A vergonha dos subsídios

Os políticos fazem as suas lambanças e a imprensa é responsável? Tenha santa paciência, excelência!

Valdemir Caldas
Publicada em 24 de agosto de 2017 às 10:14

Dias atrás, a Assembleia Legislativa de Rondônia aprontou mais uma das suas. Indiferente ao momento difícil pelo qual o país atravessa, com milhões de pessoas desempregadas e outras tantas morrendo à mingua nos hospitais da rede pública por falta de médicos e medicamentos, alguém propôs transformar seis mil dos nove mil da verba indenizatória em auxilio alimentação e, assim, receber a grana enxutinha, sem nenhum desconto, mas o arranho vazou e a população caiu de pau. Um nobre deputado não gastou e jogou a culpa na imprensa por ter divulgado a armação. Os políticos fazem as suas lambanças e a imprensa é responsável? Tenha santa paciência, excelência!

Por certo, o nobre representante do povo acha pouco o que ganha pelo esforço de comparecer a duas, ou, no máximo, três sessões por semana, entre um cafezinho e outro, ou, ainda, um suco geladinho, sentar alguns minutos em um plenário com ar refrigerado, permanecer em completo silêncio, ler os jornais do dia, conversar com os colegas, votar em alguma coisa, se julgar conveniente, ou, então, ficar tirando cutículas das unhas com os dentes, ou, simplesmente, fazer absolutamente nada. É por isso que aparecem tantos desocupados e aproveitados no meio de bons candidatos. E é por esse motivo, também, que os quadros políticos estão cheios de enganadores, que só vão aos plenários para justificarem seus salários no final de cada mês, indispostos para qualquer esforço, ineptos para gastarem suas energias em causas populares. Depois, ficam chorando pelos cantos, como meninos birrentos, quando o povo vira-lhes as costas.

Os salários pagos para algumas categorias, no Brasil, são uma afronta. Sou radicalmente contra um homem ou uma mulher ganhar quase cem mil reais só para comparecer a duas sessões legislativas, isso sem citar as inúmeras mordomias, num país onde milhões de pessoas vegetam no limite próximo da inanição, com famílias que são obrigadas a sobreviverem com menos de um salário mínimo e outras com menos disso, sob condições as mais desumanas e cruéis. É uma falta de misericórdia para com tanta gente, pois na medida em que sobem seus salários aos píncaros à custa do sacrifício e da miséria alheia, essas circunstâncias concorrem para o deterioramento da classe política. Pense nisso, excelência, antes de abrir a boca para votar em matérias que só beneficiam o senhor e os seus colegas.

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