário Suamy Vivecananda primeiro disse que era “um rascunho”. Se era um rascunho foi porque alguém escreveu, portanto, o documento existe. Ele foi distribuído para as coordenadorias regionais de ensino, e confirmamos o recebimento por três delas.

Em seguida o secretário engatou o famoso, “é fake news”. E determinou que o documento fosse colocado em “modo restrito”, sendo dessa forma impossível confirmar a autenticidade via QR Code. Porém, algum “comunista infiltrado” filmou e mostrou que o documento ainda estava lá, no sistema.

O governo está flertando perigosamente com o fascismo, com tudo que há de pior na natureza humana. E esse não é um caso isolado em Rondônia. Em 2017, antes ainda de Bolsonaro chegar à presidência, o delegado Thiago Flores, prefeito de Ariquemes, cidade a 200km de Porto Velho, mandou arrancar páginas de livros didáticos por citarem “união entre gays”, como se isso fosse acabar com a família brasileira.

O episódio envolvendo a “lista de livros perigosos para a juventude” do governo de Rondônia, mostra que o recuo foi apenas estratégico. Não se iludam. Diretores de escolas mais “alinhados” já começaram a sumir com os títulos, que vão ficar cada vez mais raros nas prateleiras das escolas rondonienses. E sempre tem aqueles que gostam de “incrementar” e claro, ampliar a lista por conta própria. E sabe o que é ainda mais grave? Sou capaz de apostar que a grande maioria dos envolvidos nesse bizarro episódio, nunca pegou nenhum desses títulos nem para folhear, porque se tivessem lido ao menos um deles, jamais pensariam em tamanha barbárie.

Vamos aguardar a próxima “fake news”…

*na imagem em destaque, o ator Grande Otelo no clássico Macunaíma, que foi um dos livros “perigosos” que o governo mandou suprimir.

Comentários

  • 1
    image
    Servidor 08/02/2020

    Na verdade, há uma grande desinformação da mídia. O documento não foi assinado pelo Secretário. A ordem não foi emitida por ninguém com "poder" para ordenar algo. Provavelmente foi uma ideia de um servidor, mas que felizmente não foi para frente. Em resumo, foi uma ideia ruim que não teve qualquer efetividade. Muito alarde para pouca coisa.

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Winz

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