Artigo: “Pregadores do infortúnio”, por Andrey Cavalcante

Novamente agraciado com a honra de apresentar, em nome da OAB Rondônia, as boas vindas a mais um grupo significativo de novos advogados e advogadas.

Andrey Cavalcante
Publicada em 26 de junho de 2018 às 11:56

Novamente agraciado com a honra de apresentar, em nome da OAB Rondônia, as boas vindas a mais um grupo significativo de novos advogados e advogadas, fiz ver a cada um deles a importância da incorporação de sua juventude e vitalidade ao reconhecido vigor institucional da OAB. E acrescentei que com sua participação a OAB se fortalece ainda mais em seu histórico compromisso com a luta em defesa do cidadão, da garantia de pleno acesso à justiça, do respeito às leis e à constituição, de tudo o que estabelecem os ideais democráticos. Sua trajetória vitoriosa, dos anos de estudos e dedicação até à superação dos rigorosos exames da Ordem, embute altas dosagens de coragem, determinação e fundamentalmente esperança. É a vitória da coragem contra o medo – disse. É o sucesso do otimismo transformador contra o pessimismo conformista. É a superação da hesitação e da dúvida pela confiança.

A palavra esperança é etimologicamente derivada da latina “spe” e, daí, “spes”, que significa expandir, aumentar, ter êxito, levar qualquer projeto adiante. Dela deriva, além de esperança, o termo “pro-spere”, que resultou em prosperar. Nada a ver, insiste o palestrante, filósofo e teólogo Mário Sérgio Cortela, com “esperar” ou “acomodar”. Não por acaso a esperança é a segunda das três virtudes teologais, representada por uma âncora. É, portanto, com elevado teor de esperança que haveremos de ultrapassar as inúmeras barreiras que uma realidade adversa coloca à disposição do pessimismo que lamentavelmente avança por sobre o semblante do brasileiro e o transforma em presa fácil para os pregadores do infortúnio. São os que o jargão político classifica de “pescadores de águas turvas”. Para esses, o brasileiro não pode torcer pela seleção de futebol nem comemorar as vitórias, porque nossa realidade é de desalento.

Mas esquecem que o lazer é um direito constitucional. E que o enfrentamento dos desafios apenas tem perspectivas de sucesso – cada um dos senhores bem o sabem – a partir de uma atitude confiante e otimista. Quem despreza o direito à diversão com o velho argumento do “panus et circensis” precisa ser lembrado dos Direitos Sociais, estabelecidos pelo artigo 6º da Constituição, que diz textualmente: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.Ou seja: sem perder de vista a realidade, mas até em função dela, é preciso buscar, com vigor redobrado, a manutenção daquilo em que somos atendidos – entre o que se insere o futebol – e trabalhar pela efetivação dos demais direitos sociais.

Pelo mesmo raciocínio os negativistas pregam o boicote às eleições e o voto nulo. Condenam equivocadamente a política pelos erros dos políticos. Estão novamente enganados. Somente é possível mudar para melhor a política com a efetiva participação de todos os cidadãos conscientes. Para quem insiste em menosprezar a importância da ação política em todos os setores da vida nacional, vale registrar a observação de Gilson Finkelsztain, presidente da Bolsa, em entrevista publicada hoje na Folha. Ele diz que embora o mercado internacional esteja a impactar a economia dos países emergentes, o mercado brasileiro está nervoso muito mais por causa da indefinição do processo político, algo em torno de 60 e 70%. E avalia que “nunca tivemos um momento tão propício e favorável para a economia, com juros nas mínimas históricas, inflação baixa e retomada do crescimento. Eu diria que os astros se alinharam, não fosse o cenário eleitoral desafiador, que eleva a preocupação com o lado fiscal.”

Na verdade, quem se deixa contaminar pelo mau humor pessimista, que debilita a esperança e destrói a confiança, pavimenta o caminho do fracasso. Na crise de confiança está a gênesis do atraso. Ela tem claramente o poder de fazer empacar a economia, a produção de riquezas e a geração de empregos. Ela alimenta, enfim, a metástase da crise. A esperança, ao contrário, irradia confiança, fortalece a auto-estima e os conduz a todos ao caminho do sucesso, exatamente aquele percorrido por cada um dos que recebiam então as credenciais. A esperança – asseguram os filósofos – é principio de vida feliz, e ainda soa como promessa de uma vida inteira. Temos que, por obrigação tornar, a esperança parte integrante de nossa vida e não deixar sucumbir pela tentação de perdê-la no decorrer do caminho.

Gosto muito de um pensamento que, embora de autoria desconhecida, foi aproveitado por Mário Quintana em um poema. Ele ensina que “O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você”. Posso assegurar que os novos advogados encontram na OAB um jardim muito bem cuidado. Além do direito constitucional às prerrogativas dos advogados, que mobiliza nacionalmente a Ordem em defesa intransigente, todos terão aqui mecanismos de permanente aprimoramento profissional, com treinamentos, palestras, cursos e troca de experiências. Poderão contar, além de todos os benefícios que a OAB disponibiliza, com o trabalho de todas as comissões da casa, inclusiva da Comissão de Acolhimento ao Jovem advogado. Mas para além de seus sonhos e ambições, eles incorporam as esperanças da própria OAB, que se eleva, renova e fortalece com sua chegada.

 
FONTE: Andrey Cavalcante, presidente da OAB Rondônia

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