Rondônia é o estado mais devastado da Amazônia, aponta nova coletânea do IBGE

Publicada em 00/00/0000 às 21:45:00
Há menos de 30 anos, o estado só tinha 2% de áreas desmatadas. Incentivo governamental para migração está entre as causas da devastação.
Do G1, no Rio
Ao apresentar a sua nova coletânea de dez mapas temáticos da Amazônia Legal, o IBGE divulgou dados que mostram o estado de Rondônia, que, há menos de 30 anos tinha menos de dois por cento de sua área desmatatada, como o campeão da devastação na região. Hoje, Rondônia tem o maior percentual de destruição: 28, 5% em relação ao seu território.

O trabalho foi feito em parceria com o Ministério do Meio-Ambiente e o instituto acredita que os mapas vão permitir aos governos estaduais saber que destino dar aos recursos que recebem, além de fazer uma radiografia do problema. Os mapas trazem informações sobre mineração, pecuária, lavouras e desmatamento, entre outros. 
As principais causas do desmatamento na Amazônia e, mais especificamente em Rondônia, são o aumento da população, em função da migração estimulada pelo governo; o crescimento da indústria madeireira, aliado à ampliação do número de estradas e rodovias; e as queimadas, que são feitas para o avanço da pecuária e da agricultura.

"São dez mapas, dez formas de ver Amazônia", diz Guido Gelli, coordenador de geociências do IBGE. Os dados utilizados são de 2003, mas, em breve, segundo Gelli, haverá uma atualização com base em 2005. Para geógrafa Adma Hamam, "mesmo na Amazônia menos ocupada, há muitas diferenças". O que, segundo ela, resulta que "se a gente não conhece o nosso território, a gente acaba perdendo ele".

Amazônia Legal: 55% do território brasileiro
Diferentemente do que muitos acreditam, a Amazônia Legal não é formada pelos estados da região Norte. Ela 5 milhões de quilômetros quadrados e abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, parte do Maranhão e cinco municípios de Goiás. Ela representa 59% do território brasileiro, distribuído por 775 municípios, onde viviam em 2000, segundo o Censo Demográfico, 20,3 milhões de pessoas..

Os mapas estão divididos por temas: divisão política; rede urbano-regional; fronteira agrícola; logística do território; fronteiras agropecuária e mineral na vegetação natural; tipologia da ocupação territorial; diversidade sociocultural; estrutura agrária e das fronteiras pecuária e madeireira.

O mais importante dele é o Mapa Integrado dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos dos Estados da Amazônia Legal, que tem o objetivo de mostrar o planejamento territorial da região. O IBGE considera que a rede urbana da Amazônia está estruturada em seis grandes sistemas (Manaus, Belém, São Luís, Cuiabá e os eixos Goiânia-Brasília e Teresina-Timon). Esses centros urbanos oferecem serviços à população da Amazônia Legal. São importantes áreas de mercado dessas cidades.

Fronteira agrícola e desmatamento
Existe uma forte expansão da fronteira agrícola que sai do Mato Grosso e do leste do Pará em direção às áreas de mata do Pará. O desmatamento é grande nessa área. A frente de ocupação segue não só em direção ao sul e norte (BR-163), como também ao leste e oeste, que é o caso da chamada terra do meio, onde fica São Félix do Xingu, no Pará, o município mais atingido pelo desmatamento. Lá, o crescimento nas taxas de desmatamento avança significativamente.

Entre os estados, Rondônia é o que tem o maior percentual de área desmatada em relação ao território (28,5%). Até 1978, o percentual sequer chegava a 2%. As principais causas do desmatamento na Amazônia e, mais especificamente em Rondônia, são o aumento da população, em função da migração estimulada pelo governo; o crescimento da indústria madeireira, aliado à ampliação do número de estradas e rodovias; e as queimadas que são feitas para o desenvolvimento da pecuária e da agricultura

O vazio matogrossense
No mapa da logística, permite fazer cruzamento de várias redes que cortam o território amazônico. Estradas, redes de energia, o gasoduto de Urucu (no Amazonas), hidrovias, porto e aeroportos fazem parte da mesma base cartográfica. É possível observar claramente que Rondônia não tem conexão com o resto do sistema de transmissão de energia no país. O estado tem apenas pequenas centrais elétricas movidas a óleo diesel.

O mapa da fronteira agropecuária e mineral na vegetação natural mostra o avanço sobre as áreas de mata. A grande produção agrícola - lavouras de soja e milho, principalmente - está indo até as cidades Sinop e Sorriso, em Mato Grosso. Ao Norte dessas cidades, o que prevalece são as riziculturas (lavouras de arroz), mas o volume da produção é bem menor do que as de Sinop e Sorriso.


Quanto aos dados da pecuária, é possível saber que a Amazônia tem o maior crescimento vegetativo de rebanho bovino no mundo. Em 15 anos, de 1990 a 2005, o tamanho do rebanho dobrou.

Já Mato Grosso surpreende pelo grande vazio demográfico. O estado tem mais máquinas do que gente, um reflexo da troca da mão-de-obra pelo avanço tecnológico. No campo, a população rural do Mato Grosso é menor do que a do estado do Amazonas.

Terra dos nordestinos
Em relação à diversidade sociocultural, observa-se que, na parte oriental da Amazônia Legal, predominam os migrantes de origem nordestina. A conclusão é clara: existe uma Amazônia nordestina. Na Amazônia Meridional (Mato Grosso e Rondônia), há muitas pessoas vindas do Rio Grande do Sul e do Paraná. Já na Amazônia Ocidental (parte oeste da Amazônia Legal), os migrantes são da própria região.
Manaus é a cidade que recebeu o maior número de migrantes ao longo dos últimos cinco anos. Isso se deve à própria dimensão da cidade, que oferece mais oportunidades de emprego.

Quanto à estrutura agrária, a situação das terras é muito diferenciada. Em Mato Grosso, há grandes estabelecimentos rurais, enquanto no Maranhão os estabelecimentos são pequenos e em grande número.

O coordenador do trabalho, Guido Gelli, explicou que a coletânea de mapas serve para estabelecer políticas públicas para a Amazônia Legal. Para ele, é possível saber quais são as áreas frágeis e onde se pode fazer trabalhos de recuperação. “Há como saber, por exemplo, onde a ação pública pode desenvolver pecuária ou não”, diz, acrescentando:“Os mapas retratam diversos setores. Com essa rica base de dados é possível, por exemplo, transformar o arco do desmatamento no arco do reflorestamento”.