PEC da Blindagem: uma vitória de Pirro

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem

Fonte: Oliveiros Marques - Publicada em 20 de setembro de 2025 às 11:04

PEC da Blindagem: uma vitória de Pirro

Hugo Motta (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem. Tantos mortos e feridos políticos ficarão pelo meio do caminho, a começar por Hugo “do Épiro” Motta, que verá as aparentes vitórias desta semana se transformarem em grande derrota em pouco tempo.

Cheguei a imaginar que o comandante da Câmara tivesse, ao menos, articulado minimamente com os líderes do tapete azul do Congresso Nacional a tramitação dessa proposta. Mas, pelo que tudo indica, não foi isso que aconteceu.

A reação expressiva da sociedade, do meio jurídico e, em especial, de uma parcela representativa de senadores e senadoras sinaliza uma vida curta e turbulenta para o escudo protetor que deputados tentaram erguer em torno de si próprios e de presidentes de partidos. A disposição de senadores de diferentes matizes políticos e ideológicos em enterrar a proposta, sem sequer permitir seu retorno à Câmara, classificando-a como inaceitável e uma porta aberta para o crime organizado nas Casas Legislativas, é clara evidência disso.

A pergunta que muitos deputados devem estar se fazendo é: valeu a pena a aposta? É difícil imaginar que já não haja adversários explorando politicamente, em suas bases, os votos favoráveis à PEC com o objetivo de desconstruir suas imagens e preparar o terreno para as eleições do próximo ano. E em troca de quê? De nada.

Esta semana tive acesso ao estudo LATAM Pulse Brasil, da Atlas e Bloomberg, que apresenta dados mensais sobre a situação política, social e econômica de países da América Latina. Um dado em particular chamou minha atenção: a avaliação do presidente da Câmara. No quesito imagem de líderes políticos, 78% dos entrevistados consideram negativa a imagem de Hugo Motta, enquanto apenas 4% a veem de forma positiva. A desgraça em números.

Esse seria um problema a ser resolvido pelo deputado paraibano junto aos seus eleitores, mas não se restringe a ele. Reflete a percepção da população sobre o Poder Legislativo como um todo - e essa imagem negativa repercute diretamente sobre todos os que buscam a reeleição.

Ou a direção da Câmara consegue se livrar das amarras impostas pela pressão de setores mais extremistas, articulando pautas que dialoguem com a sociedade, ou o desfecho será um grande abraço de afogados, no qual apenas uma pequena parcela terá chance de se salvar em algum bote.

Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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PEC da Blindagem: uma vitória de Pirro

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem

Oliveiros Marques
Publicada em 20 de setembro de 2025 às 11:04
PEC da Blindagem: uma vitória de Pirro

Hugo Motta (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

Chega a ser juvenil o movimento patrocinado pelo presidente da Câmara dos Deputados de acelerar a votação da PEC da Blindagem. Tantos mortos e feridos políticos ficarão pelo meio do caminho, a começar por Hugo “do Épiro” Motta, que verá as aparentes vitórias desta semana se transformarem em grande derrota em pouco tempo.

Cheguei a imaginar que o comandante da Câmara tivesse, ao menos, articulado minimamente com os líderes do tapete azul do Congresso Nacional a tramitação dessa proposta. Mas, pelo que tudo indica, não foi isso que aconteceu.

A reação expressiva da sociedade, do meio jurídico e, em especial, de uma parcela representativa de senadores e senadoras sinaliza uma vida curta e turbulenta para o escudo protetor que deputados tentaram erguer em torno de si próprios e de presidentes de partidos. A disposição de senadores de diferentes matizes políticos e ideológicos em enterrar a proposta, sem sequer permitir seu retorno à Câmara, classificando-a como inaceitável e uma porta aberta para o crime organizado nas Casas Legislativas, é clara evidência disso.

A pergunta que muitos deputados devem estar se fazendo é: valeu a pena a aposta? É difícil imaginar que já não haja adversários explorando politicamente, em suas bases, os votos favoráveis à PEC com o objetivo de desconstruir suas imagens e preparar o terreno para as eleições do próximo ano. E em troca de quê? De nada.

Esta semana tive acesso ao estudo LATAM Pulse Brasil, da Atlas e Bloomberg, que apresenta dados mensais sobre a situação política, social e econômica de países da América Latina. Um dado em particular chamou minha atenção: a avaliação do presidente da Câmara. No quesito imagem de líderes políticos, 78% dos entrevistados consideram negativa a imagem de Hugo Motta, enquanto apenas 4% a veem de forma positiva. A desgraça em números.

Esse seria um problema a ser resolvido pelo deputado paraibano junto aos seus eleitores, mas não se restringe a ele. Reflete a percepção da população sobre o Poder Legislativo como um todo - e essa imagem negativa repercute diretamente sobre todos os que buscam a reeleição.

Ou a direção da Câmara consegue se livrar das amarras impostas pela pressão de setores mais extremistas, articulando pautas que dialoguem com a sociedade, ou o desfecho será um grande abraço de afogados, no qual apenas uma pequena parcela terá chance de se salvar em algum bote.

Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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