Homenagem à minha sogra

Dona Augusta é a História viva de Rondônia e de parte de seus habitantes. Uma rocha inexpugnável, uma fortaleza de pessoa. Um exemplo a ser seguido por todos.

Professor Nazareno*
Publicada em 07 de dezembro de 2018 às 09:03
Homenagem à minha sogra

Não sou de prestar homenagens a ninguém. Muito menos à minha sogra. Mas a “rondoniense” Maria Augusta de Paula dos Santos ou simplesmente Dona Augusta merece muito mais do que um simples tributo. Viúva do seringueiro e soldado da borracha Manuel Pereira dos Santos e filha de Honorato Ferreira de Paula e de Dona Inocência Vieira de Paula remanescentes do ainda Primeiro Ciclo da Borracha, ela nasceu no dia 08 de dezembro de 1928 na Ilha de Assunção município de Porto Velho quando parte desta cidade ainda pertencia ao Estado do Amazonas. Portanto, ela está comemorando os seus 90 anos muito bem vividos de uma vida rica e cheia de dedicação aos conhecidos, amigos e familiares. Aos sete anos e no início de sua sofrida existência, perdeu a sua mãe e teve que ajudar na criação do seu casal de irmãos mais novos.

Dona Augusta é a História viva de Rondônia e de parte de seus habitantes. Uma rocha inexpugnável, uma fortaleza de pessoa. Um exemplo a ser seguido por todos. Viu aos 15 anos, a criação do Território Federal do Guaporé, depois Território de Rondônia em 1956 e por fim, já em 1982, o Estado de Rondônia. Perdeu cinco filhos, perdeu a mãe, o pai, o esposo, amigos e muitos familiares e ainda hoje dá conselhos e ensina viver bem a vida a quem pede e necessita. Católica praticante, sempre defendeu os bons costumes. Sem o conhecimento das letras, ensinou honestidade, decência e caráter a muitos. Casou-se na ilha mesmo, em 1947 aos 19 anos com o senhor Manuel Pereira, já falecido. “Seu” Manuel Pereira foi soldado da Borracha e filho de pai paraense com mãe índia da etnia Parintintim. O casal teve 10 filhos sendo que cinco já estão falecidos.

Três desses seus filhos faleceram cedo lá na Ilha de Assunção, ainda pequenos, vítimas talvez da mortalidade infantil que ceifava vidas pelo interior da Amazônia e os outros dois se foram recentemente: a saudosa professora Maria Rita Pereira, uma grande alfabetizadora tanto nas margens do rio Madeira como, há pouco tempo, na escola Sebastiana Lima de Oliveira. O outro seu filho falecido é o inesquecível Manoel Léo, o Cabo Léo, o “Guerreiro Amazônico”, ex-funcionário da prefeitura de Porto Velho e cidadão muito trabalhador conhecido por muita gente. Léo era tratorista da prefeitura de Porto Velho e ajudou, por exemplo, na abertura de várias ruas da capital como a Avenida Rio Madeira, hoje Chiquilito Erse. Dona Augusta sempre foi muito forte, pois suportou todas essas perdas tirando delas exemplos de vida que ensina para os outros.

A “jovem senhora” tem hoje 17 netos e 21 bisnetos. Morou durante 51anos na Ilha de Assunção e em 1981 mudou-se para a Vila de Calama no baixo Madeira para que seus filhos dessem prosseguimento aos estudos. Lá morou durante sete anos quando veio em definitivo para Porto Velho onde reside até hoje na Zona Sul da cidade. Ainda cuida de seu lindo jardim cheio de flores e não deixa faltar nada aos seus gatos de estimação. Essa brava guerreira ribeirinha sempre foi parteira por profissão e fez entre 15 e 20 partos. Sem cobrar nada pelos seus conhecimentos trabalhou incansavelmente em benefício dos outros como o faz ainda hoje, quando pode e quando a “vista alcança”. Foi médica onde não havia médicos. Não havia e nem há ainda. Tratava e curava muitas pessoas lesionadas de quedas e pancadas e era a melhor “ortopedista” lá da Ilha. Dona Augusta é a Rondônia que deu certo. Por isso, devia viver para sempre.

 

*É Professor em Porto Velho.

Winz

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