Quatro semanas sem poder falar do J**m* B*g*tt*l*

Uma esperança para o exercício do jornalismo veio do desembargador Alexandre Miguel, que analisou o recurso

Fonte: Bruna Bronoski/O Joio e o Trigo - Publicada em 22 de setembro de 2025 às 08:08

Quatro semanas sem poder falar do J**m* B*g*tt*l*

Senador Jaime Bagattoli (PL-RO) usou a justiça para censurar reportagem que denunciava seus negócios envolvendo venda de gado criado em área devastada na Amazônia (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Há pouco menos de um mês, na sexta-feira em que chegou a notícia — estamos sendo processados pelo irmão do senador da República Jaime Bagattoli (PL-RO), pecuarista que admitiu comprar gado de desmatadores da Amazônia —, a primeira coisa que me pesou os ânimos foi lembrar do peso político da autoria da ação. Naquela sexta-feira, 22 de setembro, nossa equipe não sextou. 

Leia também: Colapso climático: Justiça revoga liminar e autoriza publicação de reportagem sobre empresa de senador 

Foi minha “estreia” no Judiciário, um debute compartilhado por O Joio e O Trigo, ao ter nossa reportagem “Menos floresta, mais pasto: senador Jaime Bagattoli ameaça a Amazônia com dinheiro do mercado de capitais" citada num processo que pediu sua remoção imediata do ar. Não só, mas também a proibição da cobertura jornalística com o mesmo “conteúdo ofensivo” sobre o senador e o pagamento por danos morais e materiais, já que o Grupo Bagattoli afirma ter perdido contratos comerciais porque publicamos que a empresa compra gado de área desmatada ilegalmente.

Reitere-se: publicamos informações de dados públicos e uma longa entrevista do senador Jaime admitindo o fato. 

A partir da segunda-feira seguinte à notícia — é sempre bom ruminar os fatos —, encaramos o peso político da ação com um recurso fundamentado frente à decisão do juiz de primeira instância, que atendeu imediatamente ao pedido da família Bagattoli determinando a censura da reportagem. Foram 26 dias sem poder falar no nome de Jaime Bagattoli. Vinte e seis dias que, conforme indicaram os advogados do Joio na defesa, não poderão ser recuperados, e em que “o debate público terá sido tolhido de forma irreversível”.

Uma esperança para o exercício do jornalismo veio do desembargador Alexandre Miguel, que analisou o recurso: “A Constituição Federal de 1988 consagra a liberdade de manifestação do pensamento, de expressão e de informação como pilares essenciais do Estado Democrático de Direito.” Na decisão, ele ainda afirmou que a primeira determinação de remover a matéria jornalística e proibir “novas publicações” sobre o mesmo tema “parece colidir frontalmente com essa diretriz constitucional e jurisprudencial”. Na última quarta-feira, fomos autorizados a voltar a falar do senador e a devolver a reportagem ao espaço do debate público.

Vários colegas de profissão se solidarizaram entre a sexta-feira-caos e a quarta-alívio. Uma amiga jornalista que cobre o mesmo tema que eu lamentou que “processos em cima do jornalismo estão virando praxe”. Outro colega estrangeiro viu a notícia da censura e me escreveu: “Tremendo, Brasil se está llenando de SLAPPS”. Ele lembrou o termo em inglês para Ação Judicial Estratégica Contra a Participação Pública, em que indivíduos poderosos ou empresas tentam, pelas vias judiciais, impedir, restringir ou penalizar a participação pública e a crítica, como a de ativistas, organizações da sociedade civil e jornalistas. 

Os advogados do Joio também se valeram de outro termo em inglês, o “Chilling Effect”. Diante dos argumentos infundados da ação — de que dirigimos “ataques pessoais” ao senador, utilizamos de “má-fé e sensacionalismo” e que o acusamos de “lavagem de dinheiro” —, nossa defesa destacou o uso desta estratégia conhecida no Brasil como Efeito Inibidor, conceito dos anos 1950 que indica que poderíamos deixar de nos expressar publicamente por medo de transgredir alguma lei e, por consequência, sofrer ações como a que estamos enfrentando hoje.

Um recado que temos para o leitor do Joio e para toda a sociedade é que vamos nos defender de quaisquer ataques infundados e, não só na defesa, usar as armas que temos: a apuração rigorosa dos fatos, o cruzamento crítico de informações e o uso sistemático de dados públicos — que só são possíveis no Brasil porque pessoas e organizações não se deixaram inibir por medo de ataques judiciais.

A matéria está de volta, te convido a ler. Outro convite que tenho é que você defenda hoje o jornalismo independente, sem dívidas com indivíduos ou empresas “de peso político” e influentes, uma das bases da nossa tão frágil democracia. Não estar sob censura em 2025 é uma vitória da última semana. Hoje, segundou com muito poder político e corporativo para investigar.

Para saber mais acesse o site www.ojoioeotrigo.com.br 

Quatro semanas sem poder falar do J**m* B*g*tt*l*

Uma esperança para o exercício do jornalismo veio do desembargador Alexandre Miguel, que analisou o recurso

Bruna Bronoski/O Joio e o Trigo
Publicada em 22 de setembro de 2025 às 08:08
Quatro semanas sem poder falar do J**m* B*g*tt*l*

Senador Jaime Bagattoli (PL-RO) usou a justiça para censurar reportagem que denunciava seus negócios envolvendo venda de gado criado em área devastada na Amazônia (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Há pouco menos de um mês, na sexta-feira em que chegou a notícia — estamos sendo processados pelo irmão do senador da República Jaime Bagattoli (PL-RO), pecuarista que admitiu comprar gado de desmatadores da Amazônia —, a primeira coisa que me pesou os ânimos foi lembrar do peso político da autoria da ação. Naquela sexta-feira, 22 de setembro, nossa equipe não sextou. 

Leia também: Colapso climático: Justiça revoga liminar e autoriza publicação de reportagem sobre empresa de senador 

Foi minha “estreia” no Judiciário, um debute compartilhado por O Joio e O Trigo, ao ter nossa reportagem “Menos floresta, mais pasto: senador Jaime Bagattoli ameaça a Amazônia com dinheiro do mercado de capitais" citada num processo que pediu sua remoção imediata do ar. Não só, mas também a proibição da cobertura jornalística com o mesmo “conteúdo ofensivo” sobre o senador e o pagamento por danos morais e materiais, já que o Grupo Bagattoli afirma ter perdido contratos comerciais porque publicamos que a empresa compra gado de área desmatada ilegalmente.

Reitere-se: publicamos informações de dados públicos e uma longa entrevista do senador Jaime admitindo o fato. 

A partir da segunda-feira seguinte à notícia — é sempre bom ruminar os fatos —, encaramos o peso político da ação com um recurso fundamentado frente à decisão do juiz de primeira instância, que atendeu imediatamente ao pedido da família Bagattoli determinando a censura da reportagem. Foram 26 dias sem poder falar no nome de Jaime Bagattoli. Vinte e seis dias que, conforme indicaram os advogados do Joio na defesa, não poderão ser recuperados, e em que “o debate público terá sido tolhido de forma irreversível”.

Uma esperança para o exercício do jornalismo veio do desembargador Alexandre Miguel, que analisou o recurso: “A Constituição Federal de 1988 consagra a liberdade de manifestação do pensamento, de expressão e de informação como pilares essenciais do Estado Democrático de Direito.” Na decisão, ele ainda afirmou que a primeira determinação de remover a matéria jornalística e proibir “novas publicações” sobre o mesmo tema “parece colidir frontalmente com essa diretriz constitucional e jurisprudencial”. Na última quarta-feira, fomos autorizados a voltar a falar do senador e a devolver a reportagem ao espaço do debate público.

Vários colegas de profissão se solidarizaram entre a sexta-feira-caos e a quarta-alívio. Uma amiga jornalista que cobre o mesmo tema que eu lamentou que “processos em cima do jornalismo estão virando praxe”. Outro colega estrangeiro viu a notícia da censura e me escreveu: “Tremendo, Brasil se está llenando de SLAPPS”. Ele lembrou o termo em inglês para Ação Judicial Estratégica Contra a Participação Pública, em que indivíduos poderosos ou empresas tentam, pelas vias judiciais, impedir, restringir ou penalizar a participação pública e a crítica, como a de ativistas, organizações da sociedade civil e jornalistas. 

Os advogados do Joio também se valeram de outro termo em inglês, o “Chilling Effect”. Diante dos argumentos infundados da ação — de que dirigimos “ataques pessoais” ao senador, utilizamos de “má-fé e sensacionalismo” e que o acusamos de “lavagem de dinheiro” —, nossa defesa destacou o uso desta estratégia conhecida no Brasil como Efeito Inibidor, conceito dos anos 1950 que indica que poderíamos deixar de nos expressar publicamente por medo de transgredir alguma lei e, por consequência, sofrer ações como a que estamos enfrentando hoje.

Um recado que temos para o leitor do Joio e para toda a sociedade é que vamos nos defender de quaisquer ataques infundados e, não só na defesa, usar as armas que temos: a apuração rigorosa dos fatos, o cruzamento crítico de informações e o uso sistemático de dados públicos — que só são possíveis no Brasil porque pessoas e organizações não se deixaram inibir por medo de ataques judiciais.

A matéria está de volta, te convido a ler. Outro convite que tenho é que você defenda hoje o jornalismo independente, sem dívidas com indivíduos ou empresas “de peso político” e influentes, uma das bases da nossa tão frágil democracia. Não estar sob censura em 2025 é uma vitória da última semana. Hoje, segundou com muito poder político e corporativo para investigar.

Para saber mais acesse o site www.ojoioeotrigo.com.br 

Comentários

  • 1
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    wilkon neves botelho pinto 22/09/2025

    Se for bandido e apoiar as bandidagens por aí afora deve pagar com firmeza por esse motivo, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ...

  • 2
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    Leandro 22/09/2025

    Aquele que compra gado de área desmatada ilegalmente deve mesmo ser denunciado, exposto, para que outros país tenham acesso ao que ocorre aqui na Amazonia. Parabéns ao site pela coragem e por nao se vender para os bolsominions.

  • 3
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    Leonardo Mascarenhas 22/09/2025

    Acho que esse Bagattoli vai sentir o ca..te encostar em sua "retaguarda" nas próximas eleições. O povo, que se manifestou fortemente nas ruas em todo o país ontem, deixou claro que políticos "adquiridores" de votos junto a fazendeiros e empresários, precisarão fazer altos financiamentos para se reelegerem.

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