Venci a Covid - Fábio Diniz conta como superou mais um desafio na vida

Jornalista da Rede Amazônica conta ao Tudo Rondônia como se curou da doença com 82% dos pulmões comprometidos. Ele conversou com o jornalista Felipe Corona para o Tudo Rondônia

Felipe Corona/Tudorondonia
Publicada em 02 de janeiro de 2021 às 09:20
Venci a Covid - Fábio Diniz conta como superou mais um desafio na vida

Porto Velho – Fábio Diniz nasceu em Porto Velho e é o filho mais velho de cinco irmãos, com família rondoniense com pai maranhense. Ele se formou na primeira turma de Jornalismo de Rondônia e já tem MBA em marketing.

O jornalismo surgiu em sua vida aos 17 anos, quando estagiou na redação do jornal Alto Madeira, sob a orientação de Sued Pinheiro.

Atuou em alguns sites e rádios de Porto Velho até ser contratado e enviado pela Rede Amazônica para Cacoal, em 2006. Já passou por vários departamentos da empresa e hoje atua na área do jornalismo investigativo.

Tudo Rondônia - O que você achava dessa doença no começo da pandemia, lá no mês de março, quando ela mal tinha chegado no Brasil?

Fábio Diniz – Hoje os fatos/acontecimentos do mundo “dormem” com a gente né? Eu pelo menos, visito vários sites de notícias antes de dormir. Dessa forma fiquei sabendo do coronavírus e minha grande preocupação de início era saber se o vírus chegaria por aqui...

Fiquei bastante preocupado com a letalidade da Covid-19. Todos os dias, os noticiários já contabilizavam milhares de vítimas pelo mundo. Mas, sinceramente, em março, não acreditava que o vírus chegasse e fizesse tantas vítimas em Rondônia.

TR - Como e quando você descobriu que estava com a doença?

FD – No final do mês de outubro, eu comecei a sentir dores no corpo e indisposição durante dois dias. No terceiro, apareceu febre. Com esses sintomas, após cinco dias, fiz exame para saber se era a Covid-19. O resultado foi negativo. No dia 03 de novembro, comecei a sentir dificuldades para respirar e bastante cansaço.

Fiz novo exame no final da manhã desse mesmo dia, e dessa vez, o resultado foi positivo no começo da tarde. Por volta das 16 horas, a doença me atacou com força, me deixando numa situação de fragilidade, com febre e dificuldade para falar, respirar e andar. Fui levado para a UPA da zona Leste a pedido de amigos, onde fui muito bem atendido. Medicado, recebi oxigênio. Após exames, a médica informou que eu estava com 35% dos pulmões comprometidos e a corrente sanguínea com pouca oxigenação, uma situação clinicamente grave.

Por ter plano de saúde, pedi para ser liberado e procurar atendimento na rede particular. Fui informado que só poderia deixar a UPA numa ambulância, recebendo oxigênio. Caso contrário, poderia sofrer uma parada cardíaca. Meu irmão e minha mulher resolveram toda a questão burocrática e financeira para ser transferido durante a madrugada, para um hospital particular, onde segui com o tratamento até 19 de novembro.

TR - Como você passou por ela? Como foi o tratamento? Chegou a ficar na UTI? Ser intubado?

FD - Superei a Covid-19 com muita fé, dedicação, fisioterapia, e também, graças ao profissionalismo e dedicação da equipe médica também me acompanhou. Cheguei à unidade de saúde numa situação bem crítica, e inicialmente, o tratamento só com medicamentos não foi suficiente. Exames apontaram que cerca de 82% dos meus pulmões já estavam comprometidos.

Fui encaminhado para a UTI com pedido para ser intubado. Por ter lido bastante sobre o vírus, e até mesmo atuado na cobertura da pandemia aqui em Rondônia, não aceitei ser intubado. Então, no primeiro dia na UTI, pedi à equipe médica mais uns dias. Se não apresentasse melhoras, poderia ser intubado.

Tive fé que a fisioterapia poderia me ajudar na recuperação, e assim foi, horas durante dias e noites, usando a máscara de VNI, que é a máquina de ventilação mecânica não invasiva. Consegui apresentar melhorias diárias.

TR - Você chegou a ter medo em algum momento?

FD – Eu senti medo sim, principalmente quando fui transferido para a UTI. Eu não tinha força nem para ficar de pé. Apresentava muita dificuldade para falar e respirar. Nessa situação muito delicada, a gente precisa mostrar força psicológica e iniciar uma briga mental, o que não é nem um pouco fácil.

Você com a saúde fragilizada e isolado, a sensação é de perda, de derrota. O cenário não te mostra um final feliz. Muito pelo contrário: te conduz para o fim. Tenho certeza que se eu não mostrasse força psicológica, não estaria aqui contando essa história.

Foram dois dias e duas longas noites lutando para manter o foco na minha recuperação, pensando na minha família, fechando os olhos para rever o sorriso das minhas duas pequenas filhas, fortalecendo minha espiritualidade, enchendo minhas lembranças de pensamentos positivos e momentos de felicidade. Só assim, pude vencer essa briga psicológica.

TR - Como sua família reagiu à doença? Eles também foram infectados?

FD – A doença causa muita preocupação em toda minha família. Praticamente todos foram infectados, mas eles tiveram menos problemas para superar a Covid-19. Eu fui o único a ficar numa situação mais grave por causa da doença.

TR - Como foi a reação do público que te acompanha? Muitas manifestações de carinho? Orações? Soube de tudo?

FD – Essa é a situação que mais me surpreendeu e de forma positiva. Claro que com as redes sociais, fica fácil interagir, mas o número de manifestações, mensagens de carinho e orações que recebi foi numa quantidade que jamais esperava.

Pelo celular, redes sociais, através de familiares e amigos, recebi carinho de pessoas que jamais vi. Também virei notícia né? O fato de atuar na maior empresa de comunicação do Norte e uma das maiores do Brasil, contribuiu para minha internação repercutir em alguns veículos de comunicação aqui do estado.

Um detalhe: durante a internação na UTI, não é permitido ficar com celular. Só senti esse carinho quando recebi alta. Então, fiquei muito feliz pelas manifestações. É nesse momento que a gente tem mais motivos para continuar e agradecer a Deus por cada dia de vida.

TR - E após a saída do hospital ou da quarentena? Como foi?

FD – Foram 16 dias de internação. A saída foi surpreendentemente rápida. Me recuperei bem, mas durante os outros 20 dias, precisei ter muito cuidado. Nada de excessos, principalmente na condição física, pouco esforço e cautela, até mesmo para caminhar.

TR - Teve alguma sequela grave? Ainda está fazendo tratamento após algum tempo de curado?

FD – Tenho sim, mas não sei bem se é grave ou não. Na verdade, só o tempo vai responder sobre a gravidade, mas hoje fisicamente, estou distante capacidade. Não posso praticar esportes, nada que exija resistência física. Psicologicamente, não posso vacilar. Preciso continuar forte.

De certa forma, ainda tenho um pouco de medo. Minha dúvida é se vou continuar respondendo bem nas minhas atividades sociais, como por exemplo, no trabalho. São tantos anos no jornalismo, mas minha saúde mental também sofreu. Então, preciso passar por processo de recuperação.

Estou curado, mas preciso de acompanhamento médico de, pelo menos, três meses, para superar os danos que a Covid-19 causou a minha saúde. Durante esse período, pratico atividades físicas leves, como caminhada e natação, além de exercícios específicos de fisioterapia para melhorar a respiração. Nada de medicação, mas ingerindo muitas vitaminas.

TR - Qual a sua reação com o novo pico de casos em Rondônia?

FD – É de preocupação, apesar de já se falar em vacina. Ela ainda não é uma realidade. Na prática, ainda temos muitos dias, para de fato, a população receber a vacina. Preocupante, justamente por isso, porquê a Covid-19 precisa apenas de dias para fazer vítimas e já foram tantas.

O que ficou claro para mim, é que essa pandemia escancarou o quanto somos egoístas, o quanto estamos preocupados com o próprio umbigo. Esse novo pico mostra bem quanta gente desdenha do vírus. Temos a liberdade de fazer o que quiser da nossa vida, mas não temos o direito de tirar a vida de um familiar, de um amigo, de um colega de trabalho ou quem quer que seja.

Tem pessoas festejando, aglomerando em boates, bares, sem tomar o mínimo cuidado, se arriscando e colocando a vida de outras pessoas em risco por futilidade. Eu não sei como e onde fui infectado, mas tenho certeza que não foi em um momento de futilidade. Não perdi nenhum familiar para a Covid-19, mas perdi muitos amigos, inclusive alguns que desdenhavam da doença.

Em respeito às milhares de vítimas dessa pandemia, eu procuro seguir as recomendações de prevenção. É o mínimo que podemos fazer.

TR - Qual o seu recado para quem está enfrentando a doença, já enfrentou, e principalmente, quem não leva à sério o vírus?

FD – Com tantas mortes e casos confirmados de Covid-19, as restrições que a pandemia nos trouxe, nada de futebol, o carnaval nem pensar, confraternização familiar, aproveitar os amigos... Enfim, são muitos os motivos para levar a doença à sério, mas depois de oito ou nove meses vivendo com essa situação, o cidadão ainda não leva à sério a Covid-19... Só posso desejar boa sorte a ele e às pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia.

Quem enfrenta ou enfrentou as complicações graves da Covid-19, sabe que é preciso ser resiliente, se reinventar... Eu posso dizer que minha experiência me deu a condição de ver e viver o lado bom da vida, que devo parar de olhar e valorizar os 10% de coisas ruins do dia, que às vezes, me fazem esquecer os 90% de coisas boas.

Pense bem, reflita e certamente chegará à conclusão que o dia valeu a pena pelos resultados positivos. Se por acaso achar que não foi, acredite no amanhã, quando temos outra chance de viver...

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