Bolsonarismo perde até quando ganha

Luta entre Popó e Wanderlei encenou, em carne e osso, o bolsonarismo: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo

Fonte: Ricardo Queiroz Pinheiro - Publicada em 29 de setembro de 2025 às 09:40

Bolsonarismo perde até quando ganha

Popó e Wanderlei Silva (Foto: Reprodução/Captura de tela de vídeo do GE)

Ontem teve essa luta armada entre Popó e Wanderlei Silva, no Spaten Fight Night 2. Dois veteranos dos ringues, um no boxe, outro no MMA, já fora do auge, em um show que nunca foi esporte de verdade, apenas entretenimento para vender ingresso e gerar repercussão.

No ringue, Wanderlei ignorou as regras, enfiou três cabeçadas ilegais e acabou desclassificado. Popó venceu sem esforço, por formalidade, sem que houvesse luta de fato. Até aí, zero a zero, quem pagou viu o que merece.

Mas veio o gran finale: como se não bastasse a bizarrice inata, no fim estourou uma briga generalizada — empurra-empurra, hospital, nariz quebrado. Ou seja, ninguém ganhou nada.

Essa cena, com toda a sua mediocridade, é uma boa metáfora para pensar a política. Não pela importância da luta, que não tem, mas pelo tipo de lógica que ela revela: uma encenação que gira em falso, uma farsa que termina em violência e deixa todos derrotados.

O bolsonarismo funciona na mesma chave. É espetáculo grotesco, política de presepada, sustentada em mentira, violência e encenação. Alimenta-se do caos que fabrica e da encenação de polarização que explora.

Mesmo quando parece vencer, já perdeu. É a lógica corrosiva: o bolsonarismo perde até quando ganha. Cada “vitória” é uma derrota disfarçada, um triunfo que deixa o país mais dividido, mais esgotado, mais desmoralizado.

E não é detalhe que os dois sejam bolsonaristas. Porque ali estava encenada, em carne e osso, a gramática desse movimento: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo.

No fim, a imagem que restou foi a mais irônica: Wanderlei Silva, desleal no ringue, terminou vítima da própria deslealdade. Tomou soco no olho, saiu desmaiado, com a cara inchada, simbolizando o epílogo grotesco dessa farsa.

É assim que o bolsonarismo opera: é desleal, perde até quando ganha — e se não nos descernirmos pode arrastar um país inteiro junto com ele.

Ricardo Queiroz Pinheiro

Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

34 artigos

Bolsonarismo perde até quando ganha

Luta entre Popó e Wanderlei encenou, em carne e osso, o bolsonarismo: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo

Ricardo Queiroz Pinheiro
Publicada em 29 de setembro de 2025 às 09:40
Bolsonarismo perde até quando ganha

Popó e Wanderlei Silva (Foto: Reprodução/Captura de tela de vídeo do GE)

Ontem teve essa luta armada entre Popó e Wanderlei Silva, no Spaten Fight Night 2. Dois veteranos dos ringues, um no boxe, outro no MMA, já fora do auge, em um show que nunca foi esporte de verdade, apenas entretenimento para vender ingresso e gerar repercussão.

No ringue, Wanderlei ignorou as regras, enfiou três cabeçadas ilegais e acabou desclassificado. Popó venceu sem esforço, por formalidade, sem que houvesse luta de fato. Até aí, zero a zero, quem pagou viu o que merece.

Mas veio o gran finale: como se não bastasse a bizarrice inata, no fim estourou uma briga generalizada — empurra-empurra, hospital, nariz quebrado. Ou seja, ninguém ganhou nada.

Essa cena, com toda a sua mediocridade, é uma boa metáfora para pensar a política. Não pela importância da luta, que não tem, mas pelo tipo de lógica que ela revela: uma encenação que gira em falso, uma farsa que termina em violência e deixa todos derrotados.

O bolsonarismo funciona na mesma chave. É espetáculo grotesco, política de presepada, sustentada em mentira, violência e encenação. Alimenta-se do caos que fabrica e da encenação de polarização que explora.

Mesmo quando parece vencer, já perdeu. É a lógica corrosiva: o bolsonarismo perde até quando ganha. Cada “vitória” é uma derrota disfarçada, um triunfo que deixa o país mais dividido, mais esgotado, mais desmoralizado.

E não é detalhe que os dois sejam bolsonaristas. Porque ali estava encenada, em carne e osso, a gramática desse movimento: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo.

No fim, a imagem que restou foi a mais irônica: Wanderlei Silva, desleal no ringue, terminou vítima da própria deslealdade. Tomou soco no olho, saiu desmaiado, com a cara inchada, simbolizando o epílogo grotesco dessa farsa.

É assim que o bolsonarismo opera: é desleal, perde até quando ganha — e se não nos descernirmos pode arrastar um país inteiro junto com ele.

Ricardo Queiroz Pinheiro

Bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

34 artigos

Comentários

  • 1
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    Maria das Dores 30/09/2025

    Realmente passou tudo quando afirma isso: O bolsonarismo funciona na mesma chave. É espetáculo grotesco, política de presepada, sustentada em mentira, violência e encenação. Alimenta-se do caos que fabrica e da encenação de polarização que explora. Mesmo quando parece vencer, já perdeu. É a lógica corrosiva: o bolsonarismo perde até quando ganha. Cada “vitória” é uma derrota disfarçada, um triunfo que deixa o país mais dividido, mais esgotado, mais desmoralizado. Ai o povo comenta nada com nada, sobre a luta de boxe e não sabe do que o texto está mostrando de fato, kkkkkkkkkkkkkkkkkk ... O colega aí em cima, quando diz, calado, é um sábio, falou tudo sobre essa questão, dos comentários de alguns que não, sabem interpretar um texto, e querem discutir sobre política e posição, kkkkkkkkkkkkkkkk.

  • 2
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    Geraldo Moreira Filho 30/09/2025

    rsrsrsrs É serio, que publicaram isto? Ate que enfim, algum pensante nesse site de poucas verdades...

  • 3
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    João 30/09/2025

    Gostei de como definiste o bolsonarismo: "o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo", mas faltou acrescentar: "a não aceitação da derrota como combustível".

  • 4
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    antonio 30/09/2025

    excelente comparação. retrato fiel do nosso país.

  • 5
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    Pedro nunes 29/09/2025

    E triste dois velhos que deveriam ser exemplos de vida pelo que fizeram no esporte necessitar de tamanha baixaria para arrecadar dinheiro. E triste de mais. Não tem certo só errado.

  • 6
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    Amadeus Hastenteufel 29/09/2025

    É revoltante que esse tipo de "luta" seja considerado esporte. Pior ainda, que canais de TV levem às casas dos brasileiros esse tipo de bandidagem. É bem verdade que cada cidadão pode desligar sua TV ou mudar de canal, quando inicia uma programação tão idiota. Mas fazer o quê ? Num país onde há tanta gente sem educação, sem cultura e sem cérebro normal, esperar coisa boa é que não pode.

  • 7
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    Santos 29/09/2025

    Calado é um sábio. Rs

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