O Brasil sem professores

Um país que não valoriza seus profissionais de sala de aula não pode se desenvolver. E o mundo civilizado é prova disso

Professor Nazareno*
Publicada em 15 de outubro de 2019 às 10:57
O Brasil sem professores

Aposentado, hoje já não sou mais professor. Mas durante ‘rápidos’ 43 anos, orgulhosamente eu ministrei aulas em muitos dos recantos deste imenso país. Do já distante ano de 1976 no Colégio de Araçagi, interior da Paraíba, até a Escola João Bento da Costa de Porto Velho, Rondônia e passando pela escola General Osório de Calama no baixo rio Madeira, fui protagonista da “mais importante atividade” que um sujeito pode exercer. O professor no Brasil nunca foi valorizado nem pela sociedade muito menos pelos governantes. O Magistério sempre foi um trabalho de risco e hoje, com a volta à Idade Média e ao obscurantismo patrocinado pelos atuais governantes, assumir uma sala de aula tornou-se uma profissão tão perigosa quanto ser policial no Rio de Janeiro ou mesmo trabalhar enfrentando o perigo e a morte. O risco é iminente todo dia.

Por lidar com o conhecimento e a ideologia e, portanto, a libertação do indivíduo, essa faina sempre foi vista com desconfiança pela classe política e também pela elite nacional. Por isso, atualmente ser professor é assumir um risco fora do normal. A perseguição aos decentes tornou-se maior e mais direcionada ainda nestes tempos de “O Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. A perseguição aos mestres não se resume apenas aos baixos salários, mas principalmente à questão da ideologia dentro das salas de aula. Recentemente em Rondônia, a “patacoada das tabelas com os salários da categoria” empreendida pela SEDUC e pelo governo do Estado mostrou o quanto esses profissionais servem de massa de manobra aos interesses escusos dos “donos do poder”. Além de ganharem pouco, viram chacota pelo governante de plantão.

A “profissão das profissões” nunca foi fácil e hoje está mais difícil ainda em terras tupiniquins. Muito diferente dos países civilizados: estive recentemente na Alemanha e lá o profissional mais bem remunerado pelo Estado é o professor. A justificativa: “todos os outros profissionais passaram pela sala de aula e precisaram do mestre. Do médico à chanceler do país”. Nem precisa dizer o motivo por que a Alemanha já conquistou mais de cem vezes o prêmio Nobel. No Japão, outra grande potência mundial, o professor não precisa se curvar diante do imperador. Para os orientais “um país que não tem professores, também não terá imperador”. O Brasil nunca conquistou um só prêmio Nobel e sua maior marca de exportação, além das commodities do setor primário, tem sido só “perna de jogador e bumbum de mulher”.

Não adianta a mídia comprada pelo governo nem a própria sociedade não reconhecerem a importância dos mestres. Um país que não valoriza seus profissionais de sala de aula não pode se desenvolver. E o mundo civilizado é prova disso. E como muitos professores “abrem corações e mentes” de seus alunos, isso irrita sobremaneira os poderosos. E sempre foi assim, entra governo e sai governo. Durante a Ditadura Militar, nos governos neoliberais, durante a esquerda e está sendo assim agora. O bom professor é aquele que se propõe a abrir os olhos de quem não quer enxergar. O lendário e bom professor Paulo Freire, reconhecido no mundo inteiro e demonizado no governo atual, já dizia que “o bom professor é aquele que ao ensinar também aprende”. Por isso, neste dia dedicado a todos nós, parem com as hipocrisias baratas. Vamos nos alegrar em ser a cabeça da sociedade, “a única parte que pensa”. Tranquilo: eu faria tudo de novo.

*É Professor em Porto Velho.

Comentários

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    Mario Roberto 16/10/2019

    "Quem se faz professor de si mesmo torna-se aluno de um tolo." (São Bernardo)

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    Sebastião 15/10/2019

    Caro professor Nazareno, parabéns por sua excelente e informativa matéria, sobre a situação da Educação no paí e de como são tratados os professores no Brasil. Certamente, que por sua importância para a formação moral, ética, intelectual e profissional dos cidadãos, ela tocará fundo nas consciências dos cidadãos brasileiros de boa vontade e, a trazê-los-á, à realidade do que se passa com nosso país. Servirá também, para que eles possam meditar sobre os fatores verdadeiros, suas causas e quem são os principais responsáveis, desse processo institucional confuso, injusto e inconstitucional do Brasil que, não só a educação mas, todas as atividades conjunturais e vitais para o bem-estar do povo, vem sendo afetado.. Servirá ainda, para capacitá-los a desenvolverem senso crítico responsável e, a se situarem no contexto desse processo político, descobrindo assim, o nível de sua participação e responsabilidade como cidadão, no âmbito dele. À luz de tudo isso , fica o nosso lembrete, àquelas pessoas, grupos e/ou organizações, que ainda acham que com ódio, com inveja, com preconceito, com mentira, com ofensa, com crueldade e, com autossuficiência e soberba e que também, desrespeitam a Constituição Federal, desprezam a verdade, o amor ao próximo, os direitos dos cidadãos, a liberdade e a igualdade de cidadania, a justiça imparcial para todos, a fraternidade, a misericórdia, a paz social, o bem-comum, a soberania e a segurança nacionais, etc, que entendam de uma vez por todas que, procedendo assim, não construirão nada positivo e bom, para a nação, para povo e para o país. Os que assim agem, estão equivocados pois, com foco no Artigo 3º que dispõe sobre os Fundamentos da Nação Brasileira, que são perenes, todo e qualquer autoridade do país deveria ter registrado na CF, como meta de vida pública, em atenção aos recursos públicos, fidelidade e respeito ao povo que lhes escolheu e/ou nomeou e, aperfeiçoar o que seus antecessores deixou e sempre fazer melhor do que os outros fizeram, para o bem da população. O que está em jogo no Brasil, não é o interesse mesquinho ou vaidades de pessoas, grupos ou organizações de pessoas, nacionais ou internacionais, sejam elas de direita, de esquerda, de centro ou do raio que os partas. O que está em jogo no Brasil, é a nossa capacidade de entendermos que, O Plano de Governo e suas políticas Públicas que, devem ser implementados pelos Poderes Legislativos, Executivos e Judiciários Nacional, Distrital Federal, Estaduais e Municipais, são aqueles indicado pelos Artigos 3º e 4º da Constituição Federal do Brasil, dentre outros. Assim, é importante que esse Plano de Governo e sua Políticas Públicas, sejam proativos e responsavelmente, fiscalizados interna e externamente, pelos entes constitucionais indicados nos termos do Inciso X do Artigo 49; aos Artigos 70 a 75 e; ao §1º do Artigo 166 da Constituição Federal, dentre outros, para evitarmos desconformidades em sua execução, desperdícios de recursos e falta de qualidade e/ou de funcionalidade dos serviços públicos de interesse do povo. Isso porque, o aumento da corrupção é diretamente proporcional, a falta e/ou omissão da fiscalização e controle interna e externa públicas, em tempo hábil, por quem de direito, no âmbito institucional. Ela, a corrupção, se acentua ainda mais, se o ambiente judicial for de leniente, parcial e injusto. Nossa sugestão para minimizar tais desvios de condutas das instituições, é que as pessoas, se interessem mais em lerem, conhecerem e adotarem como Manuais Efetivos dos Cidadãos que são, as Constituições Federal e Estadual e, a Lei Orgânica de seu Município. Essa atitude, lhes permitirá entender realmente, os seus direitos e responsabilidades e, o que são as Instituições Públicas, para que existem, o que fazem e quais as suas responsabilidades para com a governabilidade, com o bem-estar, com a justiça imparcial e com a paz social do povo do país. Aos cidadãos, fica a sugestão para quando tiverem uma demanda, reclamação ou sugestão ao setor público e não conheçam os responsáveis, aprendam a recorrer a uma Ouvidoria Pública afim, registrem nela sua demanda e acompanhem através do protocolo criado, o andamento de sua demanda. Aos agentes públicos de todos os Poderes Constituídos, apelamos para que respeitem os interesses do povo, que é seu patrão, respeitem a Constituição e as leis em vigor e, adotem se não conhecem, o procedimento de bem aplicar pelo interesse dos cidadãos os recursos públicos de suas Políticas Públicas e, sejam construtivos e não, destrutivos das obras públicas, aperfeiçoando e melhorando o que encontrarem e, produzindo com conformidade, qualidade e excelente funcionalidade, as obras públicas e serviços públicos, de sua lavra. O povo agradecerá e saberá reconhecer sua contra-partida. Sucesso para todos e mãos à obra. São essas as nossas contribuições e sugestões. Sebastião Farias Um brasileiro nordestinamazônida

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    Josembergue 15/10/2019

    Infelizmente, é essa a realidade dos professores no Brasil.

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    Marluce 15/10/2019

    A única profissão que tira a bandidagem do mundo é o professor. Ao invés de ser valorizado é ridicularizado. A única tabela transparente é a do professor .Por que não aparece a tabela dos outros profissionais de outras secretarias? O magistério é pra receber o mesmo salário de magistrado.Mas tá longe. Meus parabéns professores pelo seu dia que Deus continue te dando força .

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