Soldados da borracha protestam contra falso monumento em Porto Velho

Puxados pelo presidente da entidade, um grupo de soldados da borracha e seringueiros filiados ao SINDSBOR, apesar das dificuldades de locomoção, protestaram na manhã de ontem em frente ao pátio construído pela Prefeitura.

Por Xico Nery/CNR
Publicada em 18 de outubro de 2018 às 14:49
Soldados da borracha protestam contra falso monumento em Porto Velho

Porto Velho, RO – Indignados e achando-se excluídos do processo de construção do monumento atribuído aos Soldados da Borracha num pedacinho de espaço das avenidas Amazonas com Nações Unidas, o presidente da categoria, José Romão Grande, 96, pediu, nesta quarta-feira (17), ao Ministério Público Federal (MPF) aborte a inauguração prevista para cinco dias antes do segundo turno das eleições.

Segundo Romão, “o monumento já içada ao pedestal em nada exprime o perfil dos pioneiros nordestinos e amazônicos que deram (ainda dão) suas vidas à vitória aos Aliados na Segunda Mundial”. A falta de semelhança dada à imagem é clara e não condiz ao verdadeiro físico-capilar dos homenageados, ele disse.

Numa primeira análise da figura, encoberta com restos de sacolas plásticas desde que a imprensa denunciou o caso, “já denota que em nada condiz com a materialidade a qual se pretende dar aos nordestinos convocados no Governo Getúlio Vargas (1942-43) para desbravar os seringais da Amazônia”, diz Romão.

- Não tem cara nem semelhança com nordestino e muito menos aos nortistas nativos, indígenas, negros ou mestiços, pondera o presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros da Amazônia Ocidental (SINDSBOR), em Rondônia.

Puxados pelo presidente da entidade, um grupo de soldados da borracha e seringueiros filiados ao SINDSBOR, apesar das dificuldades de locomoção, protestaram na manhã de ontem em frente ao pátio construído pela Prefeitura contra a intentona deflagrada pelo prefeito Hildon Chaves, de levar adiante seu projeto político de inaugurar o monumento sem consulta prévia.

- A imagem reflete, em linhas e traços considerados obtusos um perfil falso da imagem não dado aos verdadeiros homenageados, desabafa o presidente da Associação dos Ferroviários (ASFEMM), José Bispo de Morais, 84 anos.

ENTENDA O CASO – Historicamente, desde a Grécia, Roma e Troia Antiga, escultores contratados para retratarem figuras e grandes nomes da história as quais viveram, colocavam na pauta normas e requisitos para dar nomes ruas, alamedas, jardins suspensos, muralhas de proteção, além de outros espaços públicos e, sobretudo, monumento a seus heróis.

Em Porto Velho, desde os anos 1997, antes da transformação da elevação de Rondônia a Estado, “infelizmente, a cultura e a história popular, em seus ritos e mitos, “são tratados com desdém pela maioria dos inquilinos palaciano Municipal e Estadual”, denuncia a acadêmica Francisca da Silva, 56, ao repudiar a decisão do residente da Fundação Cultural, museólogo Antônio Ocampo, em não atender aos pedidos de revisão do projeto de autoria do Município.

Ainda assim, está na pauta do cerimonial da Prefeitura para ser cumprida a inauguração a cinco dias do segundo turno das eleições. Em que pese à imagem exprime a figura de um suposto herói das Entradas e Bandeiras durante a febre do ouro rumo ao Centro Oeste brasileiro e à Amazônia das tropas do gaúcho Plácido de Castro, herói da Revolução Acreana, aponta Francisca da Silva.

Em linhas gerais, via de regra, para o Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros da Amazônia (SINDSBOR), na inicial do projeto de construção da imagem (estátua, busto, totem ou sarcófago), o poder público deveria ter consultado a entidade representativa e instituir uma consulta popular. Além de escutar historiadores, pesquisadores e os próprios soldados da borracha ainda vivos.

- Não o fez, arrematou José Romão Grande.

Em se tratando de uma parte do patrimônio cultural e social da História da Amazônia a ser conservada e preservada, reportaram-se remanescentes dos soldados da borracha e seringueiros no local da inauguração da estátua, “a Câmara de Vereadores, a Assembleia Legislativa, a OAB, os ministérios Público Estadual e Federal, respectivamente, não podem estar coniventes com esse assunto”,desabafa a acadêmica em foco.

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