A oito meses da eleição, Lula projeta imagem de amplitude e conciliação enquanto Bolsonaro está isolado, lambuzado, seboso

Desespero e falta de rumo político no Palácio do Planalto explicam postagem de vídeo repugnante de um Jair Bolsonaro incapaz de se portar como “presidente”

Luís Costa Pinto
Publicada em 31 de janeiro de 2022 às 18:14

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Por Luís Costa Pinto, do 247 – Jair Bolsonaro tem certeza de que é traído a todo momento dentro dos palácios do Planalto e da Alvorada, não confia sequer nos ministros e assessores mais chegados a ele e passou a reclamar até da falta de lealdade de uma corporação que armou a cena para que ele escalasse ao cargo que ainda conserva: as Forças Armadas. Essa síndrome persecutória está na raiz da farofada do último domingo, que levou à hashtag #BolsonaroPorco escalar os trending topics do Twitter, e ao discurso mentiroso da manhã desta 2ª feira 31/01, quando disse que o ex-presidente Lula já havia “escolhido” seus ministros da Casa Civil (o advogado e ex-ministro José Dirceu, segundo ele) e da Defesa (de acordo com o “Bolsonaro sem bússola”, a ex-presidente Dilma Rousseff).

Bolsonaro aceitou a sugestão, dada por Tércio Arnaud, assessor palaciano e integrante do Gabinete do Ódio, para que se deixasse filmar numa sequência repugnante enquanto comia frituras com farofa de dendê na periferia de Brasília. A ideia era vendê-lo como alguém “popular” quando se divulgava a informação dos exorbitantes gastos secretos com o cartão de crédito corporativo da Presidência – 29,6 milhões entre 2019 e 2021, 18% acima dos gastos de Dilma e Michel Temer, somados, no período 2015 a 2018. Ou seja, queria cobrir com farinha amarela os escandalosos gastos no cartão corporativo do Palácio.

Uma vez gravado o vídeo bizarro, Bolsonaro autorizou o compartilhamento da peça de “propaganda” nas redes sociais de assessores e até do ministro das Comunicações, Fábio Faria. Depois da péssima repercussão política (e mesmo familiar: Michelle Bolsonaro reclamou da sequência sebosa), ordenou a retirada do filme dos perfis de quem o postou e está sob seu comando. O “marketing reverso”, contudo, estava sacramentado. Uma bronca colérica foi dada em Arnaud, que se responsabilizou pela mal sucedida tentativa de apagar a má repercussão dos gastos com cartões corporativos produzindo uma imagem de “presidente popular” que se revelou repulsiva e soou fake desde o primeiro momento.

Na manhã desta 2ª feira, 31/01, Bolsonaro aproveitou uma solenidade da Petrobras e o fato de ter o presidente da estatal, o general da reserva Silva e Luna, ex-comandante do Exército de Dilma Rousseff e ex-ministro da Defesa no período de Michel Temer, no auditório e proclamou duas mentiras: Lula já teria convidado o ex-ministro José Dirceu para assumir sua Casa Civil e a ex-presidente Dilma para o Ministério da Defesa. 

Dirceu e Dilma, dois dos quadros políticos melhor preparados da República, têm todas as credenciais para ocupar os postos designados a eles por Jair Bolsonaro. Contudo, a mentira presidencial foi dita em local estratégico e caro à turma dele: ao pé do ouvido de Silva e Luna, integrante do corpo de generais da reserva que conspirou contra Dilma Rousseff entre 2015 e 2016 e assumiu a Defesa na esteira do golpe montado por Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves. 

A mentira presidencial tinha endereço: a caserna

O objetivo de Bolsonaro era criar ruídos na caserna, confundir o “Partido Militar”, que está dividido e atarantado ante os sinais trocados emitidos por Hamilton Mourão, o vice, general de pijama; por Braga Netto, outro militar metido em ceroulas e coturno que despacha no Ministério da Defesa e não esconde de ninguém o sonho de ocupar a vaga de Mourão como vice-presidente na tentativa de reeleição bolsonarista; por Santos Cruz, o general da reserva que se filiou ao Podemos de Sérgio Moro e oscila entre Brasília e Rio de Janeiro para iniciar carreira política. Ao dizer o que disse, arrancando um sorriso cúmplice de Luna e Silva, o que Bolsonaro queria era usá-lo como moleque de recados para o âmago do “círculo de fogo” do Forte Apache (como é conhecido o Quartel General do Exército em Brasília).

A bússola política do bolsonarismo perdeu o Norte quando o PP de Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, e o PL do próprio presidente, apresentaram a Jair Bolsonaro um compilado analítico e crítico de pesquisas quantitativas e qualitativas que encomendaram. O homem que ainda está sentado na cadeira presidencial, e tem certeza de que irá enfrentar diversos processos judiciais destinados a colocá-lo na cadeia quando levantar dela e entregar a faixa ao sucessor, recebeu em números fartos a de todas as formas possíveis a pior notícia que lhe poderiam dar: contra o ex-presidente Lula, deverá amargar uma derrota eleitoral histórica – possivelmente em 1º turno.

Candidato mais do que consolidado, navegando entre índices de intenção de voto que lhe concedem entre 42% e 45% no 1º turno, o que deixa o pleito de outubro, a preço de hoje, próximo de ser resolvido numa rodada só (como ocorreu em 1994 e 1998, com Fernando Henrique Cardoso), Lula (PT) tem preocupações diametralmente opostas. Ao ex-presidente é concedida a liberdade de se mostrar amplo, majestático e magnânimo como devem ser os estadistas. Há tensões internas nas legendas de esquerda em razão da amplitude das alianças que vão até à centro-direita? O ex-presidente posa de conciliador. Há tensões no mercado financeiro, com uma ou outra voz querendo brincar de lembrar pavores e temores ultrapassados com a ascensão do PT? O petista relembra que não fez loucura alguma enquanto foi governo, que não rompeu contratos, que não revogou leis de mercado. 

Lula é a imagem da conciliação, do entendimento, das saídas; Bolsonaro, da desordem, do caos, do jogo sujo. Eis a síntese do quadro político. 

Além de beber o café frio dos patos mancos (lame ducks, como definem os norte-americanos aqueles cujo poder está no outono), de ver fantasmas atrás das portas e de enxergar em casa aliado de ocasião um traidor em potencial, Bolsonaro tem sido cobrado a apresentar uma habilidade que nunca teve para construir pontes destinadas a resgatá-lo das situações institucionalmente tensas criadas por ele mesmo.

Luís Costa Pinto

Jornalista, escritor e diretor editorial no Brasil 247 e na TV 247. É também membro do Conselho Editorial do Brasil 247. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

Comentários

  • 1
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    celivaldo soares 01/02/2022

    luis costa pinto, o que vc fez de essencial à voce? pois não há nada provado e nem executado por voce na sua profissão de "jornalista". Falar do governo atual é polvora nas mãos dos esquerdopata como voce. Voce nunca estendeu suas escritas contra o seu governo anterior; por ser alienado a eles. Aprenda que, materia paga nem sempre tras bons resultado. por isso voce não fala, mais não diz nada.

  • 2
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    Gleicyanne 31/01/2022

    Seboso tá o pai desse Jornalista safado. Respeita o Presidente da Republica seu canalha. Safado.

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